Otimismo na bolsa, cautela no câmbio: o Ibovespa subiu, mas o dólar não teve alívio
Avanços no desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus animaram as bolsas e deram força ao Ibovespa, mas o dólar à vista segue refletindo o ambiente mais cauteloso no curto prazo
O mercado financeiro tem funcionado com dois horizontes de tempo em mente: no curto prazo, a situação ainda é nebulosa; no longo, a perspectiva parece mais animadora. E, considerando essa diferença de cenário, os investidores têm assumido posturas diferentes na bolsa e no câmbio — o que faz com que o Ibovespa e o dólar assumam comportamentos estranhos à primeira vista.
Por "comportamentos estranhos" eu me refiro à perda da correlação clássica entre esses dois ativos. É um pensamento simples: se o panorama é positivo para o Brasil, é quase intuitivo assumir que o Ibovespa sobe e o dólar cai; se o contexto é negativo para o país, a bolsa recua e a taxa de câmbio salta.
Mas, veja só o fechamento desta quarta-feira (15): o Ibovespa subiu 1,34%, aos 101.790,54 pontos, enquanto o dólar à vista... bem, o dólar também avançou: um ganho de 0,68%, a R$ 5,3855. Por que o alívio no mercado de ações não é sentido também nas negociações de moedas?
- Eu gravei um vídeo para comentar um pouco mais a respeito do andamento dos mercados nesta quarta. Veja abaixo:
A resposta é, ao mesmo tempo, simples e complexa: a correlação clássica já não é mais tão forte porque as condições que costumavam rondar os mercados brasileiros já não existem mais como antes. Vivemos hoje uma nova realidade, com juros estruturalmente baixos e um cenário de pandemia ainda sem solução.
O x da questão é exatamente esse: o fator "ainda". No curto prazo, a economia sofre por causa do coronavírus, mas, no médio e longo, há a expectativa de que, com um tratamento eficaz sendo criado, a vida voltará ao normal — e o nível de atividade no mundo terá uma retomada vigorosa.
Nesse sentido, notícias a respeito dos avanços no desenvolvimento de uma vacina aumentam a esperança em relação a dias melhores num futuro cada vez menos distantes. E, nesta quarta-feira, foi exatamente isso que deu forças ao Ibovespa e às bolsas globais.
Leia Também
Cadê a vacina?
A grande impulsionadora das bolsas foi a farmacêutica Moderna, cuja vacina contra o coronavírus teria produzido anticorpos em todos os pacientes saudáveis que receberam a dose — um sinal animador e que renova as esperanças quanto à criação de um tratamento viável contra a pandemia.
Esse avanço é particularmente importante para os mercados porque, nos últimos dias, o número de novos casos da doença nos EUA tem aumentado num ritmo preocupante — um dado que, inclusive, fez a Califórnia retroceder em seus esforços para a reabertura da economia local.
Assim, ao ver a possibilidade de uma segunda onda do coronavírus forçar um novo fechamento nos Estados Unidos — o que, consequentemente, frearia a recuperação no nível de atividade no país —, os investidores mostram-se cada vez mais ansiosos pelo desenvolvimento de uma vacina.
E, de fato, há várias empresas farmacêuticas no mundo correndo atrás do tratamento — cada uma com diferentes graus de sucesso. E, com tantos esforços sendo empreendidos, a leitura é a de que, cedo ou tarde, alguma companhia será bem sucedida.
Nesse sentido, as bolsas americanas fecharam em alta hoje: o Dow Jones subiu 0,85%, o S&P 500 avançou 0,91% e o Nasdaq teve ganho de 0,59%. Afinal, uma vacina afastaria de fez os riscos de mais um período de quarentena — e, nas bolsas, o que manda é o longo prazo.
Riscos imediatos
Essa expectativa positiva em relação ao futuro, contudo, não apaga os riscos iminentes: os casos de Covid-19 nos EUA não param de subir e diversas autoridades estaduais do país começam a ensaiar um movimento semelhante ao da Califórnia.
Assim, por mais que exista a percepção de que uma vacina está a caminho, fato é que, neste momento, a situação é preocupante. Assim, ao mesmo tempo que os investidores aumentam a exposição em bolsa, eles também buscam proteção no câmbio.
Isso explica a nova rodada de pressão sobre o dólar à vista — a moeda americana é uma espécie de 'porto seguro' para os agentes financeiros. Ainda há muita incerteza no radar: um novo lockdown pode ganhar força no mundo antes do desenvolvimento da vacina.
Balanços em evidência
Ainda nos EUA, o mercado reage com otimismo ao início da temporada de balanços do segundo trimestre. Ontem, os dados apresentados por J.P. Morgan, Citi e Wells Fargo já surpreenderam positivamente; hoje, foi a vez do Goldman Sachs superar as expectativas dos analistas.
Ao menos por enquanto, os números trimestrais das empresas não tem mostrado um impacto tão devastador assim da pandemia — uma tendência que vai dando força às bolsas globais e que, se mantida, pode levar os índices acionários para níveis ainda mais altos, incluindo o Ibovespa.
Juros em alta
No mercado de juros futuros, a tendência foi de alta nesta quarta-feira, especialmente na ponta mais longa da curva:
- Janeiro/2021: de 2,05% para 2,06%;
- Janeiro/2022: de 3,01% para 3,05%;
- Janeiro/2023: de 4,11% para 4,12%;
- Janeiro/2025: de 5,58% para 5,61%.
Nesta manhã, o ministério da Economia divulgou projeções atualizadas para o PIB e outras variáveis macro em 2020. Os números, contanto, não trouxeram grandes mudanças em relação às estimativas anteriores: a previsão de queda na atividade econômica continua de baixa de 4,7% neste ano.
O dado trouxe reações mistas ao mercado. Por um lado, o governo está mais otimista que o boletim Focus, que prevê uma baixa de 6,1% no PIB em 2020; por outro, alguns previam que o ministério mexeria em suas projeções e assumiria uma postura não tão negativa, levando em conta os dados mais fortes da indústria e do varejo em maio.
Top 5
Confira as cinco maiores altas do Ibovespa nesta quarta-feira — para ler mais detalhes a respeito dos motivos por trás desses ganhos, é só acessar essa matéria:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
EMBR3 | Embraer ON | 8,80 | +9,86% |
CVCB3 | CVC ON | 21,70 | +8,71% |
SBSP3 | Sabesp ON | 61,38 | +8,06% |
GOLL4 | Gol PN | 21,95 | +6,97% |
SUZB3 | Suzano ON | 38,85 | +5,97% |
Saiba também quais são as cinco maiores quedas do índice hoje:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
CSNA3 | CSN ON | 11,93 | -2,13% |
MRVE3 | MRV ON | 20,44 | -2,01% |
IRBR3 | IRB ON | 9,14 | -1,72% |
SULA11 | SulAmérica units | 46,90 | -1,49% |
BTOW3 | B2W ON | 113,99 | -1,47% |
Bolsa caindo à espera do pacote fiscal que nunca chega? Vale a pena manter ações na carteira, mas não qualquer uma
As ações brasileiras estão negociando por múltiplos que não víamos há anos. Isso significa que elas estão baratas, e qualquer anúncio de corte de gastos minimamente satisfatório, que reduza um pouco os riscos, os juros e o dólar, deveria fazer a bolsa engatar um forte rali de fim de ano.
Inter (INBR32) projeta Ibovespa a 143.200 mil pontos em 2025 e revela os setores que devem puxar a bolsa no ano que vem
Mesmo com índice pressionado por riscos econômicos e valuations baixos, o banco estima que o lucro por ação da bolsa deve crescer 18%
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
Regulação do mercado de carbono avança no Brasil, mas deixa de lado um dos setores que mais emite gases estufa no país
Projeto de Lei agora só precisa da sanção presidencial para começar a valer; entenda como vai funcionar
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
Rali do Trump Trade acabou? Bitcoin (BTC) se estabiliza, mas analistas apontam eventos-chave para maior criptomoeda do mundo chegar aos US$ 200 mil
Mercado de criptomoedas se aproxima de uma encruzilhada: rumo ao topo ou a resultados medianos? Governo Trump pode ter a chave para o desfecho.
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Seu Dinheiro abre carteira de 17 ações que já rendeu 203% do Ibovespa e 295% do CDI desde a criação; confira
Portfólio faz parte da série Palavra do Estrategista e foi montado pelo CIO da Empiricus, Felipe Miranda