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Felipe Saturnino
Felipe Saturnino
Graduado em Jornalismo pela USP, passou pelas redações de Bloomberg e Estadão.
fim do dia

Ibovespa fecha no maior nível desde agosto com otimismo sobre vacina, mas risco fiscal limita queda de dólar e juros

Apetite ao risco é sustentado por eficácia de 90% da vacina da farmacêutica Pfizer, sustentando o vigor das bolsas globais. Ibovespa atingiu maior nível registrado desde julho no “intraday”, com destaque para aéreas e shoppings; após “ficar barato”, dólar atrai compradores e modera baixa

Felipe Saturnino
Felipe Saturnino
9 de novembro de 2020
18:56 - atualizado às 19:05
Selo Mercados FECHAMENTO Ibovespa dólar
Imagem: Montagem Andrei Morais / Shutterstock

O Ibovespa está empolgado.

O principal índice acionário da B3 já acumula mais 10% de alta apenas neste mês e mostrou mais uma vez vigor na sessão desta segunda-feira (9), retomando os 103 mil pontos.

Foi mais uma barreira superada na sua recuperação: o índice não encerrava uma sessão acima desse patamar há 3 meses — desde 10 de agosto.

Desta vez, o guia favorável para os negócios não veio da política: foi tudo por causa de uma vacina experimental.

O imunizante da farmacêutica americana Pfizer se mostrou eficaz em 90% dos testes realizados, de acordo com resultados preliminares. A história que trouxe bom humor aos investidores globais, impelindo-os à busca por ativos de risco, veio de um front que tinha voltado a piorar tanto nos Estados Unidos como na Europa.

Isto continua verdade — para tanto, basta ver que os casos de coronavírus continuam a bater recordes nos Estados Unidos e países da Europa já anunciaram lockdowns para controlar a circulação do vírus.

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Mas é inegável que a notícia constitui um passo adicional dado em direção à vacina, que, eventualmente, pode ser usada massivamente na prevenção da doença.

Com isso, dois dos principais índices acionários nos Estados Unidos dispararam — S&P 500 e Dow Jones ganharam no mínimo 1,2%. O Nasdaq foi o único que se descolou do bom humor e fechou em queda forte, de 1,5%, em uma venda generalizada de papéis de empresas de tecnologia, que surfaram bem o período de isolamento social.

O Ibovespa terminou a sessão em avanço de 2,57%, para 103.515 pontos — no maior nível de fechamento desde 06 de agosto —, reforçando o movimento de volta do índice a níveis superiores acima dos 100 mil.

Mais cedo, o índice subiu acima dos 105 mil pontos na máxima, no maior nível dentro de uma mesma sessão desde 29 de julho, chegando a saltar 4,18% e operando aos 105.146,56 pontos.

Top 5

Ações Gol PN (GOLL4) e Azul PN (AZUL4) estiveram entre as maiores altas percentuais da sessão do principal índice da bolsa brasileira hoje.

Os papéis perderam ao menos 45% de valor em 2020 e são sempre muito sensíveis ao noticiário da covid-19, uma vez que as empresas se encontram entre as maiores perdedoras com a pandemia.

Papéis de shoppings, também muito afetados pela pandemia, ficaram entre os grandes vencedores da sessão.

As ações da Petrobras também tiveram uma sessão de ganhos elevados.

Petrobras ON (PETR3) e Petrobras PN (PETR4) dispararam 10,2% e 9,4%, respectivamente, avançando na esteira da alta do preço do petróleo Brent, ajudado pela clima de "risk-on" com a perspectiva de uma vacina.

Veja as cinco principais altas:

CÓDIGOEMPRESAPREÇO (R$)VARIAÇÃO
GOLL4Gol PN             21,05 19,94%
AZUL4Azul PN             30,71 18,43%
LREN3Lojas Renner ON             47,98 14,51%
MULT3Multiplan ON             24,52 14,05%
EMBR3Embraer ON                7,41 13,13%

Na outra ponta, ações que têm ido bem em 2020, marcando desempenhos positivos no acumulado do ano, caíram hoje, sugerindo que os investidores aproveitam para fazer uma troca de posições e realizar lucros.

O Magazine Luiza publica seus resultados nesta segunda, pós-mercado, e os agentes embolsaram lucros após uma expectativa positiva sobre o balanço elevar o preço da ação recentemente.

Outra coisa que chama a atenção de novo é a correlação entre o Nasdaq e empresas de e-commerce: o índice de tecnologia sofreu hoje com a "economia tradicional" sendo recompensada — o papel Magazine Luiza ON (MGLU3) sofreu junto.

Com ganhos de 10% no ano e após confirmar nova aquisição, ações Hapvida ON (HAPV3) caíram 2,35%. Confira as principais quedas do Ibovespa:

CÓDIGOEMPRESAPREÇO (R$)VARIAÇÃO
TOTS3Totvs ON             29,37 -5,47%
B3SA3B3 ON             53,85 -4,89%
VVAR3Via Varejo ON             18,54 -3,54%
MGLU3Magazine Luiza ON             26,45 -3,22%
BTOW3B2W ON             79,69 -3,15%

Volátil, dólar fecha perto da estabilidade; juros caem

Se no Ibovespa a coisa vai bem — e por bem leia-se "continuamente para cima", como têm sido as últimas sessões —, o mercado de câmbio foi mais volátil hoje.

O dólar fechou o pregão próximo do zero a zero, em uma pequena baixa de 0,04%, caindo para R$ 5,3917, após operar em forte queda durante toda a manhã e o início da tarde.

Com uma fraqueza impulsionada pela perspectiva de Joe Biden na presidência americana, como se confirmou, o preço mais barato do dólar atraiu compradores e moderou as perdas da moeda.

Na mínima, a divisa chegou a tombar 3,1%, para R$ 5,2252, desempenho que estava então em linha com a manutenção do ritmo de queda visto na semana passada — no período, a divisa caiu 6%.

"Em tempos de pandemia, a volatilidade e a amplitude da moeda está sendo testada a cada dia", diz Jefferson Rugik, diretor-superintendente da Correparti.

"A euforia sobre Biden e a divulgação de eficácia da vacina enfraqueceram o dólar, mas ele ficou relativamente barato frente ao que estava antes e os investidores aproveitaram para recompor suas posições defensivas", explica Rugik.

O especialista no mercado de câmbio afirma que, nas condições atuais da política fiscal, "é difícil abaixo de R$ 5,50". "Além do mais, no quarto trimestre tem uma questão sazonal: remessa de lucros e dividendos, ou seja saída de dólar, o que deve pressionar a moeda."

O dólar subiu frente a moedas fortes como euro, libra e iene, neste momento, segundo o Dollar Index (DXY), que tem avanço de 0,6%.

Os juros futuros, por sua vez, tiveram uma sessão consolidada no campo negativo e fecharam em queda. O movimento mais expressivo foi verificado nas taxas de contratos de vencimentos de prazos maiores, em uma reação à busca pelo risco.

"Os mercados tiveram uma melhora 100% explicada pelo exterior, mas no caso de juros e dólar essa melhora foi em parte limitada pelo risco fiscal que ainda existe aqui", diz Mauro Morelli, estrategista da Davos Investimentos, escritório filiado à XP Investimentos.

Apesar da queda, as taxas de juros saíram das mínimas em consonância com a redução da queda do dólar.

Hoje, a pesquisa Focus do Banco Central trouxe revisão altista — e forte — para a inflação em 2020. A mediana das estimativas de economistas passou de 3,02% na semana passada para 3,2% nesta. Confira as taxas dos principais vencimentos agora:

  • Janeiro/2021: de 1,929% para 1,925%
  • Janeiro/2022: de 3,31% para 3,29%
  • Janeiro/2023: de 4,86% para 4,81%
  • Janeiro/2025: de 6,51% para 6,42%

Exterior positivo

As bolsas americanas se mantiveram em uma forte toada. O Dow Jones, por exemplo, foi a nível recorde intradiário pela primeira vez desde fevereiro, chegando a subir 4,8% — terminou a sessão avançando 2,95%.

O Nasdaq, índice de ações de tecnologia, foi o único que recuou entre os principais índices americanos — apontando que os investidores trocaram de posições, se desfazendo de ações das empresas de tecnologia que amplamente se beneficiaram em meio à pandemia.

As ações da Pfizer subiram forte em Nova York (8,93%), após o anúncio da empresa a respeito da comprovação da eficácia de sua candidata à vacina nos testes clínicos.

A divulgação é mais um passo na direção à eventual utilização massiva de um imunizante contra a doença.

A Pfizer disse que está em curso a solicitação aos reguladores de saúde uma permissão para vender a vacina antes do final deste mês, se os dados pendentes indicarem que a vacina é segura.

A BioNTech, que também participa da produção da vacina com a Pfizer, se disse otimista de que o efeito de proteção da vacina experimental da empresa, desenvolvida em conjunto com a Pfizer, terá a duração de pelo menos um ano.

Em outra frente está o cenário político. Após três dias de apuração, Joe Biden foi dado como presidente eleito dos Estados Unidos.

Ao lado da vice-presidente Kamala Harris, Biden deve iniciar um impulso por um pacote de estímulos fiscais maior, o que também contribui para uma reação positiva do mercado.

Além disso, deverá de tratar assuntos de saúde pública, investimento em sustentabilidade e nova abordagem para a política externa e o comércio global, entre outras questões.

Em discurso de vitória no sábado, Biden prometeu trabalhar em direção a esses objetivos com o objetivo de unir uma nação profundamente dividida, destacando que "se pudemos decidir não cooperar, então podemos decidir cooperar".

No campo da pandemia, o democrata deverá registrar um tom mais agressivo diante do aumento de casos da doença, após um recorde de mais de 120 mil casos da covid-19 registrados.

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