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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Novo recorde

Cautela, Copom e coronavírus: os três ‘Cs’ que levaram o dólar a R$ 5,70 pela primeira vez na história

O dólar à vista rompeu o nível de R$ 5,70, pressionado pela aversão ao risco que tomou conta dos investidores domésticos. O Ibovespa fechou em queda

Dólar
Imagem: Shutterstock

O dólar à vista teve um forte alívio na semana passada, acumulando baixa de quase 4% e chegando a tocar os R$ 5,33. Quem apostava numa despressurização da moeda americana, contudo, se deu mal: desde segunda-feira (4), a divisa entrou num ciclo de forte alta, anulando todas as perdas recentes — e, mais que isso, chegando a um novo recorde.

Desde o início da sessão desta quarta-feira (6), ficou claro que a tendência para o câmbio seria ascendente: o dólar à vista até abriu a sessão em leve baixa, mas logo virou e voltou ao campo positivo — de onde não mais saiu. E, ao longo do dia, foi ganhando cada vez mais força, pressionado pela forte aversão ao risco por parte dos investidores.

Tanto é que, no fechamento, a divisa era cotada a R$ 5,7024, em alta de 1,97%. Trata-se de uma nova máxima nominal de encerramento e a primeira vez na história que a moeda ultrapassa a faixa dos R$ 5,70 ao fim de uma sessão — somente nesta semana, a alta acumulada já chega a 4,75%; desde o começo de 2020, os ganhos somam 42,14%.

A nova rodada de valorização do dólar ante o real pode ser explicada por uma combinação entre três 'Cs': cautela com o cenário político, Copom e coronavírus. A junção desses três fatores foi particularmente explosiva para o câmbio, que costuma ser um termômetro mais fiel do nível de preocupação dos investidores em relação aos riscos futuros.

Na bolsa, o dia também foi de maior prudência, embora o mercado acionário tenha mostrado um comportamento bem mais ameno: o Ibovespa terminou o pregão em baixa de 0,51%, aos 79.063,68 pontos.

O clima mais apreensivo no exterior até contribuiu para pressionar os ativos domésticos nesta quarta-feira: lá fora, o dia foi de fortalecimento do dólar ante as demais divisas de países emergentes e de baixa no Dow Jones (-0,91%) e no S&P 500 (-0,70%).

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Só que, considerando o campo minado visto por aqui, pode-se afirmar que o panorama doméstico foi determinante para levar o dólar às máximas e imprimir mais uma baixa ao Ibovespa.

  • Eu gravei um vídeo para explicar a dinâmica dos mercados brasileiros nesta quarta-feira. Veja abaixo:

Turbulência em Brasília

Uma enorme nuvem de dúvidas paira sobre Brasília, considerando a deterioração nas relações entre governo e Congresso e os desdobramentos do depoimento do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro.

À Polícia Federal de Curitiba, Moro voltou a afirmar que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir diretamente em seu trabalho, pedindo especificamente pelo controle da superintendência da PF no Rio de Janeiro. No mercado, a leitura foi a de que apesar de o depoimento não trazer elementos bombásticos, ele certamente traz mais tensão à cena política.

Assim, qualquer movimentação por parte do governo — através de entrevistas ou de pronunciamentos oficiais do presidente Bolsonaro — tem o poder de mexer com o rumo das negociações, o que estressa os investidores e aumenta a aversão ao risco nos mercados locais.

Ainda em Brasília, o mercado continuou preocupado com os rumos do ajuste fiscal, já que a Câmara aprovou ontem o auxílio financeiro emergencial para Estados e municípios, no montante de R$ 125 bilhões. O texto, agora, volta para o Senado.

Ao fim da tarde, até tivemos um ligeiro alívio no clima político: o plenário da Câmara aprovou, em segundo turno, a PEC do 'Orçamento de Guerra' — uma movimentação que, embora favorável aos planos do governo, não foi capaz de trazer alívio ao dólar.

Elementos preocupantes

Ainda no Brasil, tivemos diversos outros pontos de estresse aos investidores, com destaque para o forte aumento nos casos do coronavírus no país — o Brasil, agora, caminha para se tornar o novo epicentro da doença no mundo.

Já são 7.921 mortes por causa da Covid-19, com 600 óbitos apenas entre segunda (4) e terça (5) — um novo recorde em 24 horas no país. Ao todo, 114.715 pessoas foram contaminadas no Brasil, de acordo com os dados do ministério da Saúde.

A percepção de que a curva de contágio do coronavírus ainda está na fase ascendente no país aumenta a preocupação a respeito das políticas de saúde pública e dos impactos à economia. Ontem, foi reportada a forte queda de 9,1% na produção industrial em março ante fevereiro, mostrando que a atividade doméstica já sente um forte impacto da pandemia.

Além disso, a agência de classificação de risco Fitch reduziu para negativa a perspectiva da nota do Brasil, um indício de que a próxima movimentação pode ser um rebaixamento na nota do país, atualmente em BB-.

Dia de Copom

Além de todos esses pontos de estresse, ainda há a decisão de juros do Copom, com divulgação prevista para depois do fechamento dos mercados. É unânime a leitura de que o BC irá cortar os juros, mas não há consenso quanto à magnitude dessa redução: no momento, as apostas dividem-se entre baixas de 0,5 ponto ou de 0,75 ponto.

Dito isso, os investidores estarão particularmente atentos às sinalizações da autoridade monetária, buscando pistas quanto à visão do BC para o futuro e os possíveis próximos passos para a Selic.

O mercado de juros futuros até fechou com ligeiros ajustes positivos na ponta curta, considerando a disparada no dólar à vista. Essa alta, no entanto, não diminui a leitura de que o ciclo de alívio monetário tende a continuar em 2020:

  • Janeiro/2021: de 2,71% para 2,74%;
  • Janeiro/2022: estável em 3,53%;
  • Janeiro/2023: de 4,72% para 4,66%;
  • Janeiro/2025: de 6,53% para 6,42%.

Mais balanços

No lado corporativo, a temporada de balanços do primeiro trimestre de 2020 continua com força total. Nesta quarta-feira, destaque para as ações ON da Tim (TIMP3), que caíram 2,23% mesmo após a companhia reportar um lucro líquido de R$ 164 milhões no período, um crescimento de 8,3% na base anual.

No lado positivo do Ibovespa, o setor de varejo on-line despontou entre os principais ganhos, dado o otimismo dos investidores com o segmento de e-commerce após o Mercado Livre reportar resultados fortes no primeiro trimestre deste ano.

Veja abaixo as cinco maiores altas do Ibovespa nesta quarta-feira:

CÓDIGONOMEPREÇO (R$)VARIAÇÃO
BTOW3B2W ON89,18+19,13%
MGLU3Magazine Luiza ON55,15+9,86%
LAME4Lojas Americanas PN27,42+7,36%
NTCO3Natura ON36,50+5,74%
VVAR3Via Varejo ON10,01+3,20%

Confira também as cinco maiores quedas do índice:

CÓDIGONOMEPREÇO (R$)VARIAÇÃO
CVCB3CVC ON11,66-5,89%
CMIG4Cemig PN8,82-4,65%
BPAC11BTG Pactual units39,50-4,57%
EMBR3Embraer ON7,16-4,53%
BRML3BR Malls ON8,74-3,96%

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