Para Eduardo Guardia, reforma administrativa deve ser prioridade após Previdência
Segundo ele, a razão é que a reforma tributária envolve três esferas do governo (federação, Estados e municípios) e está mais relacionada à produtividade. Logo, é muito mais complexa, especialmente porque envolve vários grupos de interesse
Com a experiência de quem já sentou na cadeira de ministro da Fazenda durante o governo Temer, o atual CEO da BTG Pactual Asset Management, Eduardo Guardia, disse que a próxima prioridade do governo deve ser a reforma administrativa, após a aprovação da Previdência.
Em um bate-papo feito com jornalistas nesta manhã (15), ele destacou que a razão é que a reforma tributária envolve três esferas do governo (federação, Estados e municípios) e está mais relacionada à produtividade. Logo, é muito mais complexa, especialmente porque envolve vários grupos de interesse.
"Não há um consenso sobre a reforma tributária. Ela não será neutra por definição entre os setores. A administrativa, por sua vez, é mais limitada a grupos de interesse porque atinge mais os servidores públicos. Por isso, se eu estivesse que escolher agora, eu iria primeiro com a reforma administrativa", destaca o CEO.
Guardia comentou ainda que a reforma da Previdência já está precificada e que espera a sua aprovação para que outros temas mais complexos sejam trazidos para a pauta do Congresso, já que ela seria apenas "uma condição para permanecer no jogo e reorganizar as finanças públicas".
O CEO pontuou ainda que nem mesmo as richas internas recentes entre integrantes do PSL podem afetar a sua aprovação.
4% é razoável para Selic
Já ao comentar sobre a redução na taxa de juros, o ex-ministro da Fazenda do governo Temer espera que a taxa básica de juros (Selic) fique entre 4,5% e 4% até o fim de 2020, mas ressaltou que 4% é um percentual viável.
Guardia disse ainda que esse será o principal fator que trará dinamismo a economia. Ele reforça o que vem sendo dito pelo mercado que de que a inflação está controlada, com expectativas ancoradas, ampla folga econômica e consolidação fiscal. Ontem (14) mesmo, o Itaú fez um movimento parecido e disse que a taxa de juros pode alcançar o patamar de 4% em 2020.
A mediana do mercado captada pelo Focus também mostra um juro básico em 4,75% no fim de 2019 e de 2020.
E isso consequente vai impactar na expectativa de crescimento para o PIB. Na visão de Guardia, o indicador também deve alcançar uma expansão em linha com o que aponta o mercado no Boletim Focus. Para ele, o PIB deve crescer 0,8% neste ano e no próximo a expectativa é de 2%.
"Hoje, a condução de política econômica é correta e o país trabalha na consolidação fiscal com corte de despesas, medidas constitucionais e diminuição do tamanho do Estado na economia", pontuou o ex-ministro da Fazenda.
Guardia disse também que espera um ambiente de negócios melhor, já que o país está se comprometendo com as coisas certas e que o "resultado disso será uma economia mais eficiente".
Mudança nos investimentos
Mesmo sem falar até onde a bolsa de valores pode ir neste ano, Guardia destacou que vê bastante potencial para uma valorização de ativos de renda variável, especialmente porque o custo da dívida ficará cada vez menor em um cenário de juros baixos. Com isso, as empresas ficarão menos endividadas e terão mais caixa livre para investir.
Outro ponto positivo é a questão de que as empresas estão trocando as dívidas no mercado externo pelo mercado interno, com prazos mais alongados, o que é um movimento bastante saudável para as companhias.
Ele comentou ainda que a queda da taxa de juros está forçando o banco a aumentar o seu leque de produtos. Mesmo sem comentar sobre possíveis lançamentos voltados para os investidores de varejo, ele disse apenas que está buscando oferecer cada vez mais oportunidades de fundos de infraestrutura e que está diversificando as opções do mercado imobiliário, com fundos de shoppings, lajes corporativas etc.
Investigações
Ao ser questionado sobre as recentes investigações envolvendo o BTG Pactual, Guardia disse que não houve impacto nos negócios do banco.
"O nosso cliente entendeu o que aconteceu. Estamos crescendo e vamos continuar crescendo. Não houve impacto no negócio. Comunicamos isso com os fatos relevantes", pontuou Guardia.
Ele reiterou que o BTG Pactual não era o administrador do fundo em questão e que não participava da decisão de investimento.
Entenda a investigação mais recente
No início deste mês, o Ministério Público Federal em São Paulo em conjunto com a Polícia Federal deflagraram operação "Estrela Cadente", que investiga vazamentos de resultados de reunião do Copom ocorridos entre os anos de 2010 e 2012.
A investigação apura o contexto de obtenção de vantagens ilícitas mútuas entre banqueiros e agentes públicos do alto escalão do governo federal da época. O favorecido seria um fundo de investimento administrado e não gerido pelo banco BTG Pactual chamado Fundo Bintang FIM.
De porte dessa informação, tal fundo teria obtido lucros extraordinários de dezenas de milhões de reais. O nome da operação é uma possível referência à palavra Bintang, que significa "estrela" em indonésio.
Após a divulgação da notícia, as units do BTG (BPAC11) despencaram na bolsa e chegaram a cair 10%.
Um pouco depois, as ações mais líquidas do banco diminuíram um pouco as perdas. No fim do pregão, as units do BTG terminaram o pregão do dia 3 deste mês cotadas em R$ 54,15, uma queda de 3,78%.