Caos nos mercados, semana 2: Ibovespa desaba 13% e dólar dispara a R$ 5,05 com tensão crescente no mundo
A tensão ligada ao surto de coronavírus e a cautela com o novo corte surpresa de juros nos EUA derrubou o Ibovespa e as bolsas globais; no câmbio, o dólar rompeu os R$ 5,00 pela primeira vez
Um circuit breaker — o mecanismo que interrompe as negociações na bolsa durante um forte movimento de baixa — é um evento incomum. Afinal, em condições normais, os mercados acionários não entram numa espiral negativa. O Ibovespa pode ter um dia ruim e cair muito, mas é quase uma aberração ver o índice desabar mais de 10%.
Infelizmente, não estamos em condições normais, dado o surto global de coronavírus. Desde a semana passada, a bolsa brasileira precisou apertar o botão do pânico cinco vezes — a última delas logo na abertura do pregão desta segunda-feira (16). E foi por um triz que o sexto circuit breaker não foi acionado hoje.
Indo aos números: ao fim da sessão, o Ibovespa desabou 13,92%, aos 71.168,05 pontos — uma nova mínima de encerramento em 2020. Agora, o índice acumula perdas de mais de 30% apenas em março; no ano, a baixa já supera os 38%.
Logo no início da sessão, ficou evidente que teríamos mais um longo dia pela frente: em poucos minutos, o Ibovespa superou os 10% de queda, acionando o circuit breaker. E, passados os 30 minutos de pausa, o índice piorou ainda mais, chegando a 14,3% de recuo — caso a baixa atingisse os 15%, teríamos uma segunda parada, desta vez de uma hora.
Apenas como base de comparação: durante a grande crise financeira de 2008, o circuit breaker foi acionado seis vezes na bolsa brasileira.
A situação nos mercados acionários globais não foi muito melhor: os índices da Europa caíram mais de 5% e, nos Estados Unidos, o Dow Jones (-12,93%), o S&P 500 (-11,98%) e o Nasdaq (-12,32%) tiveram perdas massivas.
Leia Também
Toda essa forte aversão ao risco segue sendo ditada pelo avanço do coronavírus pelo mundo. A situação na Europa é cada vez mais grave — Itália e Espanha estão em quarentena total, e a França está praticamente toda fechada.
Do outro lado do oceano, os Estados Unidos veem um aumento cada vez maior no número de contaminados — por lá, há enorme incerteza quanto à capacidade de o sistema de saúde lidar com um surto em grandes proporções, o que aumenta a sensação de pânico.
No câmbio, o dólar à vista disparou e bateu mais um recorde: a moeda americana rompeu a barreira dos R$ 5,00 e fechou cotada a R$ 5,0523 (+4,90%). Desde o começo do ano, a divisa já acumula ganhos de 26,15%.
No mundo, já são mais de 7 mil mortos e cerca de 180 mil infectados. E, pela primeira vez, o número de casos fora da China superou o total de ocorrências no país asiático, conforme revelam dados compilados pela universidade John Hopkins:
Fed queima a largada
O humor nos mercados está bastante ruim desde a noite de domingo (15), quando o Federal Reserve (Fed) voltou a cortar os juros do país de maneira extraordinária, desta vez em um ponto: agora, as taxas estão entre 0% e 0,25% ao ano.
- Eu gravei um vídeo para comentar essa ação drástica do Fed — e o efeito negativo que ela desencadeou no mercado. Veja abaixo:
A ideia do Fed era dar estímulo extra à economia americana, blindando-a dos impactos do surto de coronavírus. No entanto, a medida drástica foi interpretada como um sinal de que a situação nos Estados Unidos está muito pior do que o imaginado.
Assim, o efeito foi o contrário: a aversão ao risco acabou subindo e os investidores ficaram ainda mais tensos, temendo que a situação vista na Europa seja vista em breve também nos Estados Unidos.
No meio da tarde, a notícia de que o Canadá fechou suas fronteiras para a entrada de cidadãos estrangeiros contribuiu para trazer uma dose extra de cautela às negociações. Em sequência, o anúncio de que a França entrará num estado de isolamento quase completo, muito próximo do visto na Itália e na Espanha, contribuiu para mexer ainda mais com o sentimento do mercado.
Cautela no Brasil
Por aqui, a escalada nos atritos entre governo e Congresso também contribui para trazer pessimismo aos investidores. No domingo, apesar da preocupação com o coronavírus, foram vistas diversas manifestações populares em defesa da administração Bolsonaro — protestos que contaram com o apoio e presença do presidente.
Tanto o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, quanto do Senado, Davi Alcolumbre, manifestaram-se publicamente contra esses protestos e mostraram que o ambiente em Brasília está cada vez mais deteriorado.
E, nesse cenário, o mercado mostra-se cada vez mais pessimista quanto aos prognósticos para a economia doméstica e para a continuidade da agenda de reformas — além, é claro, da preocupação crescente quanto à saúde pública no país.
Dólar dispara, juros curtos caem
No mercado de câmbio, o dia foi de intensa pressão sobre o dólar à vista: a moeda americana terminou em forte alta de 4,90%, a R$ 5,0523 — a divisa nunca tinha fechado uma sessão acima de R$ 5,00.
As turbulências vistas no exterior e no Brasil mexeram diretamente com a cotação da moeda americana, mas a incerteza em relação ao futuro da taxa Selic também foi determinante para estressar as negociações da divisa. Com o corte agressivo de juros nos EUA, há quem aposte que o Copom deve seguir caminho semelhante.
E juros mais baixos, naturalmente, se traduzem em pressão sobre o dólar à vista, uma vez que o diferencial em relação às taxas dos EUA permaneceria estreito — o que afasta investidores que buscam rentabilidade fácil.
O comportamento das curvas curtas de juros mostrou que o mercado realmente aposta num cenário de redução da Selic, ao menos no curto prazo. Os DIs com vencimentos mais próximos tiveram forte baixa, enquanto os mais longos mostraram oscilações menos intensas, dada a incerteza ligada a horizontes maiores de tempo.
Veja abaixo como ficaram as curvas de juros nesta segunda-feira:
- Janeiro/2021: de 4,26% para 3,82%;
- Janeiro/2022: de 5,31% para 4,91%;
- Janeiro/2023: de 6,14% para 5,96%;
- Janeiro/2025: de 7,17% para 7,10%.
Instabilidade no petróleo
No mercado de commodities, o dia foi de desvalorização expressiva do petróleo: o Brent caiu 11,20% e o WTI recuou 9,55%, ambos abaixo da faixa de US$ 30 o barril. No exterior, há relatos de que a Saudi Aramco irá ampliar a produção da commodity, dando continuidade à guerra de preços travada entre o governo saudita e a Rússia.
Nesse cenário, as ações da Petrobras foram diretamente afetadas: as ONs (PETR3) desabaram 17,21%, enquanto as PNs (PETR4) fecharam em forte queda de 15%%.
Top 5
Nenhuma ação do Ibovespa aparece no campo positivo nesta segunda-feira. Sendo assim, veja quais eram as cinco maiores quedas do índice por volta de 15h50:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
AZUL4 | Azul PN | 15,60 | -36,87% |
CVCB3 | CVC ON | 10,40 | -32,25% |
SMLS3 | Smiles ON | 17,95 | -28,20% |
GOLL4 | Gol PN | 8,04 | -28,02% |
YDUQ3 | Yduqs ON | 25,74 | -25,17% |
Inter (INBR32) projeta Ibovespa a 143.200 mil pontos em 2025 e revela os setores que devem puxar a bolsa no ano que vem
Mesmo com índice pressionado por riscos econômicos e valuations baixos, o banco estima que o lucro por ação da bolsa deve crescer 18%
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
Regulação do mercado de carbono avança no Brasil, mas deixa de lado um dos setores que mais emite gases estufa no país
Projeto de Lei agora só precisa da sanção presidencial para começar a valer; entenda como vai funcionar
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
Rali do Trump Trade acabou? Bitcoin (BTC) se estabiliza, mas analistas apontam eventos-chave para maior criptomoeda do mundo chegar aos US$ 200 mil
Mercado de criptomoedas se aproxima de uma encruzilhada: rumo ao topo ou a resultados medianos? Governo Trump pode ter a chave para o desfecho.
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Seu Dinheiro abre carteira de 17 ações que já rendeu 203% do Ibovespa e 295% do CDI desde a criação; confira
Portfólio faz parte da série Palavra do Estrategista e foi montado pelo CIO da Empiricus, Felipe Miranda
No G20 Social, Lula defende que governos rompam “dissonância” entre as vozes do mercado e das ruas e pede a países ricos que financiem preservação ambiental
Comentários de Lula foram feitos no encerramento do G20 Social, derivação do evento criada pelo governo brasileiro e que antecede reunião de cúpula