Ibovespa cai acompanhando índice Dow Jones e cautela local
Abaixo da expectativa, índice de confiança do consumidor norte-americano azeda o humor em Wall Street; cautela local acentua movimento
O Ibovespa opera em queda nesta terça-feira acompanhando o recuo do índice Dow Jones. A bolsa brasileira até abriu em alta hoje, mais uma vez na esteira da persistente melhora do apetite por risco nos principais mercados de ações pelo mundo, mas o movimento não se sustentou.
Os sinais de que os Estados Unidos e a China estariam dispostos a cumprir os termos da primeira fase do acordo comercial fechado no início do ano animaram os investidores pela manhã. Com isso, as bolsas de valores fecharam quase todas no azul na Ásia e passaram a maior parte do tempo em alta na Europa antes de virarem no fim da sessão.
Em Wall Street, os principais índices de ações dos EUA passaram a cair depois da divulgação de dados abaixo da expectativa sobre a confiança dos consumidores norte-americanos.
O Nasdaq e o S&P-500 aos poucos recuperam terreno, mas o Dow Jones é especialmente impactado pela notícia de que a ExxonMobil deixará de compor o índice a partir da semana que vem.
Por aqui, a cautela dos investidores com o cenário local prevalece, acentuando o movimento na B3. Por volta das 16h40, o Ibovespa operava em queda de 0,29%, aos 102.001 pontos.
Enquanto o desempenho de bluechips como Petrobras e Vale deixa a desejar, os papéis da Klabin e da Suzano caem acompanhando a depreciação do dólar, uma vez que ambos haviam registrado forte alta em sessões recentes na esteira da forte apreciação da moeda norte-americana.
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O setor de varejo, por sua vez, é impulsionado pelo bom desempenho das ações da Marisa em reação ao balanço do segundo trimestre.
Já as ações ON e PN da Eletrobras atravessam a segunda sessão seguida de ganhos elevados com a notícia de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, teria planos de incluir oficialmente a empresa na lista de privatizações.
Incerteza sobre pacote econômico limita apetite por risco
Ao longo da sessão de hoje, porém, pesa sobre o ânimo dos investidores a notícia sobre o adiamento do anúncio de um aguardado pacote de medidas econômicas e sociais prometido pelo governo.
Na semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o programa seria anunciado hoje. Ontem, no entanto, o governo teria desistido do anúncio do pacotão.
Guedes vinha chamando o programa de 'Big Bang', mas, segundo informações do jornal O Globo, a elaboração do conjunto de propostas não foi concluída a tempo e as medidas devem ser divulgadas separadamente.
Segundo o Estadão, a divulgação foi adiada por um impasse quanto ao valor do benefício do Renda Brasil, que deve substituir o auxílio emergencial e expandir o Bolsa Família. Segundo a publicação, o presidente Jair Bolsonaro não aceitaria um valor menor do que R$ 300, como propunha Guedes.
Com o mercado preocupado com a situação das contas públicas, os agentes financeiros estão atentos aos desdobramentos do programa.
A principal dúvida entre os investidores é se o ministro Paulo Guedes vai conseguir atender às demandas sociais sem furar o teto de gastos e comprometer ainda mais a já complicada situação fiscal brasileira.
Apesar do adiamento do anúncio de um programa mais abrangente, um de seus itens – a reformulação do Minha Casa, Minha Vida – foi oficializado hoje. Sob o nome de Casa Verde Amarela, o programa habitacional foi lançado por meio de medida provisória com uma política de juros ainda mais baixos que a de seu antecessor.
IPCA-15 aponta para juro real negativo
No campo dos indicadores econômicos, o IPCA-15 desacelerou para 0,23% em agosto na leitura mensal, de 0,30% em julho. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula avanço de 2,28%.
“Considerando a taxa Selic a 2% ao ano, a taxa de juros real de -0,28%”, adverte André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora.
Entre outros aspectos, prossegue ele, tal leitura sugere que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) não deve cortar mais a Selic.
Dólar e juro
Depois de passar boa parte da sessão em alta, o dólar passou a cair com força a partir do início da tarde acompanhando a tendência externa de desvalorização da moeda norte-americana em meio à retomada do apetite por risco lá fora.
O movimento acabou acentuado por uma realização de lucros no mercado de câmbio depois de o real ter atingido recentemente os níveis mais baixos desde o fim de maio, observaram analistas.
Tais fatores relegaram ao segundo plano a perspectiva de estabilidade da Selic e a incerteza política.
Por volta das 16h40, a moeda norte-americana caía 1,13%, cotada a R$ 5,5287.
Já os contratos de juros futuros passaram a sessão inteira em alta, ainda que o movimento tenha perdido força no decorrer da sessão, refletindo o cenário político nebuloso e as perspectivas fiscais para o Brasil.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,740% para 2,750%;
- Janeiro/2023: de 3,880% para 3,930%;
- Janeiro/2025: de 5,710% para 5,880%;
- Janeiro/2027: de 6,730% para 6,790%.
Bolsa caindo à espera do pacote fiscal que nunca chega? Vale a pena manter ações na carteira, mas não qualquer uma
As ações brasileiras estão negociando por múltiplos que não víamos há anos. Isso significa que elas estão baratas, e qualquer anúncio de corte de gastos minimamente satisfatório, que reduza um pouco os riscos, os juros e o dólar, deveria fazer a bolsa engatar um forte rali de fim de ano.
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