Ganhos exponenciais num futuro não tão distante
Estamos vivenciando hoje o grande salto tecnológico, capaz de criar negócios inimagináveis, ou de transformar brutalmente as companhias da velha economia em verdadeiras fortalezas

Por João Piccioni
O ano é 2049. Os céus estão acinzentados, enquanto os carros voadores o cruzam velozmente. No chão, as pessoas andam sem rumo e deprimidas, como se a vontade de viver fosse ínfima. As cidades, outrora símbolos da sociedade do futuro, agora têm zonas inteiramente bloqueadas devido à toxicidade do seu ar. Tudo isso em meio aos hologramas que se confundem com a realidade.
- Aposente-se aos 40 (ou o quanto antes): Não depender de um salário no fim do mês é o seu grito de liberdade. Aqui está o seu plano para dar Adeus ao seu chefe.
As visões de Isaac Asimov, Ridley Scott ou de qualquer outro mestre da ficção científica que se aventurou em pensar o futuro — normalmente sombrio — às vezes distorcem a linha tênue que sempre moveu os lampejos evolutivos da sociedade. Nesses mundos, as inovações tecnológicas não geram riqueza ou crescimento econômico, mas continuam evoluindo como se estivessem em um processo moto-contínuo independente da vontade humana.
A inoperância desse fluxo já foi tratado historicamente pela linha da Escola Austríaca do pensamento econômico. Entretanto, é sempre bom rememorar. Ludwig von Mises deixou claro em seu tratado do século passado: não existe inovação sem a ação humana, e vice-versa. Em outras palavras, é o capitalismo que estimula a busca por inovações e, sem ele, ainda estaríamos na Idade Média.
E onde quero chegar com isso?
Você já deve ter ouvido falar (bastante) sobre o fim do ciclo econômico e sobre uma possível (iminente?) crise do capitalismo. E, de certo, já deve ter colocado no seu portfólio alguns instrumentos que visam protegê-lo, como moedas fortes, ouro ou opções. O ponto é que, talvez, eles não sejam os certos (ou únicos). Principalmente no longo prazo.
Nos últimos 20 anos, o volume de inovações cresceu exponencialmente. Junto a elas, surgiram toda sorte de novos negócios, que, devido ao poder transformacional do capitalismo, criaram riquezas inestimáveis. Os exemplos são inúmeros: 30.000% de valorização da Netflix, 5.600% da Mastercard e 4.800% da Apple. O mais divertido, no entanto, é observar que a multiplicação de capital se deu em diversas áreas da economia, como, por exemplo, na indústria ou na saúde: já ouviu falar da Tractor Supply Company e de seus mais de 10.000% de valorização, ou ainda da Intuitive Surgical, com expressivos 9.155%? Obviamente que esses desempenhos não são uma exclusividade dos mercados internacionais: a brilhante WEG e os seus mais de 12.000% de valorização estão aí para provar.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Escute as feras
Felipe Miranda: Do excepcionalismo ao repúdio
Estamos vivenciando hoje o grande salto tecnológico, capaz de criar negócios inimagináveis, ou de transformar brutalmente as companhias da velha economia em verdadeiras fortalezas. Essa dinâmica, que de certa forma tem sido mais veloz do que o esperado, tem empurrado um pouco mais para a frente o fim do ciclo econômico, ao ponto de, talvez, até mitigá-lo: afinal de contas, qual empresa desse mundo competitivo em sã consciência deixaria de investir na implementação de novas tecnologias de agora em diante? Quais delas deixariam seus concorrentes livres para tomar sua participação de mercado?
Provavelmente, algumas escolherão esse caminho tortuoso, tomadas pela falta de visão de seus administradores ou pelo design ruim do seu produto. Haverá, sim, mais perdedoras do que vencedoras. Cabe a nós, investidores, a árdua tarefa de identificá-las ex ante — é certo que em alguns desses casos perderemos dinheiro.
Dentre as vencedoras, precisamos ser capazes de identificar os negócios promissores, com capacidade de se multiplicar por várias vezes. Encontrá-los antes de todos é uma tarefa ainda mais difícil, que beira o surreal. Nesses casos, por alguns instantes, é preciso mais fé do que ciência: seus preços em Bolsa quase nunca serão atrativos o suficiente para que investidores racionais coloquem os seus recursos escassos. Mas as chances que eles funcionem no longo prazo como o “hedge perfeito” para o seu portfólio existem, e é por isso que você deve investir neles uma pequena parte do seu portfólio.
E onde buscá-los?
É bem possível que encontremos apostas para multiplicar o capital aqui em nosso território. Na última década, cerca de 15 companhias brasileiras decuplicaram o seu valor. É um número respeitável quando se observa o tamanho da B3. Entretanto, a probabilidade de se encontrar a próxima Magazine Luiza (será que precisamos procurá-la mesmo?) diminui com o apetite voraz dos investidores locais.
Até pode parecer contrassenso, afinal, os preços das ações andam conforme a demanda por elas. Mas o adensamento do mercado acionário brasileiro advindo da forte redução das taxas de juros empurra o capital até para as ações daquelas companhias esquecidas, que não possuem negócios tão vibrantes assim. Em outras palavras, boa parte das ações já se valorizou bastante. E a ansiedade dos investidores aumenta à medida que as novatas não aparecem na Bolsa por preços razoáveis.
Por outro lado, as chances de você encontrar negócios exponenciais lá fora são muito maiores. Todo dia brotam dezenas de companhias com os mais variados modelos de negócio, com produtos diferenciados e em setores ainda nascentes, capazes de revolucionar mercados. Foi assim com o serviço de streaming, smartphones, varejo e muitos outros que viram na ascensão da internet o canal certo para desenvolver seus produtos.
Agora, os temas quentes do mercado internacional são a revolução que pode advir da implementação da tecnologia 5G e, ainda, pasmem, o segmento de cannabis, que aguarda com ansiedade a liberalização em nível federal nos Estados Unidos. Isso sem falar das plantas com sabor de carne e dos carros elétricos, que parecem ter ganhado um novo impulso com o avanço da Tesla sobre o mercado chinês.
Manter um pitadinha do seus recursos em cada um desses setores pode ser um bom hedge de longo prazo — além de excelentes investimentos — para a sua carteira. E parafraseando o Rodolfo, para não entrarmos no limbo da ficção científica, é preciso aprender rapidamente que investir é mais do que supor se algo é caro ou barato.
Mercados
Os mercados financeiros amanhecem relativamente tranquilos, amortecidos após os bons números da economia chinesa divulgados na última sexta-feira e, também, por conta das Bolsas americanas, fechadas devido ao feriado de Martin Luther King. Com isso, a liquidez deverá ser reduzida e a calmaria deve ditar o ritmo dos negócios.
Agora pela manhã, o dólar abre subindo 0,28%, enquanto o índice futuro do Ibovespa aponta para queda na abertura do pregão (-0,27%).
Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas
A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares
Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente
Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar
Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal
Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem
Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”
Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores
Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou
Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2
Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal
Tony Volpon: O improvável milagre do pouso suave americano
Powell vendeu ao mercado um belo sonho de um pouso suave perfeito. Temos que estar cientes que é isso que os mercados hoje precificam, sem muito espaço para errar.