🔴 QUER INVESTIR NAS MELHORES CRIPTOMOEDAS DO MOMENTO? SAIBA COMO CLICANDO AQUI

O Brasil em que eu acredito, da Nova Economia

As ações das empresas norte-americanas de tecnologia já não estão muito esticadas?

22 de junho de 2020
10:27 - atualizado às 12:10
tecnologia ações
Imagem: Shutterstock

"I was the Walrus
But now I'm John
And so dear friends
You just have to carry on
The dream is over”
God — John Lennon

“As ações das empresas norte-americanas de tecnologia já não estão muito esticadas?” 

Tenho escutado essa pergunta com frequência desde que introduzimos papéis do segmento na Carteira Empiricus. A resposta, como não poderia deixar de ser, tem sido a mesma: “Sim, estão. Há uns cinco anos pelo menos. E só sobem”.

O que será que está por trás do fenômeno? Poderíamos explicar essa aparente dicotomia com algum argumento racional, além de simples acusações de que o mercado vive uma euforia, de que há exagero no apreçamento ou coisa assim? Em outras palavras, por que as big techs parecem sempre caras e ficam cada vez mais caras?

Leia Também

De imediato, há, sem dúvida, todo um aspecto quality que as poderia ligar à argumentação de Philip Fisher e Charlie Munger. São fortes geradoras de caixa, além de já possuírem uma posição de caixa enorme (uma coisa é o fluxo, outra é o estoque) e um balanço forte, tem marcas reconhecidas, notáveis barreiras à entrada, managements competentes, etc.

Mas é só isso? Não existiria algum elemento fora do arcabouço de valuation tradicional associado a essas grandes empresas de tecnologia?

Entendo que sim. E acho que, nesse aspecto, Leibniz e Newton, os precursores do cálculo diferencial e integral, têm algo a nos oferecer além de Buffett e Graham. Não vamos transformar isso aqui num exercício de integrais, derivadas e limites. Apenas recuperemos a essência do que é uma curva exponencial.

Nela, o começo do eixo x implica um impacto pequeno de crescimento sobre o eixo y. Contudo, a partir de um determinado ponto, pequenos incrementos sobre as abcissas acarretam uma explosão nas coordenadas. No limite, quando a variável do eixo x aumenta muito, vamos para o infinito no eixo y.

Trazendo para nossa realidade, as grandes empresas de tecnologia são a representação canônica das organizações exponenciais. É somente a tecnologia que permite uma escala brutal, com custo marginal de expansão quase zero. Aqui, há uma forte tendência ao monopólio natural, a margens enormes e a uma dinâmica de “vencedor leva tudo”. Não à toa, você vê um grande mecanismo de busca, um único player dominando as redes sociais e outro caminhando para vencer o War do e-commerce global — a capa da Economist desta semana é especialmente emblemática. 

Você começa a usar o Google, que, por sua vez, mapeia os seus hábitos e facilita sua próxima busca. Ao perceber a sua atividade facilitada, você entra de novo no Google, que melhora ainda mais o conhecimento a seu respeito. O mecanismo vai se retroalimentando. As buscas e os anúncios vão, no tempo, convergindo para um match perfeito com suas preferências. Não há razão para usar outro mecanismo de busca.

As redes sociais, por sua vez, sofrem e se beneficiam, claro, das externalidades de rede. Só faz sentido haver uma rede social grande se todo mundo estiver lá. A tendência à concentração é da natureza do negócio. A natureza da coisa empurra ao monopólio, pois ninguém vai querer estar numa rede social de que poucos participam. E lá vai o Face dominar tudo, seja por ele mesmo, seja pelo Instagram.

Quais as consequências de um crescimento grande no tempo, com consolidação de mercado e baixo custo marginal de expansão?

Ora, se, para simplificar aqui o argumento, é basicamente impossível competir com a Amazon (porque ela é mais capitalizada, possui mais informação do cliente, domina a melhor logística, tem uma cadeia mais integrada, além, claro, de um gênio obstinado no comando do leme), ela tende a dominar o mercado. Conforme o tempo passa, ela tem mais mercado, mais informação do cliente, mais escala, mais tecnologia. Há uma aceleração da própria taxa de crescimento. Bingo! Chegamos na curva exponencial.

Qual a consequência de uma curva exponencial de lucros sobre os valuations?

Quanto mais o mercado percebe essa natureza exponencial da trajetória, maior precisará ser o múltiplo atual. 

De maneira simples, imagine que a assíntota (um número suficientemente grande) ocorra no ano 100, quando o eixo x (no caso, o tempo) está bem em seu ponto direito extremo. Pela construção de uma curva exponencial, o eixo y (no caso, o lucro) estará no infinito (o lucro converge para infinito conforme o tempo converge para o infinito). Se o mercado for minimamente eficiente e antecipar no ano 99 o lucro do ano 100, a relação Preço sobre Lucro do ano de 99 deverá ser muito alta. Isso vai acontecer porque o lucro projetado para o ano 100 será infinito. Logo, a relação Preço sobre Lucro projetada para o ano 100 vai convergir para zero (qualquer número dividido pelo infinito converge para zero). Assim você consegue explicar múltiplos de curto prazo bem altos para empresas de tecnologia e ainda assim comprá-las.

Em termos práticos, há duas soluções razoáveis para valuation. 

Você estica o horizonte temporal dos múltiplos para ao menos cinco anos à frente, sem abusar demais das premissas de crescimento e tenta enxergar aí atratividade dos múltiplos.

Você abandona a abordagem de múltiplos e vai para um modelo de fluxo de caixa descontado, em que basicamente supõe três cenários à frente, calibrando o grau de otimismo entre eles, supondo que a companhia vai abocanhar lá na frente um determinado nível de share de mercado.

Quando você sai de uma abordagem linear e vai para uma perspectiva exponencial, os múltiplos de curto prazo acabam funcionando como um mapa errado. Múltiplos baixos, muito possivelmente, significam uma companhia cujas projeções estão caindo no tempo, em vez de significarem atratividade no valuation. Ao mesmo tempo, relações elevadas podem significar uma trajetória de aceleração do crescimento à frente, com aquilo que parece caro sendo na verdade barato em alguns anos. 

A questão central é que o mundo atual não é da linearidade, das caminhadas bem-comportadas, de mercados livres e com vários players dividindo market share. Ao contrário, é justamente um ambiente de muita tecnologia, exponencialidade e “winner takes all” (o vencedor leva tudo).

Cada vez mais vai ser assim. Precisamos nos adaptar. A Nova Economia vai ganhar cada vez mais espaço nas carteiras dos investidores. Aquele Brasil velho de commodities, de bancos oligopolistas, das praças de alimentação lotadas nos self-services dos shoppings acabou. Feliz ou infelizmente, ninguém vai vir aqui comprar CSN, Usiminas e coisas parecidas. Esse sonho acabou e devemos seguir em frente. “You just have to carry on. The dream is over.”

A parte boa dessa história é que temos aqui empresas simplesmente fantásticas já inseridas nessa Nova Economia, com empreendedores competentes e tecnologia embarcada. A turma vai vir comprar Stone, Magalu, B3, BTG, B2W/LAME, XP e coisas parecidas. Nossas carteiras, cada vez mais, precisam caminhar nessa direção. O tempo da História só anda num único sentido.

Encerro com dois devaneios a respeito. 

O primeiro sobre XP: o desafio aqui é tornar-se cada vez mais tecnológica, exponencial e digital sem concorrer com seus próprios parceiros analógicos. A nova ferramenta de alocação, feita pelo mais do que competente Felipe Dexheimer, tem tudo para dar certo; e para competir de frente com as sugestões dos agentes autônomos. 

O segundo sobre Itaú: aqui também acho que a turma pode comprar. Porque é quase um win/win situation. Se banco grande não for muito afetado por fintech e conseguir imprimir um novo ciclo de crédito, vamos ganhar dinheiro pela atividade bancária tradicional. Se for o contrário e as fintechs dominarem, XP vai ficar cada vez mais relevante no balanço e isso vai ser levado para o preço, num movimento que, inclusive, já começou na semana passada. E o devaneio dos devaneios: Itaú vira minoritário da Stone, coloca a Rede pra dentro para ser tocada pela brilhante gestão da Stone (o André Street é um gênio!) e faz um movimento semelhante àquele da Porto Seguro. Melhor ter algo do líder do que muito do que não vale nada.

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas

19 de março de 2025 - 20:00

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?

17 de março de 2025 - 20:00

Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante

12 de março de 2025 - 19:58

Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump

10 de março de 2025 - 20:00

Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes

VISÃO 360

Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso

9 de março de 2025 - 7:50

O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º

5 de março de 2025 - 20:01

Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump

26 de fevereiro de 2025 - 20:00

Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável

19 de fevereiro de 2025 - 20:01

Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio

12 de fevereiro de 2025 - 20:00

Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808

10 de fevereiro de 2025 - 20:00

A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek

3 de fevereiro de 2025 - 20:01

Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?

29 de janeiro de 2025 - 20:31

Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente

18 de dezembro de 2024 - 20:00

Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal

11 de dezembro de 2024 - 15:00

Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”

4 de dezembro de 2024 - 20:00

Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou

27 de novembro de 2024 - 16:01

Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer

18 de novembro de 2024 - 20:00

Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2

7 de outubro de 2024 - 20:00

Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo

2 de outubro de 2024 - 14:40

A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano

30 de setembro de 2024 - 20:03

Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar