Comportas de Wall Street se abrem e arrastam Ibovespa; dólar cai com enfraquecimento generalizado
Virada em Nova York colocou a reforma administrativa em segundo plano, mas o tema tende a pautar o noticiário político pelos próximos meses
Um dia agitado como hoje nos mercados financeiros globais exige uma trilha sonora à altura. E a música apropriada para embalar um fechamento como o observado nesta quinta-feira é 'When the Levee Breaks', tradicional tema do blues norte-americano tornado clássico na interpretação do Led Zeppelin. Afinal, em tempos de liquidez abundante nos mercados financeiros, há momentos em que é melhor abrir as comportas do que permitir que a barragem se rompa.
O Ibovespa foi literalmente levado de arrasto pela forte queda registrada em Nova York nesta quinta-feira. Também pesou sobre a bolsa brasileira o recuo acentuado das ações da Vale - as de mais peso dentre todos os componentes do índice.
O movimento brusco ocorrido em Nova York sucedeu um rali que parecia interminável, mas cujo fim veio acompanhado de temores relacionados com o ritmo da retomada da economia passado o impacto mais acentuado da pandemia.
No decorrer das últimas semanas, dois dos três principais índices da bolsa norte-americana - o Nasdaq e o S&P-500 - renovaram recorde atrás de recorde de fechamento, impulsionados principalmente pelo setor de tecnologia em meio a advertências de que os papéis poderiam ter ficado caros demais.
O Dow Jones não chegou a renovar recordes, mas havia recuperado recentemente as perdas derivadas do primeiro impacto da pandemia do novo coronavírus sobre os mercados financeiros internacionais.
O fato é que os mercados globais de ações recuperaram terreno rapidamente nos últimos meses diante da expectativa de uma vacina para o novo coronavírus, mas os investidores começam agora a questionar a justificativa para preços tão elevados em muitos papéis enquanto a pandemia segue avançando pelo mundo.
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Com isso, o Dow Jones caiu 2,78%, o S&P-500 recuou 3,51% e o Nasdaq deixou 4,96% pelo caminho. Por aqui, o Ibovespa encerrou em queda de 1,17%, aos 100.5721,36 pontos.
A crônica de uma cautela anunciada
A queda registrada hoje no Ibovespa deu sequência a uma cautela que já se anunciava no pré-mercado. “Incerteza e indecisão são duas palavras que o mercado não gosta”, observou Enrico Cozzolino, analista de ações do banco Daycoval.
No começo da sessão, uma abertura positivamente discreta logo deu lugar à continuidade da realização de lucros observada na sessão de ontem.
A divulgação dos primeiros detalhes da proposta do governo para a reforma administrativa até fez a bolsa brasileira voltar a subir ainda na primeira hora de pregão, mas o forte recuo dos índices em Wall Street acabou arrastando a bolsa brasileira, que chegou a perder provisoriamente o piso dos 100 mil pontos.
No cenário local, as ações da Vale puxaram o Ibovespa para baixo. Também pesaram os papéis da B2W, da Magalu e da Via Varejo, impactados hoje pela correlação deles com a Nasdaq.
Bancos impediram recuo maior
O que impediu um recuo ainda maior da bolsa hoje foi o setor bancário. Mais cedo, o Bank of America (BofA) elevou sua recomendação para as ações dos bancos brasileiros. "Vemos este setor como negligenciado demais", escreveu o estrategista David Beker em um relatório
Na avaliação de Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, as ações dos bancos estavam realmente muito descontadas. "Haviam caído muito desde o início da pandemia com questões como provisões e discussões sobre taxação maior e limites à cobrança de juros”, explicou ele.
Cozzolino concorda que as ações dos bancos não estão caras. No entanto, “os múltiplos voltaram a ficar caros e não há avanços que justifiquem pagar mais por bolsa, seja em termos da pandemia ou de política local”, prossegue ele.
Olhando em retrospectiva, Cozzolino aponta que muitos ativos voltaram a ficar caros quando o Ibovespa passou dos 100 mil pontos na recuperação que se seguiu à queda ocorrida no início da pandemia. “Essa volatilidade vista ao longo do último mês nos diz que não existe um consenso.”
Confira a seguir maiores altas e as maiores quedas do dia entre os componentes do Ibovespa.
MAIORES ALTAS
- Hering ON (HGTX) +4,15%
- Bradesco PN (BBDC4) +3,93%
- Bradesco ON (BBDC3) +3,83%
- Azul PN (AZUL4) +3,67%
- Santander Unit (SANB11) +3,38%
MAIORES BAIXAS
- B2W Digital ON (BTOW3) -7,57%
- Via Varejo ON (VVAR3) -6,89%
- Totvs ON (TOTS3) -5,80%
- Magalu ON (MGLU3) -5,36%
- Lojas Americanas PN (LAME4) -5,22%
Dólar e juro
O dólar voltou a fechar em queda nesta quinta-feira, refletindo a desvalorização generalizada da moeda norte-americana.
O mercado de câmbio abriu oscilando próximo da estabilidade reagindo aos dados da produção industrial brasileira em julho e à apresentação dos detalhes da reforma administrativa.
Entretanto, a moeda norte-americana não demorou a firmar-se em queda ante o real em meio a um movimento de realização dos ganhos acumulados recentemente.
A depreciação generalizada do dólar nos mercados internacionais levou a moeda a encerrar o dia em queda de 1,15%, cotada a R$ 5,2960.
Já os contratos de juros futuros acompanharam as oscilações do dólar desde a abertura e também fecharam em queda.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,830% para 2,790%;
- Janeiro/2023: de 4,010% para 3,960%;
- Janeiro/2025: de 5,820% para 5,760%;
- Janeiro/2027: de 6,790% para 6,720%.
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As ações brasileiras estão negociando por múltiplos que não víamos há anos. Isso significa que elas estão baratas, e qualquer anúncio de corte de gastos minimamente satisfatório, que reduza um pouco os riscos, os juros e o dólar, deveria fazer a bolsa engatar um forte rali de fim de ano.
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