Sem Donald Trump, Bolsonaro deve ganhar os holofotes em Davos
Promessas de abertura do mercado brasileiro, o combate à corrupção e o discurso liberal da equipe econômica, liderada pelo economista Paulo Guedes, atraem as atenções de empresários e do governo da Suíça
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) fará sua estreia internacional no Fórum Econômico de Davos, que começará na semana que vem, e deverá assumir o protagonismo do evento, que não contará com as participações dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da França, Emmanuel Mácron.
As promessas de abertura do mercado brasileiro, o combate à corrupção e o discurso liberal da equipe econômica, liderada pelo economista Paulo Guedes, atraem as atenções de empresários e do governo da Suíça. Mas o presidente brasileiro, que estará no evento entre os dias 22 e 24, também será cobrado a se posicionar sobre temas importantes, como defesa da floresta, imigrantes, igualdade de gênero e direitos humanos.
O discurso do presidente em áreas sociais constrange organizadores e autoridades, apurou o jornal "O Estado de S. Paulo". O foco será em sua agenda econômica, sobretudo o pacote de privatização e abertura comercial, além dos planos do ministro Sérgio Moro para combater a corrupção.
Davos sofreu, nos últimos dias, duas perdas importantes em sua programação, com o anúncio de que Trump e Macron não iriam comparecer ao evento internacional. Um dos dirigentes do fórum não escondeu que, diante dessas desistências, Bolsonaro desponta como "uma das principais atenções" da edição do evento em 2019.
Uma lista preliminar dos convidados obtida pelo jornal revela que, de fato, a presença de chefes de Estado traz nomes de pouco destaque internacional. As apostas recaem sobre a participação de países latino-americanos, com a presença de líderes eleitos no ano passado, como o presidente da Colômbia, Ivan Duque, e Lenin Moreno, do Equador, além de Mario Abdo Benitez, do Paraguai.
Comitiva
Além de Bolsonaro, a comitiva vai contar com os ministros da Fazenda, Paulo Guedes; da Justiça, Sérgio Moro; e o chanceler Ernesto Araujo. O filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, também estará presente. A lista ainda inclui o governador de São Paulo, João Doria, e Luciano Huck, ainda que ele seja classificado na agenda do Fórum apenas como um "apresentador de TV".
O setor privado estará representado pela Apex-Brasil e executivos do Bradesco, do Banco BTG Pactual - que terá a presença do banqueiro André Esteves -, Eletrobrás, Embraer, Itaú Unibanco, Petrobrás e Vale.
"Há muita curiosidade para saber o que Bolsonaro é e o que pensa. Mas, mais que ouvir Bolsonaro, os empresários vão querer buscar garantias com seu ministro da Fazenda (Paulo Guedes)", comentou um dos diretores de Davos, na condição de anonimato. "Ele é de Chicago e isso, claro, dá certo conforto a muitos que estarão em Davos", disse, em referência ao fato de Guedes seguir uma linha de pensamento desenvolvida na universidade da cidade americana em que o liberalismo é o grande foco.
Moro também ganhará protagonismo. O ex-juiz fará apresentação aos empresários sobre seus planos para reforçar o combate à corrupção. O fórum, que chegou a entregar um prêmio de estadista do ano para Luiz Inácio Lula da Silva, tinha Marcelo Odebrecht como um de seus copresidentes e ainda a Petrobrás como apoiadora financeira de uma campanha contra a corrupção.
Hoje, entre os organizadores do fórum, não se disfarça o mal-estar diante de algumas das primeiras decisões do presidente brasileiro relativas a minorias e à proteção do meio ambiente. Tampouco é apreciado o ataque constante do chanceler Ernesto Araújo contra o "globalismo". Davos, para muitos na Suíça, foi uma das peças centrais desse processo de construção de uma ordem mundial a partir dos anos 1990.
Pauta
Autoridades europeias acreditam que está na hora de "fazer negócios" com o Brasil. O presidente da Suíça, Ueli Maurer, e também membro da direita conservadora, tenta um encontro com o presidente Jair Bolsonaro. Na pauta está a aceleração do processo para tentar fechar um acordo entre o Mercosul e o bloco composto pela Suíça e Noruega.
Nem todos na Suíça, porém, aceitam um diálogo apenas sobre economia com Bolsonaro. Para a imprensa suíça, o deputado Carlo Sommaruga chamou o presidente brasileiro de "figura terrível" e exigiu que o governo, ao negociar com o Brasil um acordo de livre comércio, fale em assuntos como democracia, direitos humanos e minorias.
Elisabeth Schneider-Schneiter, outra deputada suíça, também quer que seu governo insista em tratar com Bolsonaro sobre "os valores suíços da democracia, dos direitos humanos e do Estado de direito".
*Com Estadão Conteúdo