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Ricardo Gozzi
Aposta alta

Guedes truca, investidores reagem mal, bolsa cai e dólar sobe

Analistas de mercado avaliam que Guedes apostou alto demais ao acusar o que ele mesmo qualificou como ‘debandada’ em sua pasta

Ricardo Gozzi
12 de agosto de 2020
17:51 - atualizado às 19:32
Ibovespa cartas baralho
Imagem: Shutterstock

O Ibovespa fechou em leve queda e o dólar subiu – ambos na contramão dos mercados internacionais – em uma sessão que desandou antes mesmo de começar.

Analistas de mercado avaliam que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apostou alto demais ao acusar o que ele mesmo qualificou como uma “debandada” em sua pasta.

Na reta final do pregão, o Ibovespa por pouco não apagou a queda diante da expectativa de que o presidente Jair Bolsonaro sairá publicamente em defesa da agenda de Guedes. Ainda assim, o mercado de ações fechou no vermelho.

Alguns compararam a fala de Guedes a um “all in”, quando se aposta tudo no pôquer. Outros usaram como figura de linguagem o bom e velho truco. E, ao dar publicidade à saída de dois de seus mais importantes secretários em tom alarmista, talvez o ministro tenha amplificado uma notícia que, sob outras circunstâncias, teria impacto pontual sobre os mercados financeiros.

O Ibovespa até iniciou o pregão desta quarta-feira em alta na esteira da possibilidade de um acordo para um pacote de estímulo econômico nos Estados Unidos.

Também nos EUA, a notícia de que o governo norte-americano alcançou um acordo com a Moderna para a compra de milhões de doses de uma futura vacina contra a covid-19 levou os índices em Nova York a abrirem em alta, o que repercutiu imediatamente no Ibovespa.

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Com o passar das horas, porém, a perspectiva de deterioração do cenário fiscal começou a falar mais alto. A partir do início da tarde, mesmo com a forte alta em Wall Street, o cenário pesado em Brasília prevaleceu sobre o humor dos investidores e o mercado brasileiro de ações passou a cair.

O peso da "debandada"

A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, sofreu duas importantes baixas na noite de terça-feira (11). Pediram demissão o secretário especial de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e o secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel.

Mattar tocava um eixo considerado importante pelos agentes do mercado financeiro, enquanto Uebel defendia a realização de uma reforma administrativa ainda neste ano.

Sob a alegação de motivos pessoais, também deixou o governo o diretor do programa de desburocratização, José Ziebarth.

Com isso, já são seis as baixas registradas na equipe econômica de Guedes no decorrer das últimas semanas. Em julho, Mansueto Almeida deixou o Tesouro Nacional, Caio Megale saiu da diretoria de programas da Secretaria Especial da Fazenda e foi anunciado que Rubem Novaes deixará a presidência do Banco do Brasil.

O próprio ministro referiu-se às demissões como "debandada".

O fato é que a agenda liberal de Guedes vem perdendo espaço no governo Jair Bolsonaro desde o início da pandemia por iniciativa de uma ala ligada ao presidente que deseja deixar a parte das despesas com obras e investimentos fora do teto de gastos.

Essa mesma ala cita ainda popularidade que Bolsonaro poderia reaver entre a parcela mais pobre da população se estender os pagamentos aos desempregados atingidos pela pandemia. Mas o fato é que o Brasil é um dos poucos lugares do mundo onde o controle de gastos em tempos de pandemia é visto como um debate sério.

“Guedes não poupou críticas a alas do governo que intensificam debates sobre furar o teto dos gastos”, avaliou Jefferson Lima, analista da CM Capital Markets. “O risco de Bolsonaro topar a ideia para impulsionar sua popularidade ganha força e Guedes deu sua última cartada”, prosseguiu Lima, comparando a jogada a um “all in”.

Ainda na avaliação de Lima, “a crise na pasta da economia potencializa o risco fiscal”.

E enquanto alguns analistas aventavam temores com uma possível saída do próprio Guedes e outros observavam uma pressão do ministro para usar a "debandada" a favor de sua agenda junto a Bolsonaro, o Ibovespa seguia na contramão dos mercados financeiros internacionais. No auge da queda, o índice chegou a recuar mais de 1%.

A notícia pesou principalmente sobre ações de empresas estatais incluídas nos planos de privatização do governo, em especial a Eletrobras, cujos papéis ON e PN (ELET3 E ELET6) recuaram mais de 3%.

Nos minutos finais da sessão, entretanto, a notícia de que Bolsonaro faria uma declaração à imprensa no Palácio da Alvorada levou o mercado de ações a se recuperar e fechar em queda de apenas 0,06%, aos 102.117,79 pontos.

Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 1,05%, o Nasdaq avançou 2,13% e o S&P 500 fechou em alta de 1,40%.

Confira a seguir as maiores altas e baixas do Ibovespa na sessão de hoje.

MAIORES ALTAS

Marfrig ON (MRFG3) +4,77%
JBS ON (JBSS3) +2,57%
Klabin Unit (KLBN11) +2,38%
Vale ON (VALE3) +2,02%
Usiminas PN (USIM5) +1,89%

MAIORES QUEDAS

Hering ON (HGTX3) -5,95%
BR Malls ON (BRML3) -3,99%
Gol PN (GOLL4) -3,85%
SulAmérica Unit (SULA11) -3,53%
IRB Brasil ON (IRBR3) -3,45%

Dólar e juro

No mercado de câmbio, enquanto caía ante outras moedas, o dólar fechou em alta ante o real repercutindo a notícia da "debandada" no governo em meio a temores de aprofundamento da crise fiscal agravada pela pandemia.

Durante a tarde, um segundo leilão de 10 mil contratos de swap cambial no valor de US$ 500 milhões atenuou um pouco a apreciação do dólar. Mesmo assim, a moeda norte-americana fechou em alta de 0,66%, a R$ 5,4512.

Enquanto isso, os contratos de juros futuros fecharam em alta, especialmente nos vencimentos mais longos, acompanhando a alta do dólar.

Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:

  • Janeiro/2021: de 1,870% para 1,875%;
  • Janeiro/2022: de 2,680% para 2,770%;
  • Janeiro/2023: de 3,820% para 3,950%;
  • Janeiro/2025: de 5,570% para 5,710%.

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