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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Cautela elevada

Demissão de Mandetta e desemprego nos EUA: Ibovespa cai 1,29% em dia tumultuado

As tensões no cenário político doméstico, somadas à cautela no front da economia americana, fizeram o Ibovespa cair pelo segundo dia e praticamente zerar os ganhos da semana; o dólar fechou em alta e foi a R$ 5,25

Victor Aguiar
Victor Aguiar
16 de abril de 2020
18:12 - atualizado às 18:15
Selo Mercados FECHAMENTO Ibovespa dólar
Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock

Os agentes financeiros terminaram a sessão desta quinta-feira (16) de cabeça cheia: tanto no Brasil quanto lá fora, a crise do coronavírus trouxe desdobramentos importantes e que influenciam diretamente o rumo dos mercados — e, nesse cenário tumultuado, o Ibovespa caiu mais de 2% e engatou a segunda perda consecutiva.

Logo depois da abertura, o índice brasileiro chegou a subir 1,69%, aos 80.167,22 pontos. Mas, conforme os pontos de estresse foram crescendo no horizonte, o Ibovespa foi perdendo força — e, ao fim do dia, marcava 77.811,85 pontos, em baixa de 1,29%.

O mercado de câmbio também foi pressionado: o dólar à vista subiu pelo quarto dia seguido, terminando a sessão em alta de 0,29%, a R$ 5,2567 — na semana, a moeda americana acumula ganhos de 3,37%.

  • Eu gravei um vídeo para explicar a dinâmica por trás dos mercados nesta quinta-feira. Veja abaixo:

O Ibovespa acabou descolando das bolsas americanas hoje: por lá, o Dow Jones (+0,14%), o S&P 500 (+0,58%) e o Nasdaq (+1,66%) passaram o dia flutuando ao redor do zero a zero, mas conseguiram terminar o pregão no campo positivo.

Essa diferença se deve, naturalmente, às tensões no cenário político doméstico, com a demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta — algo que já era esperado, mas que desencadeia uma série de dúvidas quanto ao futuro da estratégia de combate ao coronavírus e a uma possível deterioração adicional nas relações entre governo e Congresso.

No entanto, esse não foi o único fator de tensão: nos Estados Unidos, dados preocupantes do mercado de trabalho voltaram a gerar preocupação nos investidores — e o tom hesitante das bolsas americanas deixa clara a cautela assumida ao longo do dia.

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Ruptura turbulenta

A demissão de Mandetta ocorre após uma série de desentendimentos entre ele e o presidente Jair Bolsonaro quanto à estratégia de combate ao coronavírus — enquanto o ex-ministro defendia o isolamento social, o presidente queria o relaxamento nas regras de restrição.

No fim da tarde, foi confirmada a nomeação do oncologista Nelson Teich para o comando da pasta. Analistas e operadores comentaram que, em publicações passadas, o médico mostrou-se favorável ao isolamento total, na mesma linha de Mandetta — o que, a priori, leva a crer que a troca não implicará em grandes mudanças na diretriz do ministério.

Mas, independente das posições do novo titular da Saúde, fato é que a demissão de Mandetta tende a deteriorar o cenário em Brasília: o ex-ministro tinha o apoio de grande parte do Congresso e dos governadores e prefeitos.

E mesmo que o novo ministro venha a mudar de ideia, mostrando-se favorável à visão do presidente, os planos do governo podem esbarrar em outro entrave: ontem, o STF decidiu que os estados têm autonomia para regulamentar as medidas de isolamento, o que traz ainda mais incerteza ao imbróglio.

Incertezas no exterior

Lá fora, o dia foi de hesitação por uma combinação de fatores. Por um lado, os agentes financeiros permaneceram cautelosos quanto aos impactos econômicos da pandemia: na semana encerrada em 11 de abril, foram registrados 5,2 milhões de novos pedidos de seguro-desemprego nos EUA, superando as expectativas dos analistas.

Mas, por outro, os investidores mostraram-se animados com a possibilidade de reabertura gradual das economias da Europa e dos EUA, em meio aos sinais de que o surto de coronavírus começa a entrar numa fase de declínio nessas regiões.

O comportamento errático também foi visto no petróleo: o Brent teve leve alta de 0,47%, enquanto o WTI terminou o dia estável e, assim, permaneceu abaixo da linha de US$ 20 o barril. As ações da Petrobras tiveram quedas firmes: os papéis PN (PETR4) recuaram 4,03%, enquanto os ONs (PETR3) fecharam em baixa de 2,95%.

Juros curtos sobem

Considerando todos esses fatores de instabilidade, as curvas de juros com vencimentos mais curtos fecharam em leve alta — um ajuste que, no entanto, não reduz a percepção de que a Selic continuará sendo cortada, de modo a estimular a economia doméstica. Os DIs longos, por outro lado, encerraram o dia em queda:

  • Janeiro/2021: de 3,04% para 3,06%;
  • Janeiro/2022: de 3,70% para 3,67%;
  • Janeiro/2023: de 4,72% para 4,60%;
  • Janeiro/2025: de 6,28% para 6,09%;
  • Janeiro/2027: de 7,12% para 6,95%.

Top 5

Veja abaixo as cinco ações de melhor desempenho do Ibovespa nesta quinta-feira:

CÓDIGONOMEPREÇO (R$)VARIAÇÃO
MGLU3Magazine Luiza ON45,57+3,92%
LAME4Lojas Americanas PN22,37+3,90%
CRFB3Carrefour Brasil ON20,53+3,06%
BTOW3B2W ON64,69+3,01%
TOTS3Totvs ON58,08+2,98%

Confira também as maiores baixas do índice:

CÓDIGONOMEPREÇO (R$)VARIAÇÃO
ECOR3Ecorodovias ON10,12-5,33%
BRDT3BR Distribuidora ON18,53-4,93%
GOLL4Gol PN11,76-4,23%
PETR4Petrobras PN15,72-4,03%
CCRO3CCR ON12,26-3,99%

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