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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Reformas

Até quando dura esse renovado otimismo com a Previdência?

Sentimento do mercado melhorou desde o fim da semana passada, mas é só isso, sentimento

Eduardo Campos
Eduardo Campos
11 de março de 2019
12:51 - atualizado às 17:40
Jair Bolsonaro ao lado do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia - Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Depois de enxergar o copo meio vazio com relação à reforma da Previdência, os mercados abrem a semana enxergando o copo meio cheio. Mas é só isso mesmo, uma questão de percepção, de “sentimento de mercado”, já que nada de concreto aconteceu e revezes na tramitação do texto são inevitáveis.

A melhora de percepção partiu do que parece ser uma mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro, que usou suas redes sociais e uma live no “Facebook” para defender o texto em sua integralidade.

Depois, o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, deu importante contribuição com entrevista ao “Estadão”. O ponto que mais chamou atenção foi a menção aos 48 votos que faltariam e também a sinalização que outras medidas serão tomadas, como a revisão do pacto federativo.

Sobre esses dois pontos, alguns amigos de mercado com os quais conversei têm elogios e reparos. A atuação de Bolsonaro é, sem dúvida, positiva, mas o presidente é uma “metralhadora” no “Twitter”, intercalando pontos relevantes da agenda econômica, com questões da sua agenda de costumes e ataques à imprensa. Assim, fica difícil, por ora, estimar um resultado dessa atuação.

Já a contagem de votos de Guedes pode ser vista como um “número aleatório”, pois a percepção é que essa etapa nem sequer começou, tento em vista que as comissões necessárias ao andamento da reforma não foram formalizadas. E, mesmo com isso, é difícil ainda montar um “mapa de forças” entre partidos e bancadas, em função dos muitos grupos de interesse que vão atuar contra e favoravelmente aos mais de 80 pontos distintos abordados no texto.

É a política

No lado mais prático da coisa, o “Estadão” também nos informa que após reunião no sábado, Bolsonaro autorizou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) a organizar e encaminhar pedidos de nomeação para o segundo escalão do governo. A exigência a Maia seria que os nomes tenham boa reputação.

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Esse é um ponto importante, pois parece colocar em choque a ideia de “velha política” com a “nova política” pregada por Bolsonaro na sua campanha. O assunto também esteve presente na entrevista de Paulo Guedes, que falou que a “nova política terá de valorizar os partidos”, mas eles não podem ser “mercenários”, mas sim temáticos e programáticos.

O ministro fala, ainda, desse “choque do antigo com o novo e não adianta acusar o governo de não querer fazer política como antigamente”. Ele reitera que “fomos eleitos para não fazer”, pois o jeito antigo está na cadeia e perdendo eleição. Mas assume, também, que ainda “não sabemos” qual é esse jeito novo, que “vamos aprender juntos”.

Guedes também afirma que está certa a ideia de valorizar os partidos, mas que negociar cargos “não está certo se for isso”.

É dessa curva de aprendizagem de uma pretendida “nova política” que devem surgir os revezes ao andamento não só para Previdência, mas de toda a agenda do governo. O Congresso dá sinais claros de que quer seguir no “velho modelo” e está ganhando essa disputa, pois Maia vai negociar cargos.

A questão é até que ponto o governo vai ceder, pois parece claro que as opções eram ceder algo ou partir para uma “ruptura” com o “velho modelo”, podendo resultar em total paralisia da agenda do governo.

Por outro lado, se ceder demais, o presidente vai contra os anseios da base que o elegeu e, aí sim, poderíamos ver a pressão das redes que o elegeram atuando em direção contrária.

No meio desse impasse de Palácios e gabinetes está a economia real, que continua patinando e sofrendo revisões para baixo nas estimativas de crescimento, e a massa de desempregados.

Esses conflitos envolvendo um governo que tenta formar uma base, um mercado que "quer acreditar", mas precisa ver uma estabilização da questão fiscal, com o lado real da economia, vão se intensificar, com reflexo direto no preço dos ativos financeiros.

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