Você vendeu em maio?
Por mais que hoje o dia possa ser difícil — a julgar pelo comportamento desta manhã lá fora —, se você seguiu essa bobagem de “Sell in May and Go Away”, perdeu a chance de ganhar muito dinheiro em maio

“Onde está o perigo cresce também o que salva.”
Friedrich Holderlin
“Sell in May and Go Away.”
Talvez você tenha se deparado com essa frase um mês atrás. Ela pretendia passar a suposta sabedoria de que o investidor deve vender Bolsa e ativos de risco em geral e ir embora, voltando apenas entre agosto e setembro. A ideia subjacente era de que, com as férias no Hemisfério Norte, não há força compradora por partes dos gringos. Então, os mercados tendem a cair nesse intervalo de tempo.
Seria tão simples se as coisas fossem tão fáceis assim. Você acha mesmo que uma regra de bolso tão trivial quanto essa poderia fazê-lo ganhar dinheiro num ambiente tão competitivo quanto o mercado, que, por oferecer uma das maiores compensações financeiras de toda a economia, atrai algumas das melhores cabeças disponíveis?
Ora, se todos sabem que em maio vai cair, começamos a vender em abril — afinal, queremos nos antecipar ao movimento alheio e nos desfazer já no quarto mês do ano a um preço mais atraente. Ah, mas se eu sei que muitos vão tentar antecipar o movimento de maio para abril, já vou logo vender em março e ser mais esperto do que todo mundo. Hmm... sendo assim, talvez seja melhor já sair em fevereiro. Por que não janeiro? E assim a coisa continua regressiva e infinitamente…
Profetas do apocalipse
Onde estão os profetas do apocalipse sobre o mês de maio? Esconderam-se agora? Não era tão óbvio que tudo cairia? Que a guerra comercial lá fora devolveria as preocupações com recessão global iminente? E que haveria ruptura institucional no Brasil depois daquele encaminhamento polêmico feito por Jair Bolsonaro sobre a ingovernabilidade do país?
Leia Também
Sabe qual é o problema das pessoas que falam, escrevem ou preconizam algo sobre os mercados? Elas não sabem de mercado. Simplesmente porque não praticam ou não vivem disso. E as finanças pertencem aos praticantes. Luiz Gustavo Teco Medina é a exceção que confirma a regra, justamente porque teve distribuidora e alocava recursos; era um praticante, tendo feito isso por muito tempo. E ainda que possam dizer por aí que é difícil ensinar truques novos a cães velhos, eu acho que o difícil mesmo é ensinar truques velhos a cães novos.
O mercado é um ambiente próprio, com seu ecossistema, sua fauna e sua flora particulares. George Soros costuma dizer: “I am an animal of the markets” (eu sou um animal dos mercados).
Lembro de uma de minhas primeiras conversas com um banqueiro brasileiro, foi bem na época daquele rolo com o Neon, o assunto estava quente, só se falava disso no dia e ele entrou na sala dizendo algo mais ou menos assim: “Muito legal essa história de fintech descolada, mas pedi pro pessoal aqui focar no que interessa. Peso chileno tá caindo 10 por cento sem motivo e ninguém tava fazendo nada. A gente tava deixando passar uma megaoportunidade de trade por ter tirado o olho da bola. Legal ficar pensando na decoração do restaurante, mas quem tá fritando o bife na cozinha?”.
Esse é o espírito. Money talks, BS walks.
Por mais que hoje o dia possa ser difícil — a julgar pelo comportamento desta manhã lá fora diante dos temores mais do que renovados sobre guerra comercial —, se você seguiu essa bobagem de “Sell in May and Go Away”, perdeu a chance de ganhar muito dinheiro em maio.
Em Bolsa, ainda que o Ibovespa como um todo não reflita isso, se você escolheu bem, teve uma performance bem interessante, porque a dispersão entre os resultados de várias ações foi brutal. O book de ações da Carteira Empiricus, por exemplo, subiu até ontem nada menos do que 9,35 por cento só em maio — no ano, ele avança 24,16 por cento.
Fique claro: não foi exclusividade da Bolsa. Você viu o que aconteceu com o mercado de juros? Viu os ganhos de suas NTNBs ou de seus prefixados? Aqui, contra tudo e contra todos, mantivemos o call de B50 e apuramos ganhos de renda variável na renda fixa. Os fundos imobiliários foram outra porrada, empurrados também pela perspectiva de queda da Selic no segundo semestre.
Não estou dizendo que foi fácil. Nunca é. Apurar retornos acima do CDI é difícil pra caramba. O mercado é um ambiente altamente randômico e sujeito à aleatoriedade. Tomamos decisões diariamente num ambiente de total incerteza. Escolhemos ex-ante tentando antecipar um resultado que só será conhecido ex-post.
Não precisamos ir longe no argumento. No ano passado, passamos nove meses morrendo de medo de uma disparada do rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano por conta de um superaquecimento óbvio da economia dos EUA. Então, de súbito, o temor em outubro virou para recessão global, sem ninguém esperar. Wall Street teve seu pior dezembro desde 1931.
Já em 2019, não ia mais ter recessão global, pois um acordo entre os americanos e os chineses sobre as tarifas viria a qualquer momento. Aí então, num piscar de olhos ou de caracteres (sei lá), Donald Trump foi ao Twitter para dizer que não haveria acordo algum. Aqui estamos nós receosos de novo com a guerra comercial, agora percebida como um jogo de anos, não de semanas — como Stephen Jen (gosto dele!) disse à Bloomberg: “Esta disputa será um processo que provavelmente vai durar o tempo de nossas carreiras”. Ray Dalio completou alertando não se tratar apenas de uma questão comercial, mas de dois modelos diferentes, de desenvolvimento e hegemonia política, até mesmo de filosofia de vida.
O Ibovespa
Aterrissando no Brasil e, mais especificamente, no mês de maio, também fomos do céu ao inferno, não necessariamente nessa ordem. O Ibovespa ameaçou perder os 90 mil pontos, sob o temor de falta de articulação política e abandono da agenda de reformas.
Com o atrito entre Executivo e Legislativo levando, suposta e inexoravelmente, a uma ruptura institucional — nonada! Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, não. A tal briga virou namoro, em uma nova evidência empírica daquela já famigerada tese aqui apresentada: o Brasil não explode. Ele até ameaça, mas é covarde. Olha para o buraco e não cai, porque é maior do que o buraco. Onde está o perigo cresce também o que salva. Apresentando a mesma ideia de outra forma, é aquela noção de que vivemos num cercadinho: batemos na banda inferior e voltamos para o meio. Então, começamos a melhorar e, quando encostamos no limite superior, retornamos à mediocridade e à complacência novamente. A notícia boa é que estamos próximos, bem próximos ao piso da banda.
De tudo isso, gostaria que você guardasse algumas coisas:
• Não acredite em heurísticas prontas do tipo “Sell in May and Go Away”. Elas não funcionam. O mercado é muito mais eficiente do que isso informacionalmente. Lendas urbanas não passam de… lendas urbanas.
• Desista de ficar “timing the market”, de adivinhar ponto certo de entrada e saída. “Vou comprar nos 90 mil e vender nos 95 mil.” De repente, a coisa muda sem você saber e você perde todo o movimento. O desempenho de curto prazo dos mercados é absolutamente randômico. Eu adoraria saber o que vai acontecer na semana que vem. Mas eu não posso. Como a personagem de Charlie Sheen em “Wall Street”, gostaria de poder contar hoje com as notícias que estarão nas manchetes dos jornais amanhã. Ainda não descobri método capaz de entregar-me essa pequena façanha.
• Apegue-se a teses estruturais, saiba que o mercado vai testar sua convicção quase todos os dias. Seja suficientemente persistente e perseverante, tomando, ao mesmo tempo, o cuidado de não ser teimoso e rígido demais. Sim, eu sei: é difícil pra caramba.
• Nunca se alavanque. Sob a espada de Dâmocles na sua cabeça, dificilmente você terá a serenidade de perseguir, mesmo diante da adversidade. Para cada trader alavancado bem-sucedido estampando a capa do InfoMoney, há outros dez no cemitério dos fracassados, cuja história não desperta interesse algum e jamais poderá ser conhecida.
• Acima de tudo, tenha um método, uma filosofia de investimento. Adote uma postura de humildade epistemológica perante o mercado e perante os outros investidores (que são iguaizinhos a você e megainteligentes). O único almoço grátis disponível é a diversificação.
Encerro com a imagem que o brilhante Fernando Ferrer acaba de enviar ao meu e-mail. Ela reflete o comportamento da Carteira Empiricus, em maio, no ano e desde sua criação há pouco mais de quatro anos. O portfólio sobe, até ontem, 4,33 por cento no mês. No ano, a alta é de 11,19 por cento, equivalente a 433 por cento. No acumulado desde o começo, a Carteira entrega 221 por cento.
Talvez você diga que foi sorte, de novo. E sinceramente eu não poderia discordar. Aquele que conhecer as causas saberá o futuro. Num ambiente de incerteza e aleatoriedade, jamais poderemos saber o que foi sorte e o que foi competência. Mas aconteceu, e foi durante a “maldição do mês de maio”. Prefiro que seja assim.
Sabe o que faremos em junho depois desse excepcional mês de maio? Começaremos de novo, como se nada tivesse acontecido, novamente obcecados por bons resultados, sob o devido gerenciamento de risco — acima de tudo, não perder o dinheiro do assinante. Porque é disso que se trata o mercado, entende? Não há linha de chegada. O que importa mesmo é a travessia.
A situação é semelhante àquela de Sísifo, o homem que desafiou os deuses e, por isso, teve como punição ter de empurrar uma pedra do pé até o topo de uma montanha; ao chegar bem perto do cume, a pedra rolaria para baixo e ele teria que começar tudo de novo, no processo para toda a eternidade.
Pode parecer ruim, mas como bem percebeu Albert Camus, Sísifo vive a vida ao máximo e odeia a morte, mesmo diante de uma tarefa sem sentido.
Depois dos ganhos de maio, vamos em busca de mais em junho.
É hora de aproveitar a sangria dos mercados para investir na China? Guerra tarifária contra os EUA é um risco, mas torneira de estímulos de Xi pode ir longe
Parceria entre a B3 e bolsas da China pode estreitar o laço entre os investidores do dois países e permitir uma exposição direta às empresas chinesas que nem os EUA conseguem oferecer; veja quais são as opções para os investidores brasileiros investirem hoje no Gigante Asiático
EUA aprovam bolsa de valores focada em sustentabilidade, que pode começar a operar em 2026
A Green Impact Exchange pretende operar em um mercado estimado em US$ 35 trilhões
Ações da Brava Energia (BRAV3) sobem forte e lideram altas do Ibovespa — desta vez, o petróleo não é o único “culpado”
O desempenho forte acontece em uma sessão positiva para o setor de petróleo, mas a valorização da commodity no exterior não é o principal catalisador das ações BRAV3 hoje
Acionistas da Petrobras (PETR4) votam hoje a eleição de novos conselheiros e pagamento de dividendos bilionários. Saiba o que está em jogo
No centro da disputa pelas oito cadeiras disponíveis no conselho de administração está o governo federal, que tenta manter as posições do chairman Pietro Mendes e da CEO, Magda Chambriard
Até tu, Nvidia? “Queridinha” do mercado tomba sob Trump; o que esperar do mercado nesta quarta
Bolsas continuam de olho nas tarifas dos EUA e avaliam dados do PIB da China; por aqui, investidores reagem a relatório da Vale
Como declarar ações no imposto de renda 2025
Declarar ações no imposto de renda não é trivial, e não é na hora de declarar que você deve recolher o imposto sobre o investimento. Felizmente a pessoa física conta com um limite de isenção. Saiba todos os detalhes sobre como declarar a posse, compra, venda, lucros e prejuízos com ações no IR 2025
Tarifaço de Trump pode não resultar em mais inflação, diz CIO da Empiricus Gestão; queda de preços e desaceleração global são mais prováveis
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, fala sobre política do caos de Trump e de como os mercados globais devem reagir à sua guerra tarifária
As empresas não querem mais saber da bolsa? Puxada por debêntures, renda fixa domina o mercado com apetite por títulos isentos de IR
Com Selic elevada e incertezas no horizonte, emissões de ações vão de mal a pior, e companhias preferem captar recursos via dívida — no Brasil e no exterior; CRIs e CRAs, no entanto, veem emissões caírem
Dividendos da Petrobras (PETR4) podem cair junto com o preço do petróleo; é hora de trocar as ações pelos títulos de dívida da estatal?
Dívida da empresa emitida no exterior oferece juros na faixa dos 6%, em dólar, com opções que podem ser adquiridas em contas internacionais locais
Península de saída do Atacadão: Família Diniz deixa quadro de acionistas do Carrefour (CRFB3) dias antes de votação sobre OPA
Após reduzir a fatia que detinha na varejista alimentar ao longo dos últimos meses, a Península decidiu vender de vez toda a participação restante no Atacadão
Azul (AZUL4) busca até R$ 4 bilhões em oferta de ações e oferece “presente” para acionistas que entrarem no follow-on; ações sobem forte na B3
Com potencial de superar os R$ 4 bilhões com a oferta, a companhia aérea pretende usar recursos para melhorar estrutura de capital e quitar dívidas com credores
Após semana intensa, bolsas conseguem fechar no azul apesar de nova elevação tarifária pela China; ouro bate recorde a US$ 3.200
Clima ainda é de cautela nos mercados, mas dia foi de recuperação de perdas para o Ibovespa e os índices das bolsas de NY
Dia de ressaca na bolsa: Depois do rali com o recuo de Trump, Wall Street e Ibovespa se preparam para a inflação nos EUA
Passo atrás de Trump na guerra comercial animou os mercados na quarta-feira, mas investidores já começam a colocar os pés no chão
Não foi só o Banco Master: entre os CDBs mais rentáveis de março, prefixado do Santander paga 15,72%, e banco chinês oferece 9,4% + IPCA
Levantamento da Quantum Finance traz as emissões com taxas acima da média do mercado; no mês passado, estoque de CDBs no país chegou a R$ 2,57 trilhões, alta de 14,3% na base anual
Brava Energia (BRAV3) e petroleiras tombam em bloco na B3, mas analistas veem duas ações atraentes para investir agora
O empurrão nas ações de petroleiras segue o agravamento da guerra comercial mundial, com retaliações da China e Europa às tarifas de Donald Trump
Sem pílula de veneno: Casas Bahia (BHIA3) derruba barreira contra ofertas hostis; decisão segue recuo de Michael Klein na disputa por cadeira no conselho
Entre as medidas que seriam discutidas em AGE, que foi cancelada pela varejista, estava uma potencial alteração do estatuto para incluir disposições sobre uma poison pill; entenda
“Trump vai demorar um pouco mais para entrar em pânico”, prevê gestor — mas isso não é motivo para se desiludir com a bolsa brasileira agora
Para André Lion, sócio e gestor da estratégia de renda variável da Ibiuna Investimentos, não é porque as bolsas globais caíram que Trump voltará atrás na guerra comercial
Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed
Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China
Renda fixa para abril chega a pagar acima de 9% + IPCA, sem IR; recomendações já incluem prefixados, de olho em juros mais comportados
O Seu Dinheiro compilou as carteiras do BB, Itaú BBA, BTG e XP, que recomendaram os melhores papéis para investir no mês
CEO da Embraer (EMBR3): tarifas de Trump não intimidam planos de US$ 10 bilhões em receita até 2030; empresa também quer listar BDRs da Eve na B3
A projeção da Embraer é de que, apenas neste ano, a receita líquida média atinja US$ 7,3 bilhões — sem considerar a performance da subsidiária Eve