Nos 100 mil, por favor: Ibovespa dispara 3% e dólar cai a R$ 5,54 com expectativa sobre Biden sem ‘onda azul’
Bolsas americanas têm mais uma sessão de ganhos elevados, puxando índice local. Fed mantém taxas de juros paradas, vendo riscos consideráveis à economia e dizendo que poderá comprar ativos para estimular atividade
O Ibovespa entrou no elevador, onde estavam as bolsas americanas, e aproveitou para dizer que queria voltar ao andar dos 100 mil pontos.
E chegou.
Por quanto tempo ele vai ficar por lá, isso é outra história.
O fato é que só isto já demonstraria que os ativos de risco tiveram mais um dia amplamente positivo nos mercados financeiros globais, apesar do cenário enevoado das eleições americanas.
Mas não foi tudo, já que o dólar também se manteve em um ritmo muito fraco e pegou o elevador para andares um pouco mais baixos — ainda que ele esteja lá em cima.
Em meio à incerteza da disputa e sem sinais de mudança da política monetária do Federal Reserve em direção a juros maiores, a moeda caiu para próximo de R$ 5,50 em outra forte baixa e aliviou um pouco mais a curva de juros futuros.
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No centro das atenções de investidores, a política impera. A apuração das eleições americanas caminha para o seu terceiro dia, sem resultados sobre o vencedor. O cenário que se tornou cada vez mais provável é o de uma vitória democrata, embora por margens menores do que se antecipavam nas pesquisas eleitorais.
Até o momento, Joe Biden tem 264 votos no colégio eleitoral, enquanto o republicano Donald Trump tem 214, segundo a projeção da Associated Press. Para se tornar o novo ocupante da Casa Branca, é preciso o número mínimo de 270 delegados.
Neste momento, há apurações em andamento na Georgia, na Pensilvânia e na Nevada — Estado no qual vitória de Biden o levará a atingir a quantidade necessária de votos do colégio.
Em meio a este cenário nebuloso, os investidores não dão sinais de apreensão e as bolsas globais marcaram novo rali, sustentadas pela leitura de que um democrata na presidência poderá trazer um maior pacote de estímulos fiscais à combalida economia dos Estados Unidos.
"Pode ter mais estímulo no governo democrata do que no republicano", disse hoje o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, durante apresentação em evento organizado pelo Instituto Líderes do Amanhã.
Apesar de eventual vitória de Biden fortalecer a visão de "mais dinheiro na praça", o que anima as bolsas que há tanto esperam um pacote de estímulos fiscais, é uma boa notícia que o Partido Democrata não conquistará as duas casas legislativas do Congresso americano.
A Câmara dos Deputados e o Senado devem ficar divididos entre democratas e republicanos, outro fator que favorece o bom humor dos agentes financeiros mais uma vez.
Um desenho de Legislativo repartido torna bem menores as chances de projetos intervencionistas por parte dos democratas (como aumento de impostos corporativos e regulamentação do setor de tecnologia).
Estes fatores foram, basicamente, os principais condutores da sessão dos mercados hoje. Mas, como se não bastasse, também teve reunião do Fed.
O banco central americano sinalizou novamente juros baixos por um longo período e disse que poderá continuar com a expansão do seu balanço patrimonial e comprar ativos, a fim de estimular a atividade.
E, no fim do dia, os principais índices acionários americanos precificaram de novo mais estímulos, menos chance de intervenção econômica e possíveis mais medidas do Fed, terminando a sessão com ganhos de no mínimo 1,95%.
O Ibovespa pegou carona nesse bom humor e o elevou a níveis próprios: disparou 2,95%, para 100.750 pontos, voltando ao importante patamar que havia deixado com a sangria dos mercados na semana passada, e se engajando na busca dos 101 mil.
"A possibilidade do controle misto das casas tem gerado uma expectativa positiva quanto à chance de controle de medidas mais drásticas", diz Igor Cavaca, analista de investimentos da Warren.
Segundo Cavaca, a perspectiva de luta judicial, levantada por Trump, é sem dúvida um fator de risco para o pleito, mas ele ressalva: "De modo geral, a expectativa dos resultados não é de um movimento muito diferente do resultado que ocorrer nos próximos dias."
Os maiores destaques de ações no índice local foram os papéis da Ultrapar e de aéreas, que sofreram grandíssimas perdas em 2020 por causa da pandemia de coronavírus.
Top 5
As ações da Ultrapar foram a maior alta percentual após a divulgação dos números do terceiro trimestre e o "upgrade" do Credit Suisse — o banco elevou a recomendação para a ação.
Os papéis têm potencial de valorização depois que operaram abaixo da média do mercado nas últimas semanas, de acordo com analistas do Credit.
Os papéis muito descontados de aéreas também ficaram entre os maiores ganhos hoje, com Azul PN (AZUL4) e Gol PN (GOLL4) sendo a terceira e quarta maior alta percentual do índice. No ano, as ações de Azul e Gol acumulam perdas de 56% e 52%, respectivamente.
Os papéis de concessionárias de rodovias, como EcoRodovias ON (ECOR3), além de transportes urbanos e aeroportos, como CCR ON (CCRO3), são outros subiram forte — as duas ações estão bastante descontadas, com perdas de cerca de 30% no ano. O setor foi ajudado pelo bom balanço apresentado pela EcoRodovias na noite de ontem.
Veja as maiores altas do Ibovespa hoje:
CÓDIGO | EMPRESA | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
UGPA3 | Ultrapar ON | 19,75 | 15,09% |
CSAN3 | Cosan ON | 73,55 | 10,12% |
GOLL4 | Gol PN | 17,44 | 9,89% |
AZUL4 | Azul PN | 25,60 | 9,50% |
CCRO3 | CCR ON | 12,34 | 8,82% |
Veja também as maiores quedas:
CÓDIGO | EMPRESA | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CSNA3 | CSN ON | 20,98 | -2,15% |
COGN3 | Cogna ON | 4,39 | -1,79% |
SUZB3 | Suzano ON | 51,30 | -0,64% |
KLBN11 | Klabin units | 23,96 | -0,50% |
IRBR3 | IRB ON | 6,24 | 0,16% |
Bolsas americanas terminam dia em alta forte
Os principais índices acionários de Nova York tiveram mais uma sessão de alta vigorosa, exibindo ganhos próximos a 2%.
O S&P 500 fechou o dia subindo 1,95%, mesmo caso do Dow Jones. Enquanto isso, o índice de ações do setor de tecnologia, Nasdaq, avançou 2,6%.
Os investidores continuam a monitorar de perto o andamento das eleições americanas. Biden é visto como alguém mais disposto a um pacote de ajuda à economia mais gordo, enquanto a confirmação de divisão do Legislativo entre democratas e republicanos significa que os azuis não terão caminho livre para avançar com projetos de intervenção na economia americana.
No cenário macroeconômico dos EUA, mais cedo o Departamento do Trabalho americano divulgou que o número de pedidos de auxílio-desemprego teve queda de 7 mil pedidos na semana, indo a 751 mil. No entanto, o dado veio acima da expectativa de analistas do Wall Street Journal.
O Fed, na verdade, é quem foi a grande atração da "economia real" hoje.
A instituição manteve a taxa de juros básica parada na faixa entre 0%e 0,25%. Além disso, o banco central não vê, atualmente, a necessidade de alta de juros até 2023.
“A atividade econômica e o emprego continuaram se recuperando, mas permanecem bem abaixo dos níveis do início do ano”, diagnostica o Fed, em comunicado.
A pandemia tem causado "enormes dificuldades humanas e econômicas", segundo os integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (o FOMC, na sigla em inglês).
A autoridade monetária ressaltou que persegue os objetivos de máximo nível de emprego e a inflação média de 2%.
O comunicado do Fed novamente disse que a instituição continuará a aumentar seu balanço patrimonial de US$ 7 trilhões para "ajudar a promover condições financeiras acomodatícias" — ou seja, o banco poderá realizar ainda compras de ativos em um cenário de aumentos de casos da covid-19.
Ainda no cenário macroeconômico dos EUA, mais cedo o Departamento do Trabalho americano divulgou que o número de pedidos de auxílio-desemprego teve queda de 7 mil pedidos na semana, indo a 751 mil.
Com a piora do quadro da pandemia do coronavírus na Europa, o Banco da Inglaterra anunciou mais estímulos nesta manhã e também acelerou o seu programa de compra de títulos públicos para US$ 195 bilhões, em meio ao coronavírus e lockdown no Reino Unido.
Dólar e juros voltam a cair
O dólar experimentou mais um dia de fraqueza global, como apontado pelo Dollar Index, índice que compara a moeda a divisas fortes como euro, libra e iene e cai 0,9%.
Frente ao real, a moeda americana teve uma queda ainda mais forte, de 1,91%, a R$ 5,5459. Na mínima, o dólar tombou 2,11% para R$ 5,5344 .
A leitura de agentes financeiros é que uma eventual vitória de Biden representará menos protecionismo do que a de Trump, diminuindo os riscos de estender uma guerra comercial contra a China — o que ajudou o dólar nos últimos anos ao disparar incerteza nos mercados.
Os juros futuros, por sua vez, continuaram o movimento de descompressão de taxas e fecharam em quedas, com movimentos mais intensos de baixa nos vértices mais longos da curva — como contratos para janeiro de 2023 e 2025, que seguiram mais de perto o ritmo de tombo do dólar.
Além disso, os leilões do Tesouro Nacional ocorreram sem percalços hoje, com o movimento de baixa se fortalecendo após as vendas de LFTs (Tesouro Selic, título pós-fixado), NTN-F (Notas do Tesouro Nacional série F, título pré-fixado) e LTNs (Tesouro Prefixado) — a maioria dos títulos foi comprada apesar da situação fiscal delicada do país.
- Janeiro/2021: de 1,937% para 1,938%
- Janeiro/2022: de 3,46% para 3,45%
- Janeiro/2023: de 5,06% para 5,03%
- Janeiro/2025: de 6,75% para 6,66%
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