Truxt reabre fundos para captação com foco em ações de “sobreviventes” na B3
Queda generalizada de ações abre oportunidade de compra, mas recuperação das bolsas nos EUA deve ocorrer primeiro, me disse José Tovar, CEO da gestora que possui R$ 12 bilhões em patrimônio
Ninguém em atividade no mercado financeiro jamais viu e muito menos podia prever um choque semelhante ao provocado pela pandemia do coronavírus. Mas com seus 35 anos de experiência (e algumas crises nas costas), o CEO da Truxt Investimentos, José Tovar, estava incomodado com a euforia dos investidores no fim do ano passado.
Foi quando a gestora que possui R$ 12 bilhões em patrimônio decidiu diminuir as posições em bolsa e aumentar as proteções em ativos como dólar e ouro.
A estratégia mais defensiva tem ajudado a Truxt a atravessar a crise relativamente bem. “Foi um pouco de sorte, mas também competência”, me disse Tovar, em uma entrevista por telefone.
Se o mercado parecia excessivamente otimista, após a queda generalizada das ações nas últimas semanas o gestor acredita que a balança agora começa a pender para o outro lado.
Foi para se aproveitar dessas distorções de preço no mercado que a Truxt decidiu reabrir dois de seus fundos para captação, de estratégias “long short” e “long bias”.
O primeiro, que ficou por anos fechado para novos investidores, tem como objetivo de carregar posições compradas e vendidas na bolsa, mas neutro em relação ao mercado. No ano, acumula alta de 2,20%, o equivalente a 217% do CDI – indicador de referência.
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“Na crise, aumentaram as oportunidades tanto de comprar os papéis que gostamos como de vender aqueles que não gostamos”, disse Tovar.
A Truxt também decidiu aceitar novos recursos na estratégia long bias, que mantém uma posição líquida na bolsa, mas não tem a obrigação de ficar sempre comprado como os fundos de ações tradicionais.
O fundo acumula uma queda de 8,36% e perde para o CDI no ano, mas foi bem melhor do que a maioria dos pares e também superou os 36,86% negativos do Ibovespa.
Foco nos sobreviventes
Ainda que faça parte do grupo dos que consideram a queda das ações uma oportunidade, Tovar avalia que a retomada dos preços vai acontecer em velocidades distintas.
Não por acaso, a Truxt foi às compras principalmente na bolsa americana. “Acreditamos que a recuperação nos Estados Unidos vai ser mais rápida”, disse Tovar.
Na carteira, a gestora comprou papéis de empresas que vem se aproveitando do distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus para ganhar mercado, como Amazon e Google.
“No Brasil, enxergamos algumas companhias como oportunidade, mas não de curtíssimo prazo” – José Tovar, Truxt Investimentos
Tovar disse que o foco da gestora está na seleção dos “sobreviventes” da crise — empresas com boa gestão, baixo endividamento e posição dominante em seus mercados.
Entre as ações que se encaixam nas características dos sobreviventes, ele mencionou Natura, Vale, B3, Magazine Luiza, Lojas Renner e Mercado Livre. “Mas todo mundo vai sofrer nos próximos meses.”
Risco de “bondade excessiva”
Do ponto de vista macroeconômico, a crise do coronavírus pegou o país no meio do processo de recuperação fiscal após a “barbeiragem” do governo Dilma, nas palavras de Tovar.
“Devemos ter um déficit primário de 5% neste ano, o que é altíssimo mesmo se comparamos com o governo Dilma, que já foi horroroso. Mas os motivos desta vez são necessários e corretos.”
O gestor defende o aumento dos gastos públicos para dar suporte à economia e atender a população mais carente. Mas apontou a necessidade de que a ajuda não se torne uma despesa recorrente. “O risco de bondade excessiva pode tornar o custo fiscal preocupante.”
A estimativa da Truxt é de uma contração de 4% da economia brasileira neste ano, ainda que Tovar considere o número um chute neste momento diante de tanta incerteza.
Comprado em ouro e dólar
Como proteção da carteira, a Truxt mantém posições em ouro e dólar como defesa para o caso de as medidas de apoio à economia debilitada pelo coronavírus descambem para um descontrole fiscal.
Apesar da preocupação, Tovar defendeu a atuação do Banco Central na crise, incluindo a atuação no mercado de câmbio e a decisão de reduzir em 0,50 ponto a taxa básica de juros (Selic).
“Baixar mais os juros não vai aumentar a demanda na economia. Existe uma pressão gigante de baixa, principalmente na turma aplicada em juros”, afirmou, em uma alfinetada nos gestores de fundos que estão posicionados no mercado com apostas de cortes mais agressivos na Selic.
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