Efeito sanfona: após desabar 12% na segunda, Ibovespa fecha em alta de mais de 7%; dólar cai a R$ 4,64
O Ibovespa recuperou parte do terreno perdido ontem e fechou o dia com a maior alta percentual desde 2008, impulsionado pela leitura de que os BCs e governos do mundo vão adotar medidas para estimular a economia — e, assim, conter a deterioração dos mercados e da economia por decorrente do surto de coronavírus e da crise do petróleo
No dia a dia do Ibovespa e das bolsas globais, é normal ver uma alternância entre perdas e ganhos. Afinal, movimentos de alta ou de baixa não ocorrem em linha reta — os mercados reagem a uma infinidade de fatores todos os dias, e é raro que todos os elementos de influência apontem para uma única direção.
Pois, veja só: estamos num momento muito raro, com duas sessões consecutivas de movimentos dramáticos e opostos. Um ambiente bastante volátil — e volatilidade costuma ser um sinal de alerta para a saúde dos mercados.
Vamos aos números: o Ibovespa fechou o pregão de segunda-feira (9) em forte baixa de 12,17%, registrando a pior sessão desde 1998. Mas, nesta terça-feira (10), o cenário foi quase diametralmente oposto: alta de 7,14%, aos 92.214,47 pontos — o maior avanço desde dezembro de 2008.
O gráfico do comportamento do Ibovespa nesta semana não me deixa mentir: as oscilações têm sido tão bruscas que, em alguns momentos, formam linhas quase perpendiculares ao eixo horizontal:
O movimento lembra o chamado 'efeito sanfona' das dietas: muitos médicos defendem que um emagrecimento rápido e intenso não é sustentável — a pessoa acaba voltando ao peso anterior com muita facilidade, num processo que acaba trazendo males colaterais à saúde.
Mais adequado é a perda de peso gradual, uma vez que, com um processo lento e em etapas, o corpo consegue se adaptar melhor e se acostumar com a nova realidade.
Leia Também
Pois, para o Ibovespa e as bolsas globais, o efeito colateral desse estica-e-puxa intenso é a perda de confiança: em meio aos movimentos bruscos e, muitas vezes, descolado de fatores concretos, muitos investidores preferem ficar de fora do mercado, esperando um momento mais racional para operar.
- Eu gravei um vídeo para comentar essa 'recuperação milagrosa' dos mercados nesta terça-feira. Veja abaixo:
No exterior, a situação não foi diferente: o Dow Jones (+4,89%), o S&P 500 (+4,93%) e o Nasdaq (+4,95%) também tiveram altas expressivas, em contraste com as quedas fortes da sessão anterior.
Entre as commodities, o petróleo Brent para maio subiu 8,32%, enquanto o WTI para abril avançou 10,38% — na última sexta (6), os contratos desabaram mais de 10% e, ontem, desvalorizaram outros 20%.
Apenas o mercado de câmbio conseguiu sustentar o viés de tranquilidade sem maiores turbulências. O dólar à vista operou em baixa de mais de 1% desde a abertura, fechando em queda de 1,63%, a R$ 4,6472 — na sessão passada, chegou a encostar no patamar de R$ 4,80.
Vale ressaltar, no entanto, que a recuperação vista hoje nos mercados globais nem de longe compensa as perdas expressivas de segunda-feira. O petróleo continua muito abaixo dos níveis do começo do ano, enquanto o Ibovespa segue com uma perda acumulada de 21,92% em 2020.
Esperança e apreensão
Em linhas gerais, não tivemos grandes alterações no panorama para os mercados nas últimas 24 horas: o coronavírus continua se espalhando pelo mundo, a guerra de preços do petróleo travada entre Arábia Saudita e Rússia segue em curso e, por aqui, governo e Congresso permanecem brigando.
Dito isso, há uma esperança de que os bancos centrais do mundo irão atuar nos próximos dias, promovendo mais estímulos monetários para amenizar os eventuais impactos da crise do petróleo.
Na próxima quinta-feira (12), o Banco Central Europeu (BCE) irá se reunir para decidir a nova taxa de juros na região — e, dados os acontecimentos recentes, há a expectativa de um corte nas taxas. Na semana que vem, é a vez do Federal Reserve (Fed) e do Copom divulgarem suas decisões.
Há também a expectativa quanto a eventuais pacotes de estímulo à atividade e auxílio às empresas, em meio à crise no petróleo e aos impactos do coronavírus, de modo a conter uma deterioração ainda maior dos mercados e, possivelmente, da economia global.
Nos Estados Unidos, falou-se num possível programa para injetar recursos nos setores mais afetados pelo surto da doença; na Europa, rumores dão conta de um extenso pacote de estímulo por parte do BCE e das demais autoridades econômicas da região.
Mas, ao menos por enquanto, não há nada concreto — datas ou eventuais valores desses 'kit salvação' não são conhecidas. De qualquer maneira, o mero rumor já foi suficiente para provocar um estopim nos mercados.
Além disso, há um evidente movimento de "busca por pechinchas" e de correção de eventuais excessos da sessão de ontem. Dadas as fortes correções recentes, muitos investidores optaram por comprar ações e ativos que ficaram "baratos demais".
BC atua
Boa parte do alívio visto no dólar se deve à atuação do Banco Central no mercado de câmbio: a autoridade monetária promoveu mais um leilão no segmento à vista, injetando outros US$ 2 bilhões no sistema; ontem, durante o caos, foram colocados cerca de US$ 3,5 bilhões.
As atuações dos últimos dias marcam uma mudança de postura em relação à semana passada, quando o BC optou por fazer operações no mercado futuro de dólares, via swap cambial — uma alternativa que surtiu pouco efeito para conter a escalada da moeda americana.
Assim, o BC se viu forçado a mudar a ferramenta, partindo para uma abordagem mais agressiva — a injeção direta no mercado à vista. E, por mais que o panorama global tenha se deteriorado, o dólar conseguiu voltar para os níveis da semana passada.
A calmaria também chegou ao mercado de juros. Com o dólar recuando e em meio à percepção de atuação iminente dos BCs, os investidores voltaram a apostar com mais firmeza no corte da Selic na reunião do Copom, na próxima quarta-feira (18).
Veja abaixo como ficaram os principais DIs nesta terça-feira:
- Janeiro/2021: de 4,00% para 3,91%;
- Janeiro/2022: de 4,63% para 4,53%;
- Janeiro/2023: de 5,38% para 5,23%;
- Janeiro/2025: de 6,35% para 6,22%.
Petrobras e aéreas respiram
As ações da Petrobras despontaram entre as maiores altas do Ibovespa nesta terça-feira, acompanhando a recuperação dos preços do petróleo. No entanto, os ativos da estatal seguem em cotações muito inferiores às do começo do ano.
As ações ON (PETR3) subiram 8,51%, enquanto as PNs (PETR4) avançaram 9,41%, num desempenho em linha com o da commodity. Vale lembrar, no entanto, que os papéis da estatal despencaram mais de 35%, somando as baixas de sexta (6) e de segunda (9).
Quem também se recuperou foi o setor aéreo, com Azul PN (AZUL4) em alta de 12,71% e Gol PN (GOLL4) avançando 5,41%. A queda do dólar trouxe alívio às empresas, que possuem grande parte de suas linhas de dívida e de custos denominada na moeda americana.
Além disso, por mais que o petróleo tenha subindo hoje, a commodity passou por uma forte queda nos últimos dias — e o preço do produto é determinante para a precificação do combustível de aviação.
Top 5
Veja as cinco ações de melhor desempenho do Ibovespa nesta terça-feira:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
VVAR3 | Via Varejo ON | 11,62 | +21,29% |
VALE3 | Vale ON | 44,81 | +18,45% |
CCRO3 | CCR ON | 14,90 | +17,32% |
MGLU3 | Magazine Luiza ON | 46,99 | +16,43% |
UGPA3 | Ultrapar ON | 17,88 | +16,03% |
Confira também as maiores baixas do índice:
CÓDIGO | NOME | PREÇO (R$) | VARIAÇÃO |
ABEV3 | Ambev ON | 14,42 | -1,70% |
IRBR3 | IRB ON | 13,70 | -0,44% |
Tesouro IPCA+ é imbatível no longo prazo e supera a taxa Selic, diz Inter; título emitido há 20 anos rendeu 1.337%
Apesar de volatilidade no curto prazo, em janelas de tempo maiores, título indexado à inflação é bem mais rentável que a taxa básica
Bolsa caindo à espera do pacote fiscal que nunca chega? Vale a pena manter ações na carteira, mas não qualquer uma
As ações brasileiras estão negociando por múltiplos que não víamos há anos. Isso significa que elas estão baratas, e qualquer anúncio de corte de gastos minimamente satisfatório, que reduza um pouco os riscos, os juros e o dólar, deveria fazer a bolsa engatar um forte rali de fim de ano.
Inter (INBR32) projeta Ibovespa a 143.200 mil pontos em 2025 e revela os setores que devem puxar a bolsa no ano que vem
Mesmo com índice pressionado por riscos econômicos e valuations baixos, o banco estima que o lucro por ação da bolsa deve crescer 18%
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
Regulação do mercado de carbono avança no Brasil, mas deixa de lado um dos setores que mais emite gases estufa no país
Projeto de Lei agora só precisa da sanção presidencial para começar a valer; entenda como vai funcionar
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
Rali do Trump Trade acabou? Bitcoin (BTC) se estabiliza, mas analistas apontam eventos-chave para maior criptomoeda do mundo chegar aos US$ 200 mil
Mercado de criptomoedas se aproxima de uma encruzilhada: rumo ao topo ou a resultados medianos? Governo Trump pode ter a chave para o desfecho.
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias