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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Leve recuperação

Ibovespa pega carona no salto do petróleo e fecha em alta, mas segue abaixo dos 70 mil pontos

Após um início de sessão bastante ruim, o Ibovespa ganhou força e fechou em alta, impulsionado pela forte alta do petróleo. O dólar à vista caiu ao nível de R$ 5,10

Victor Aguiar
Victor Aguiar
19 de março de 2020
18:04
Selo Mercados FECHAMENTO Ibovespa dólar
Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock

Logo após a abertura do pregão desta quinta-feira (19), parecia que teríamos mais um dia daqueles na bolsa brasileira. O Ibovespa começou a sessão em baixa e, em questão de minutos, chegou a cair mais de 7%, aproximando-se dos 60 mil pontos. Eu, aqui da minha casa, já comecei a escrever algumas linhas sobre mais um circuit breaker.

Pois, veja só: ao fim do dia, o Ibovespa marcava 68.331,80 pontos, em alta de 2,15%. Um ganho pouco expressivo perto das perdas volumosas dos últimos dias, com certeza. Mas, perto do caos que se desenhava durante a manhã, o desempenho de hoje do Ibovespa parece um rali estrondoso.

Sendo assim, cabem duas perguntas: o que fez a bolsa brasileira abrir o dia com o humor tão pesado? O que aconteceu para acalmar os ânimos dos investidores?

Bem, antes de respondermos essas questões, é preciso dar um panorama dos mercados globais nesta quinta-feira. Em linhas gerais, o surto de coronavírus continua como principal fator de influência para as negociações no mundo — e a aversão ao risco ainda é soberana.

Dado o rápido avanço do coronavírus pelo mundo e as medidas de isolamento adotadas por diversos países, muitos analistas já consideram inevitável um forte impacto na economia global em 2020.

Mas, considerando as fortes baixas nos mercados acionários globais nos últimos dias, alguns investidores aproveitaram para aumentar a posição em bolsa lá fora — afinal, depois de toda a correção, muitas ações ficaram com níveis de preço bastante atrativos.

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Tanto é que, durante a manhã, as bolsas da Europa e os índices acionários dos Estados Unidos já mostravam um certo viés positivo. O Ibovespa, por outro lado, ia na contramão, com os dois pés no campo negativo.

E por que a bolsa brasileira não conseguia acompanhar esse movimento global de alívio? A resposta está aqui dentro — mais precisamente, em Brasília.

  • Eu gravei um vídeo comentando esse comportamento dissonante do Ibovespa na primeira metade do pregão. Veja abaixo:

Turbulência doméstica

Apesar do tom menos negativo dos mercados mundiais nesta quinta-feira, o noticiário doméstico apareceu como fator de instabilidade para os ativos locais. Por aqui, o clima cada vez mais deteriorado em Brasília contribuiu para pressionar a bolsa e elevar a aversão ao risco.

Por mais que o governo tenha anunciado diversas medidas de apoio à economia, especialmente às famílias e empresas mais vulneráveis, há a nítida impressão de que o presidente Jair Bolsonaro e o restante da classe política estão em pé de guerra.

Os incentivos por parte de Bolsonaro às manifestações do último domingo (15), quando já havia a recomendação para que as pessoas evitassem aglomerações, causou enorme mal estar em Brasília. E, com o avanço do coronavírus pelo país, também começam a aparecer focos de insatisfação com a conduta do presidente entre a população.

Na terça (17) e na quarta-feira (18), foram realizados 'panelaços' em diversas cidades brasileiras, em protesto contra Bolsonaro. E, dado o clima tenso no front político, o mercado fica cada vez mais receoso quanto à condução da economia e à continuidade das reformas.

E, na noite de ontem, um novo foco doméstico de tensão emergiu: o atrito diplomático entre Brasil e China após o deputado Eduardo Bolsonaro atribuir o surto de coronavírus à omissão do governo chinês — declarações que foram prontamente rebatidas pelo embaixador do país asiático e geraram uma nova leva de reações contrárias ao governo.

Assim, a tensão local se sobrepunha ao alívio externo. Esse quadro só mudou com uma notícia vinda dos Estados Unidos e que gerou uma forte reação no mercado de commodities.

Recuperação do petróleo

No início da tarde, o Departamento de Energia dos EUA anunciou a compra de 30 milhões de barris de petróleo, de modo a ampliar seus estoques neste período de incertezas por causa do surto de coronavírus. A decisão, obviamente, implica num aumento súbito da demanda pela commodity — o que provocou um salto nos preços.

Logo após a revelação da compra, a cotação do petróleo passou a subir forte. Ao fim da sessão, o WTI avaçava 24,39%, enquanto o Brent tinha ganho de 14,43% — ambos, no entanto, continuam abaixo da linha dos US$ 30 por barril.

De qualquer maneira, o salto da commodity foi suficiente para embalar as ações da Petrobras: os papéis ON (PETR3) fecharam em forte alta de 12,67%, enquanto os PNs (PETR4) avançaram 8,15% — desempenhos que deram impulso ao Ibovespa e se sobrepuseram às preocupações com o cenário político.

Novo corte

Por fim, os investidores ainda repercutim hoje o novo corte na taxa Selic, de 0,5 ponto, para 3,75% ao ano. A decisão do Copom gerou controvérsia no mercado — alguns analistas gostaram da postura do BC, enquanto outros viam a necessidade de reduções mais bruscas.

A própria autoridade monetária se mostrou bastante cautelosa, dizendo ver o nível atual da Selic como adequado, mas sem se fechar à possibilidade de novos cortes, caso necessário — e, de fato, há quem aposte em mais baixas nas próximas reuniões.

Fato é que, ao cortar a Selic em 0,5 ponto, o Copom acompanhou o movimento global de alívio monetário, mas não na mesma magnitude que o Federal Reserve, que reduziu as taxas em 1,5 ponto ao longo de março. Assim, o diferencial de juros entre os países está ligeiramente maior do que no mês passado, o que ajuda a tirar pressão do câmbio.

Como resultado, o dólar à vista passou o dia no campo negativo, terminando a sessão em queda de 1,80%, a R$ 5,1023. Além do fator Selic, também exerceu influência sobre a moeda americana a promoção de novos leilões e atuações por parte do BC no mercado de câmbio.

No mercado de juros futuros, o dia foi de forte volatilidade. As curvas mais curtas abriram em alta firme, mas fecharam em baixa; as mais longas reduziram os ganhos ao longo da sessão, mas ainda terminaram com oscilações positivas. Veja abaixo o comportamento dos principais DIs:

  • Janeiro/2021: de 3,99% para 3,93%;
  • Janeiro/2022: de 5,81% para 5,77%;
  • Janeiro/2023: de 7,03% para 7,04%;
  • Janeiro/2025: de 8,02% para 8,07%.

Altas e baixas

Além das ações da Petrobras, destaque também para os papéis das companhias aéreas na ponta positiva do Ibovespa: Azul PN (AZUL4) disparou 17,20% e Gol PN (GOLL4) avançou 12,32%, aproveitando o tom de maior calmaria e reagindo às iniciativas anunciadas pelo governo para ajudar o setor em meio à queda na demanda por voos:

CÓDIGONOME PREÇO (R$)VARIAÇÃO
JBSS3JBS ON20,00+18,69%
RAIL3Rumo ON18,00+17,49%
MULT3Multiplan ON19,98+16,16%
AZUL3Azul PN11,97+15,65%
LREN3Lojas Renner ON36,80+15,00%

Confira também as maiores baixas do índice:

CÓDIGONOME PREÇO (R$)VARIAÇÃO
SMLS3Smiles ON9,02-12,43%
ELET3Eletrobras ON17,40-10,86%
ELET6Eletrobras PNB19,41-9,13%
BBSE3BB Seguridade ON24,47-8,86%
CIEL3Cielo ON4,65-8,64%

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