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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Virando farinha

Ações da M. Dias Branco desabam e vão às mínimas em mais de sete meses

O balanço trimestral da M. Dias Branco foi duramente criticado por analistas e fez os papéis da empresa entrarem numa espiral descendente nesta segunda-feira (13), voltando aos níveis de outubro do ano passado

Victor Aguiar
Victor Aguiar
13 de maio de 2019
15:32 - atualizado às 18:38
M. Dias Branco MDIA3
Estande da M. Dias Branco na Super Rio Expofood - Imagem: Divulgação

Uma das líderes nacionais no setor de biscoitos e massas, a M. Dias Branco teve um dia para ser esquecido na B3. As ações ON da empresa (MDIA3) operaram em forte queda desde o início do pregão desta segunda-feira (13) — e o mau desempenho esteve diretamente relacionado ao balanço trimestral da companhia.

Dona de marcas como Adria e Piraquê, a M. Dias Branco encerrou o primeiro trimestre de 2019 com lucro líquido de R$ 56,9 milhões, uma queda de 59,3% ante o mesmo período do ano passado. E, como resultado, os papéis da empresa fecharam o primeiro pregão da semana com baixa de 7,64%, a R$ 38,70.

Esta é a menor cotação de encerramento desde primeiro de outubro de 2018, quando os papéis terminaram a sessão a R$ 38,68. Na mínima desta segunda-feira, as ações chegaram a ser negociadas a R$ 38,10 (-9,07%).

Mas não foi só a queda no lucro líquido que desagradou o mercado. Outros pontos do balanço da companhia trouxeram preocupação e geraram uma venda em massa dos papéis da companhia nesta segunda-feira.

A primeira linha do balanço da M. Dias Branco — isto é, a receita líquida — não gerou preocupação à primeira vista, mostrando expansão de 8,2% na base anual, para R$ 1,317 bilhão. Mas, a partir daí, uma análise com lupa começa a revelar uma série e problemas.

Em primeiro lugar, a receita só cresceu porque os resultados do primeiro trimestre já incluem a Piraquê, cuja aquisição foi concluída em maio do ano passado. Excluindo o novo ativo da conta, a receita líquida da M. Dias Branco teria recuado 3,7% na base anual.

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Além disso, o volume de vendas total da empresa teve queda de 7,3% em um ano, para 389,3 mil toneladas — e isso já incluindo a Piraquê. Sem ela, o volume total teria caído 11,6%.

Segundo a M. Dias Branco, essa queda nas vendas se deve aos níveis elevados de estoques dos clientes nos primeiros 45 dias do ano, o que reduziu a demanda pelos produtos. Assim, o aumento da receita mesmo num cenário de redução no volume de vendas só foi possível graças ao aumento do ticket médio em todas as linhas comercializadas pela empresa.

Só que, a partir daí, um segundo fator impactou fortemente os resultados da companhia: o aumento de 36,9% no preço do trigo em reais em relação aos três primeiros meses do ano passado — o que, obviamente, não é nada bom para uma fabricante de biscoitos e massas. Com isso, os custos dos produtos vendidos aumentaram 15,7% entre na mesma base de comparação, chegando a R$ 926,1 milhões.

O "efeito trigo" foi sentido especialmente no Ebitda — isto é, o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização —, que caiu 38,9%, para R$ 112,1 milhões. A margem Ebitda despencou, indo de 15,1% entre janeiro e março do ano passado para 8,5% no mesmo intervalo de 2019.

Comportamento de MDIA3 no dia 13 de maio

 

Mea culpa

A própria M. Dias Branco reconheceu que os resultados do trimestre ficaram longe do ideal e listou uma série de iniciativas para reduzir os custos fixos e aumentar a lucratividade de suas operações — segundo a empresa, alguns desses passos já estavam em andamento.

Entre outros pontos, a empresa diz que atuará para reduzir o quadro de colaboradores, através de desligamentos e programa de demissão voluntária (PDV), e que irá rever diversos contratos, inclusive de funcionários terceirizados.

Além disso, a companhia afirma que promoverá investimentos na cadeia de suprimentos, com destaque para novos centros de distribuição e para a ampliação das áreas de expedição. Uma terceira iniciativa é o lançamento de produtos de maior agregado.

Analistas decepcionados

O mea culpa da M. Dias Branco não foi suficiente para comover os analistas, que criticaram duramente o balanço da M. Dias Branco. Em relatório, o Itaú BBA destaca que a empresa encerrou o trimestre com as margens mais fracas nos mais de 10 anos em que a companhia está listada na bolsa.

"O Ebitda ficou 38% abaixo de nossa estimativa", escreve o Itaú BBA, ressaltando que o lucro líquido também ficou abaixo das projeções. "Esperávamos por um trimestre difícil e com forte pressão no lado dos custos, mas os volumes ficaram mais de dois dígitos abaixo de nossas previsões".

O BTG Pactual seguiu linha semelhante, mostrando-se surpreso com a fraqueza dos números — o banco destaca que, sem a Piraquê, os volumes de vendas da empresa voltaram aos níveis do primeiro trimestre de 2012.

Em função dos resultados, o BTG cortou o preço-alvo para os papéis da M. Dias Branco, de R$ 45,00 para R$ 40,00, embora tenha mantido recomendação "neutra" para as ações. Já o Itaú BBA não alterou sua visão para os ativos: permanece "neutro", com preço-alvo de R$ 44,00.

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