Bolsonaro suspende Renda Brasil, bolsa acentua queda e dólar passa dos R$ 5,60
Investidores consideram que Bolsonaro está desafiando Guedes em um momento no qual a relação entre eles mostra sinais de desgate

O Ibovespa opera em queda acentuada e o dólar sobe com mais intensidade nesta quarta-feira desde o anúncio da suspensão da proposta do programa Renda Brasil pelo presidente Jair Bolsonaro, no fim da manhã.
Bolsonaro declarou nesta quarta-feira que a proposta a ele enviada pelo Ministério da Economia não será encaminhada ao Congresso Nacional. Mais tarde, fontes no Palácio do Planalto afirmaram que o presidente pediu ao ministro Paulo Guedes que lhe apresente um novo plano até sexta-feira.
Os comentários do presidente foram interpretados por analistas de mercado como um sinal de que ele está confrontando seu ministro da Economia, Paulo Guedes, em meio ao estremecimento da relação entre eles.
A deterioração do cenário fez com que a bolsa perdesse temporariamente o piso dos 100 mil pontos e o dólar voltasse a frequentar a casa dos R$ 5,60. Por volta das 16h40, o Ibovespa operava em queda de 1,66%, a 100.424 pontos.
"Não posso tirar de pobres para dar a paupérrimos", diz Bolsonaro
Ao anunciar a suspensão dos planos, Bolsonaro disse que não vai "tirar (recursos) dos mais pobres" para financiar um novo programa de renda mínima.
"Ontem discutimos a possível proposta do Renda Brasil. E eu falei 'está suspenso', vamos voltar a conversar. A proposta, como a equipe econômica apareceu para mim não será enviada ao Parlamento. Não posso tirar de pobres para dar a paupérrimos," disse o presidente durante um evento em Ipatinga (MG).
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Bolsonaro também confirmou que a ideia da equipe econômica era usar o dinheiro que hoje paga o abono salarial de trabalhadores para bancar parte do Renda Brasil.
"Por exemplo, a questão do abono para quem ganha até dois salários mínimos, que seria como um décimo quarto salário. Não podemos tirar isso de 12 milhões de pessoas para dar a um Bolsa Família, um Renda Brasil, seja lá o que for o nome do programa", comentou ele.
O presidente disse ainda que o "melhor programa para o País", na visão dele, é a geração de empregos. "Ou o Brasil começa a produzir, a fazer um plano que interessa a todos nós, que é o emprego, ou estamos fadados ao insucesso. Não posso fazer milagre."
Piora da relação entre Bolsonaro e Guedes preocupa investidores
Ontem, a ausência de Guedes no lançamento do programa Casa Verde Amarela reacendeu entre os investidores o alarme em torno da relação entre o presidente Jair Bolsonaro e seu principal fiador junto aos mercados financeiros.
Antes da fala de Bolsonaro, o Ibovespa operava em leve queda, já com os investidores receosos quanto aos riscos fiscais e à persistente turbulência política em Brasília, mas sem um gatilho que justificasse um movimento mais brusco.
Esse gatilho veio com os comentários de Bolsonaro. A fala do presidente acentuou ainda mais a desconfiança dos investidores com relação não apenas ao teto de gastos e à disciplina fiscal, mas também no que diz respeito à permanência de Paulo Guedes como ministro.
A deterioração da relação entre Guedes e Bolsonaro vem se acentuando nas últimas semanas justamente por causa do programa Renda Brasil.
Enquanto o presidente parece encantado com o recente aumento de popularidade atribuído ao auxílio emergencial, o ministro parece pouco disposto a ceder um milímetro que seja de suas posições.
Antes da suspensão do Renda Brasil, os dois vinham tentando encontrar uma saída para o impasse em torno do valor estipulado para o programa de renda mínima. Circula que o presidente Jair Bolsonaro não aceitaria um valor menor do que R$ 300 e que tal quantia seria considerada muito “alta” por Guedes.
O próprio ministro antecipou na semana passada que o programa seria anunciado oficialmente ontem, mas o impasse entre eles levou ao adiamento do anúncio e agora à suspensão da proposta. Ao pedir um novo plano até sexta-feira, Bolsonaro teria dito a interlocutores que gostaria de uma solução que não passasse pelo abono salarial.
Diante do impasse, os investidores temem principalmente uma eventual incapacidade de Bolsonaro e Guedes de chegarem a um meio-termo ameace o teto de gastos e a disciplina fiscal e - num caso mais extremo - leve à saída do ministro, advertem analistas.
Chegaram a circular inclusive rumores de que Guedes teria pedido demissão a Bolsonaro, mas o boato foi rapidamente desmentido. Funcionários do Ministério da Economia afirmaram tratar-se apenas de uma divergência e disseram não haver nenhuma ameaça à permanência de Guedes no governo.
Na avaliação do economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, os comentários sobre a possível saída de Guedes não passariam de especulação.
A questão, segundo ele, é outra. "O Ministério da Economia tem que restaurar seu comando. Caso contrário, o mercado irá apostar que Bolsonaro irá tender ao populismo fiscal em busca de se blindar e de pavimentar seu caminho rumo a 2022", afirma Perfeito.
Exterior em compasso de espera
No exterior, os investidores mantêm-se em compasso de espera. Mesmo assim, as principais bolsas europeias fecharam em alta e os índices de ações em Nova York subiam na tarde de hoje em busca de novos recordes.
Os investidores estrangeiros aguardam o discurso do presidente do Federal Reserve Bank, Jerome Powell, marcado para amanhã como parte do tradicional simpósio de política econômica de Jackson Hole.
A expectativa é que o chefe do banco central norte-americano fale sobre a perspectiva econômica e o futuro da política monetária americana em meio a indicadores econômicos contraditórios com relação ao ritmo da recuperação da maior economia do globo.
Dólar e juro
O dólar, por sua vez, acentuou a alta depois dos comentários de Bolsonaro. A moeda norte-americana já havia aberto em alta na esteira do salto de 11,2% nas encomendas de bens duráveis nos EUA entre junho e julho.
O movimento acentuou-se com o acirramento da tensão entre Bolsonaro e Guedes e o dólar firmou-se novamente na faixa dos R$ 5,60. Por volta das 16h40, a moeda norte-americana subia 1,35%, cotada a R$ 5,6020.
Já os contratos de juros futuros operaram em alta do início ao fim da sessão. A tensão política refletiu-se especialmente nos vencimentos mais longos.
Confira as taxas negociadas de alguns dos principais contratos negociados na B3:
- Janeiro/2022: de 2,750% para 2,830%;
- Janeiro/2023: de 3,930% para 4,070%;
- Janeiro/2025: de 5,750% para 5,960%;
- Janeiro/2027: de 6,760% para 6,970%.
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