Bolsa cai e dólar reduz queda apesar de sinalização de que Fed só vai mexer no juro com inflação acima de 2%
Ibovespa fechou perto das mínimas da sessão acompanhando deterioração dos negócios em Wall Street na reta final do pregão
A ‘Super Quarta’ dos bancos centrais manteve os investidores em compasso de espera até que os novos rumos da política monetária no Brasil e nos Estados Unidos ficassem mais claros. E quando os primeiros sinais vieram à tona, os investidores não gostaram muito do que viram. Analistas consideraram o comunicado do Fed um pouco mais ‘hawkish’ que o esperado e descontaram nos ativos de risco.
Em anúncio realizado no meio da tarde desta quarta-feira, o Federal Reserve Bank (Fed, o banco central norte-americano) manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em vigor nos Estados Unidos na faixa entre 0% e 0,25% ao ano. A manutenção da taxa de juro próxima de zero era dada como certa por analistas.
No comunicado divulgado junto com a decisão, o Fed confirmou que pretende tolerar uma taxa de inflação acima de 2% ano por 'algum tempo' até que se chegue, na média, a este nível num prazo mais extenso. Em vez de 'algum tempo', porém, analistas esperavam a sinalização de que a tolerância à inflação se daria 'de maneira sustentável'.
Questão semântica
Suscetível à miríade de minúcias linguísticas que envolve esse tipo de evento, o Ibovespa primeiro deixou de oscilar em leve queda para testar uma alta discreta, enquanto o dólar acentuou ainda mais a queda em relação ao real, principalmente depois do início da entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell.
O movimento, entretanto, não se sustentou, a bolsa perdeu o nível de suporte de 100 mil pontos acompanhando um enfraquecimento dos negócios em Nova York e fechou em queda de 0,62%, perto das mínimas da sessão, aos 99.675,68 pontos.
Em Nova York, o índice Dow Jones até preservou uma leve alta (0,13%), apesar de ter devolvido a maior parte dos ganhos. O S&P-500, por sua vez, não resistiu e acabou caindo 0,46%. Já o Nasdaq, assim como o Ibovespa, ensaiou uma reação inicial, mas pouco depois voltou a cair até encerrar em queda de 1,25%.
Leia Também
Fed prevê taxa de juro próxima de zero até o fim de 2023
No comunicado, o Fed manifestou também a intenção de manter a política acomodatícia até que os objetivos de máximo emprego com estabilidade de preços no longo prazo sejam alcançados e sinalizou que o aumento das compras de títulos pela autoridade monetária seguirá pelo menos no nível atual.
Já o gráfico de pontos (dot plot) revela que há unanimidade entre os dirigentes do Fed em torno da manutenção da taxa de juro nos níveis atuais somente para 2020 e 2021. A partir de 2022, alguns dirigentes já observam taxas superiores às atuais, mas a posição majoritária é de manutenção até 2023.
Na entrevista coletiva concedida logo depois da divulgação do comunicado, Jerome Powell afirmou que, desde o segundo trimestre, a atividade econômica tem mostrado recuperação do impacto provocado pela quarentena. "Já começamos a ver melhor no investimento das empresas", prosseguiu o presidente do banco central norte-americano.
Mais perguntas que respostas
O que prevaleceu, entretanto, foi a sensação entre os analistas de que o Fed deixou mais dúvidas do que respostas sobre a mesa.
Esta foi a primeira reunião do Fed depois do anúncio feito no fim de agosto por Powell de que a entidade alteraria alguns parâmetros para a condução da política monetária norte-americana.
O que interessava aos investidores eram justamente possíveis mudanças na linguagem do comunicado da autoridade monetária, que oficializou as mudanças anunciadas por Powell no simpósio de banqueiros centrais de Jackson Hole.
Na ocasião, Powell antecipou que o Fed pretende buscar uma inflação anual média de 2% no horizonte relevante para a política monetária em vez de prender-se a uma meta fixa.
Na prática, isto que dizer que o Fed será mais tolerante com a inflação. Se os preços se mantiverem abaixo de 2% por algum tempo, a autoridade monetária permitirá que eles permaneçam acima deste nível por algum tempo até que, na média, a meta estipulada seja finalmente atingida.
Além disso, as projeções econômicas do Fed passaram a incluir a partir de hoje o ano de 2023. As estimativas baseadas neste novo sistema de meta de inflação média devem auxiliar os investidores a entenderem melhor se o banco central norte-americano considera que o modelo será mais eficaz em fazer com que os preços retornem à trajetória esperada.
Decisão do Copom é esperada para daqui a pouco
Daqui a pouco, às 18h, será conhecida a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BCB). A maioria dos analistas acredita que o Copom interromperá o ciclo de cortes na taxa Selic. A taxa básica de juro no Brasil encontra-se atualmente no piso histórico de 2% ao ano.
A atenção dos investidores estará especialmente voltada para o comunicado divulgado junto com a decisão de juro em busca de sinais referentes aos próximos passos da política monetária brasileira em um momento de juro real negativo.
Como esta será a primeira reunião do Copom depois da apresentação da proposta do governo para o orçamento do ano que vem, da prorrogação do auxílio emergencial e da alta acentuada nos preços de alguns alimentos e insumos, os investidores aguardam comentários do Copom sobre o impacto desses acontecimentos sobre a trajetória da Selic.
IGP-10 sinaliza 'sinuca de bico'
Enquanto aguardavam, os investidores reagiram aos dados do IGP-10 em setembro. O indicador de inflação medido pela FGV registrou aceleração de 4,34% nos preços em setembro sobre agosto e a 13,98% em 12 meses.
"Os dados do IGP-10 confirmam mais uma vez o descontrole dos preços no atacado, que seguem em alta com a pressão vinda dos produtos de origem agropecuária", afirmou André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora.
"Da forma que estão os dados, nos parece que estamos numa espécie de sinuca de bico", prossegue ele. "Se a economia de fato crescer, muito desta inflação irá vazar do atacado para o varejo, o que cria preocupações com a dinâmica dos juros."
Frigoríficos passam por realização
Entre os papéis negociados na B3, chamou a atenção a realização de lucros no setor de frigoríficos.
Além disso, receberam atenção especial hoje os da Raia Drogasil, da Petrobras, da Minerva Foods e da Unidas.
Os acionistas da Raia Drogasil aprovaram por unanimidade na terça-feira o desdobramento de ações de 1 para 5.
Enquanto isso, a britânica Salic - maior acionista da Minerva Foods - aumentou sua participação na empresa brasileira de 25,46% para 33,83%, segundo comunicado divulgado ontem ao mercado.
Já a Petrobras anunciou a troca de US$ 4 bilhões em Global Notes por títulos registrados na SEC, o início da fase vinculante para a venda do Bloco Tayrona, na Colômbia, e a retomada de negociações com empresas que estavam impedidas por investigação.
A Unidas, por sua vez, aprovou o pagamento de juros sobre capital próprio no valor de R$ 0,0925 por ação.
Confira a seguir as maiores altas e as maiores baixas do dia entre os componentes do Ibovespa.
MAIORES ALTAS
- CVC ON (CVCB3) +4,12%
- Azul PN (AZUL4) +3,78%
- Gol PN (GOLL4) +3,40%
- Energisa Unit (ENGI11) +2,61%
- Yduqs ON (YDUQ3) +2,36%
MAIORES BAIXAS
- Minerva ON (BEEF3) -3,61%
- JBS ON (JBSS3) -3,15%
- Usiminas PN (USIM5) -3,12%
- CCR ON (CCRO3) -2,96%
- Suzano ON (SUZB3) -2,68%
Dólar e juro
O dólar operou em queda desde a abertura e acentuou o movimento depois do anúncio do Fed, mas o recuo foi perdendo vigor em meio à coletiva de Powell.
Ao término do pregão, a moeda norte-americana caía 0,96%, cotada a R$ 5,2384.
Já os contratos de juros futuros fecharam em alta firme com os investidores antecipando-se ao leilão de títulos pré-fixados agendado para amanhã.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,870% para 2,890%;
- Janeiro/2023: de 4,150% para 4,250%;
- Janeiro/2025: de 6,020% para 6,120%;
- Janeiro/2027: de 7,020% para 7,120%.
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Na lista dos melhores ativos: a estratégia ganha-ganha desta empresa fora do radar que pode trazer boa valorização para as ações
Neste momento, o papel negocia por apenas 4x valor da firma/Ebitda esperado para 2025, o que abre um bom espaço para reprecificação quando o humor voltar a melhorar
“A bandeira amarela ficou laranja”: Balanço do Banco do Brasil (BBAS3) faz ações caírem mais de 2% na bolsa hoje; entenda o motivo
Os analistas destacaram que o aumento das provisões chamou a atenção, ainda que os resultados tenham sido majoritariamente positivos
A surpresa de um dividendo bilionário: ações da Marfrig (MRFG3) chegam a saltar 8% após lucro acompanhado de distribuição farta ao acionista. Vale a compra?
Os papéis lideram a ponta positiva do Ibovespa nesta quinta-feira (14), mas tem bancão cauteloso com o desempenho financeiro da companhia; entenda os motivos
Menin diz que resultado do grupo MRV no 3T24 deve ser comemorado, mas ações liberam baixas do Ibovespa. Por que MRVE3 cai após o balanço?
Os ativos já chegaram a recuar mais de 7% na manhã desta quinta-feira (14); entenda os motivos e saiba o que fazer com os papéis agora
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
A B3 vai abrir nos dias da Proclamação da República e da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios durante os feriados
Os feriados nacionais de novembro são as primeiras folgas em cinco meses que caem em dias úteis. O Seu Dinheiro foi atrás do que abre e fecha durante as comemorações
A China presa no “Hotel California”: o que Xi Jinping precisa fazer para tirar o país da armadilha — e como fica a bolsa até lá
Em carta aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a gestora Kinea diz o que esperar da segunda maior economia do mundo
Rodolfo Amstalden: Abrindo a janela de Druckenmiller para deixar o sol entrar
Neste exato momento, enxergo a fresta de sol nascente para o próximo grande bull market no Brasil, intimamente correlacionado com os ciclos eleitorais
O IRB Re ainda vale a pena? Ações IRBR3 surgem entre as maiores quedas do Ibovespa após balanço, mas tem bancão dizendo que o melhor está por vir
Apesar do desempenho acima do esperado entre julho e setembro, os papéis da resseguradora inverteram o sinal positivo da abertura e passaram a operar no vermelho
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Arte de milionária: primeira pintura feita por robô humanoide é vendida por mais de US$ 1 milhão
A obra em homenagem ao matemático Alan Turing tem valor próximo ao do quadro “Navio Negreiro”, de Cândido Portinari, que foi leiloado em 2012 por US$ 1,14 milhão e é considerado um dos mais caros entre artistas brasileiros até então
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Compre China na baixa: a recomendação controversa de um dos principais especialistas na segunda maior economia do mundo
A frustração do mercado com o pacote trilionário da semana passada abre uma janela e oportunidade para o investidor que sabe esperar, segundo a Gavekal Research
Em ritmo de festa: Ibovespa começa semana à espera da prévia do PIB; Wall Street amanhece em alta
Bolsas internacionais operam em alta e dão o tom dos mercados nesta segunda-feira; investidores nacionais calibram expectativas sobre um possível rali do Ibovespa
Ações da Gerdau (GGBR4) e de sua controladora (GOAU4) saltam até 13% e lideram altas do Ibovespa na semana; Alpargatas (ALPA4) cai 9,5% após balanço
O balanço mais forte que o esperado da Gerdau provocou uma forte alta nos papéis, enquanto a Alpargatas recuou mesmo após reportar resultados positivos no trimestre