Ibovespa cai 3% e dólar sobe a R$ 5,43 com cautela pré-feriado e dados fracos
Último pregão do mês é marcado por uma correção, depois de três dias de alta da bolsa; Ibovespa caminha para um avanço de quase 10% em abril
A bolsa brasileira opera em queda nesta quinta-feira (30), em reação a dados econômicos que dimensionam a crise do coronavírus, balanços corporativos ruins e a cautela típica de vésperas de feriado.
Por volta das 16:30, o Ibovespa recua 3%, aos 80.713,03 pontos. Na sessão anterior, o principal índice acionário da B3 fechou no patamar dos 83 mil pontos. No mesmo horário, o dólar à vista tinha ganho de 1,5%, cotado a R$ 5,43. Segundo Solange Srour, economista-chefe da ARX Investimentos, o dólar, assim como a ponta longa dos juros futuros, pode estar reagindo também à fala do ministro da Economia Paulo Guedes, de que o Banco Central poderá emitir moeda e comprar a dívida interna como medidas contra a crise.
Nos Estados Unidos o movimento também é de perdas, mesmo após o Federal Reserve (Fed) anunciar a expansão do programa de crédito, após manter a taxa de juro estável na véspera. O índice Dow Jones cai 1,29%, S&P cede 1,22% e Nasdaq recua 0,77%.
Na Europa, o índice pan-europeu Stoxx 600 cai 1,6%, refletindo, entre outros dados, a queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro no primeiro trimestre, segundo dados preliminares da agência oficial de estatísticas da União Europeia, a Eurostat.
No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o desemprego subiu para 12,2% no primeiro trimestre de 2020. Embora ruins, os dados ainda não captaram os efeitos do isolamento social imposto pela pandemia, segundo o instituto.
O país tem 78.162 casos confirmados de novo coronavírus, de acordo com o Ministério da Saúde - mas com subnotificação. São 5,4 mil pessoas mortas pela covid-19 no país, sendo 2,2 mil no Estado de São Paulo.
A prefeitura da cidade de São Paulo indicou hoje que deve prorrogar a quarentena após o dia 10 de maio e que vai adotar restrições mais rígidas para impedir o avanço do coronavírus no município. O isolamento segue padrões diferentes no País.
A despeito dos dados ruins e da incerteza quanto ao isolamento, o diretor de investimentos do Andbank Brasil, Rodrigo Otávio Marques, diz que a queda da bolsa nesta quinta-feira é uma mera correção. "Voltamos para o nível pré-demissão do [então ministro da Justiça, Sergio] Moro", disse ele.
A saída no último dia 24 do ex-juiz da Lava Jato e um plano econômico lançado pela ala militar levantou temores no mercado de que a agenda do ministro Paulo Guedes seria deixada de lado. Nas horas seguintes ao pronunciamento de Moro, a bolsa registrou perdas de 9%.
Mas no início desta semana o presidente Jair Bolsonaro sinalizou para Guedes, o que contribuiu para as altas do Ibovespa nos dias seguintes. No mês, índice caminha hoje para um avanço de quase 9%, depois de derreter 29% em março. "Hoje temos um ajuste técnico, com BCs dando sinais de política monetária expansionista", diz Marques.
Para o diretor de investimentos, o foco para maio deve ser a quantidade de empresas que vão continuar a entrar em dificuldades por conta da extensão do isolamento. "É muito provável que tenhamos um respiro, com queda de volatilidade, aguardando novas notícias nas duas primeiras semanas do mês", diz.
Balanços
A crise do coronavírus bateu em ao menos um "bancão": o Bradesco. A instituição reportou uma queda de 39,8% no lucro do primeiro trimestre, diante de uma provisão para lidar com um esperado aumento da inadimplência. As ações da empresa estão entre as cinco maiores perdas do pregão desta quinta-feira.
Outro destaque do dia é a Multiplan, a primeira empresa de shoppings a divulgar os resultados do trimestre. Mas os efeitos do isolamento para a companhia não ficaram claros à primeira vista.
A Multiplan cortou custos, reverteu remuneração baseada em ações (voltada para executivos) e registrou um evento não recorrente. Resultado: crescimento de 93% no lucro líquido, que atingiu R$ 177,7 milhões no trimestre. Ainda assim, o papel da empresa é a segunda maior queda hoje na bolsa, atrás apenas da Smiles.
Maiores baixas do Ibovespa
- Smiles (SMLS3): −10,34%
- Multiplan (MULT3): −7,11%
- Bradesco (BBDC4): −6,98%
- Cyrela (CYRE3): −6,73%
- Iguatemi (IGTA3): −6,48%
Maiores altas do Ibovespa
- Klabin (KLBN11): +1,77%
- Suzano (SUZB3): +1,37%
- Marfrig (MRFG3): +0,8%
- Totvs (TOTS3): -0,29%
- Magazine Luiza (MGLU3): -0,61%
Juros futuros
As taxas de juros dos contratos de depósitos interbancários têm desempenho misto na sessão de hoje. Os contratos de vencimento mais curto operam estáveis ou em leve queda, enquanto os juros intermediários e longos sobem, acompanhando a alta do dólar.
Segundo Srour, da ARX Investimentos, além da realização pré-feriado, o mercado também pode estar refletindo a fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, que disse que o Banco Central pode emitir moeda em meio à crise e, eventualmente, comprar a dívida interna.
"Essa fala do Guedes dizendo que BC pode monetizar dívida acaba levando a curva longa a abrir e dólar a subir", disse Srour.
- Janeiro/2021: estável a 2,805%;
- Janeiro/2022: de 3,66% para 3,62%;
- Janeiro/2023: de 4,77% para 4,79%;
- Janeiro/2025: de 6,47% para 6,49%;
- Janeiro/2027: de 7,38% para 7,42%.