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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
monopólio não é bom para ninguém

Castello Branco: Não há desmonte da Petrobras, há gestão de portfólio

Presidente da estatal disse que a empresa pretende investir US$ 105 bilhões e desinvestir entre US$ 30 bilhões a US$ 35 bilhões. Ele também contou que em dez anos a Petrobras perdeu R$ 180 bilhões tentando controlar preço dos combustíveis

Eduardo Campos
Eduardo Campos
11 de junho de 2019
11:26 - atualizado às 13:03
Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras
Imagem: Will Shutter/Câmara dos Deputados

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, disse que a estatal passou por duas grandes crises. Uma moral e outra de dívida que felizmente foram superadas, mas a empresa ainda inspira cuidados.

Em audiência na Comissão de Minas e Energia da Câmara, Castello Branco reforçou os pilares de atuação da empresa e rebateu as afirmações de que há um desmonte da estatal.

Segundo Castello Branco, não há desmonte nenhum, pois estão previstos investimentos de US$ 105 bilhões ao longo dos próximos anos, contra desinvestimentos de US$ 30 bilhões a US$ 35 bilhões.

“É necessário tirar ativos que em nossas mãos não são tão rentáveis e investir naqueles que trazem maior retorno. Não há desmonte, há simplesmente gestão de portfólio”, disse.

Depois de perguntas de deputados, Castello Branco disse que é um equívoco pensar que se entregam os ativos da empresa, pois "um vende e outro paga".

“Não existe entreguismo. Entreguismo é criar uma operação de gás no Uruguai que necessitou de 15 aportes de capital porque dá prejuízo. É transferência de renda do Brasil para o Uruguai. Isso é entreguismo”, disse, sendo aplaudido.

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Ele destacou bom tempo de sua fala inicial a explicar como o elevado endividamento da empresa tira competitividade e reduz a produção de riqueza para o país.

A dívida da empresa é de US$ 106 bilhões, o dobro da média das 10 principais empresas do setor. O que representa três vezes a geração de caixa da empresa, contra a média de 1 vezes do setor. “Pagamos juros elevados que consomem 25% da geração de caixa”, disse.

Segundo o presidente, a dívida alta e pagamento de juros elevados deixam a companha exposta à riscos de recessão global ou nova crise financeira.

A empresa paga US$ 7 bilhões em juro, recursos que segundo o presidente poderiam ser investidos em sistemas de produção com 150 mil barris diários, podendo gerar até US$ 3,3 bilhões em receita, o que resultaria em US$ 1,4 bilhão em tributos.

O retorno sobre o capital do setor é de cerca de 10,5% ao ano, contra 4% ao ano da Petrobras. “Para quem tem custo de capital de 11%, foi prejuízo. É como tomar dinheiro no banco a juro alto para aplicar na poupança”, explicou.

Assim, a Petrobras está fazendo a gestão de portfólio para focar recursos em petróleo e gás. “Entendemos que existem muito valor a ser gerado no petróleo e gás.”

Ainda de acordo com Castello Branco, a produção está estagnada há 10 anos. “Não saímos de 2 milhões de barris diários. Por isso é preciso reservar recursos para investir e “sair dessa armadilha da estagnação”.

Como exemplo de melhor uso do capital, ele falou da venda da TAG. Segundo o presidente, o retorno desse ativo era de 7%. “Podemos ter muito mais retorno usando recursos para financiar outros projetos no pré-sal”, disse.

“Precisamos focar recursos financeiros para ativos em que a empresa é a dona natural. Isso significa ser dono daquilo que conseguimos fazer melhor, que é exploração em águas profundas e ultra profundas”, afirmou.

Preço de combustíveis

Castello Branco disse ser totalmente impotente na determinação dos preços dos combustíveis. Ele lembrou que a empresa é responsável por cerca de um terço do preço da gasolina no país e que a carga tributária aqui é maior que em outros países.

Ele defendeu a política de paridade de preços com o mercado internacional, como sendo a atitude racional a se tomar.

Fazendo uma recapitulação de 2008 a 2018, o presidente disse que a tentativa de compensar preços externos no negócio de diesel gerou prejuízo nominal de R$ 120 bilhões. No mercado de gasolina, foram R$ 60 bilhões em prejuízo.  “O que significa que em 10 anos a Petrobras perdeu R$ 180 bilhões”, disse.

Segundo o Presidente, citando dados internacionais de 160 países, no período recente o preço do diesel tem ficado abaixo da média global. Aqui o diesel é mais barato que em 100 países. Alguns deliberadamente subsidiam, mas a diferença principal é a tributação. Gasolina tem panorama semelhante.

Caminhoneiros

Castello Branco explicou que a Petrobras “pouco pode fazer” pelo setor de transporte de carga. Segundo o presidente, houve um crescimento muito forte da frota entre 2008 e 2015, em comparação com o crescimento do PIB. Isso gerou um descompasso entre oferta e demanda.

Agravando a situação, o tabelamento de frete levou as grandes empresas e o agronegócios à verticalização, comprando frotas próprias.

Para exemplificar, ele citou que o licenciamento de veículos pesados e semipesados nos 12 meses encerrados em abril cresceu 86,7% contra 6,6% de leves e semi-leves, que são os mais utilizados pelos caminhoneiros autônomos.

Castello Branco lembrou que a empresa abandonou os reajustes diários do diesel e que está instituindo o cartão caminhoneiro, que garante preço do diesel por 30 dias. Se o preço cair, o caminhoneiro pode trocar os litros de diesel por dinheiro, para não ter eventual prejuízo.

Corrupção

Segundo Castello Branco, em resposta a pergunta de deputado, a corrupção na empresa apresentou um custo de R$ 6 bilhões, mas “acredito que foi muito mais do que isso”, pois o custo da corrupção vai além do que alguém extrair em benefício próprio.

A corrupção, segundo o presidente, retira recursos do Estado e das empresas estatais, prejudicando setores onde é sua obrigação atuar, como saúde, educação e infraestrutura. Além de criar um ambiente que desestimula o investimento, pois o sucesso nos negócios não depende de produtividade, mas sim “o que vale para triunfar são as conexões políticas”. A corrupção também coroe a crença na democracia.

Segundo Castello Branco, a Petrobras queimou dinheiro ao partir para compra de refinarias no mercado externo e construção de unidades por aqui ao invés de investir na produção do pré-sal. O que se gastou, disse o presidente, daria para comprar a maior empresa de refino do mundo e ainda sobraria US$ 20 bilhões “para outras coisas”.

Ainda sobre o desperdício de recursos feitos pela empresa, ele disse que seria melhor ter jogado o dinheiro de helicóptero sobre comunidades carentes. Ele comentava os gastos com a construção da refinaria Abreu e Lima.

A melhor forma de ressarcir a sociedade, segundo Castello Branco, é fazer investimento, gerando empregos e maior arrecadação de impostos.

Ao voltar ao assunto, ele disse que: "a Petrobras foi vítima de uma quadrilha de criminosos que quase nos leva à falência".

Não gosto de solidão

Segundo Castello Branco, monopólio não é bom para ninguém, por isso a empresa vai abrir caminho para que investidores privados "se juntem a nós".

"Não gosto de solidão nos mercados, gosto de companhia. Ter competidores que não são inimigos. Capitalismo é um negócio de cooperação, não de confrontação. Com mais competição, vamos ter mais valor e teremos preços mais baixos para os consumidores brasileiros", afirmou.

 

 

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