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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Além da poupança, claro

Onde os brasileiros investiram em 2018

Quem tem renda mais alta buscou um pouco mais de risco, mas varejão continuou com os pés fincados na poupança (sem necessidade)

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
11 de fevereiro de 2019
18:16 - atualizado às 14:10
Onde investir em 2019: cenário para cada classe de ativos
Fundos multimercados, renda variável, debêntures e previdência privada devem continuar se destacando neste ano - Imagem: Ilustração: Pomb

Apesar dos juros baixos, os investidores brasileiros de varejo permaneceram com os pés fincados na caderneta de poupança em 2018. O volume depositado na mais popular das aplicações inclusive aumentou um pouquinho.

Felizmente, ao menos nos segmentos de renda mais elevada - varejo alta renda e private - os investidores deram continuidade ao movimento de diversificação e busca por aplicações de maior risco.

A Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) divulgou, nesta segunda-feira (11) os resultados dos investimentos das pessoas físicas em 2018.

Segundo a entidade, o volume investido pelos brasileiros cresceu 9,0% no ano passado, em relação ao período anterior, superando a Selic média de 6,4% no ano em 2,6 pontos percentuais (tanto captação quanto o rendimento das aplicações são levados em conta).

Em 2017, o crescimento no volume dos investimentos, de 11,4%, superou a Selic média, que foi de 9,9%, em 1,5 ponto percentual. O resultado foi diferente dos dois anos anteriores, quando o aumento no volume foi inferior à taxa básica de juros.

No varejo, investidores continuam na poupança

Apesar dos juros mais baixos da história e do bom desempenho das aplicações de risco nos últimos dois anos, o volume aplicado na caderneta de poupança pelos investidores de varejo cresceu 10,0% em 2018, mais do que os 8,8% de 2017.

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A caderneta ainda representa 40% dos recursos investidos pelo varejo, principalmente entre as pessoas físicas de menor renda (varejo tradicional), onde chega a quase 65% do total dos investimentos.

No segmento de varejo alta renda, entretanto, os fundos de renda fixa detêm a maior participação, de quase 36% do volume de investimentos. Quando cobram baixas taxas de administração, esses fundos têm a capacidade de render mais que a poupança “nova”.

O destaque no varejo alta renda em 2018 foi o aumento da participação dos multimercados no volume total investido, de 7,8% para 9,6%. Poupança, ações e CDB também ganharam participação no segmento.

(Passe o mouse ou clique sobre as barras dos gráficos para ver os números)

É de se esperar que quem tem menos dinheiro para investir seja conservador, mas não há a menor necessidade de ficar na poupança.

Hoje em dia temos fundos ultraconservadores e baratíssimos em diversas corretoras, fora o Tesouro Direto, no qual já é possível investir sem taxa mesmo nos grandes bancos. Ambos podem render mais do que a poupança, podendo substituí-la tranquilamente.

A baixa rentabilidade da poupança foi, por sinal, um dos motivos para que o crescimento do volume investido pelo varejo tradicional tenha ficado abaixo da Selic em 2018.

Enquanto no varejo de alta renda e no private o crescimento foi de 12,1% e 10,7%, respectivamente, no varejo tradicional foi de apenas 4,7%.

Além disso, um aumento de consumo no primeiro semestre do ano passado contribuiu para que esses investidores de menor renda poupassem menos.

Em todo o varejo (tradicional + alta renda), os investimentos que viram maior crescimento no volume investido em 2018 foram os fundos de ações, os fundos cambiais, as ações e os multimercados, nesta ordem. Destes, apenas as ações e os fundos cambiais cresceram mais que em 2017.

Claro que, em se tratando de varejo, a base de comparação é pequena, pois há relativamente poucos recursos alocados nesses tipos de ativos.

Mas outros dois fatores podem explicar esse aumento no ano passado: a valorização dos ativos de risco, sobretudo a partir da campanha eleitoral, e a maior procura dos investidores por ativos mais arriscados, em função dos juros baixos.

Em todo o varejo, a indústria de fundos como um todo cresceu 10,8%, à frente do crescimento de 10,0% da poupança.

Onde investem os mais ricos

Já os recursos dos mais ricos, do segmento private, estão mais concentrados nos fundos multimercados. Estes e os fundos de ações, por sinal, foram os únicos cuja participação cresceu no segmento no ano passado.

Os maiores crescimentos em volume no ano passado se deram nos fundos cambiais, fundos de ações, debêntures e previdência aberta, nesta ordem.

Destes, apenas as debêntures cresceram mais que no ano anterior. Elas vêm se destacando cada vez mais entre os investidores mais abastados. Já a previdência aberta é muito usada para planejamento tributário e sucessório, e pode ganhar fôlego, segundo os representantes da Anbima, caso os fundos exclusivos passem realmente a ser tributados.

A Anbima considera, no segmento de private banking, os investidores que têm, no mínimo, R$ 3 milhões em ativos financeiros.

Uma observação sobre as compromissadas, as LCI e LCA

Você deve ter percebido, pelos gráficos, que o crescimento nas operações compromissadas, LCI e LCA nos últimos dois anos em todos os segmentos foi de baixo a negativo.

No caso das compromissadas, isso se deu, segundo representantes da Anbima, porque desde 2017 os bancos pararam de distribuí-las, por questões normativas.

Já no caso das LCI, LCA e demais ativos com lastro nos mercados imobiliário e agrícola, o problema não foi a redução de demanda pelos investidores, mas sim de oferta pelos emissores.

Esses investimentos só são ofertados quando há operações de crédito nos mercados que eles financiam, pois estas operações lastreiam os títulos.

Caso a economia brasileira de fato passe por uma retomada em 2019, é bem possível que as emissões desses ativos voltem a crescer.

Tendências

Para Cláudio Sanches, vice-presidente do Comitê de Varejo da Anbima, a tendência no varejo é uma maior disseminação de fundos multimercados, que funcionam como porta de entrada da pessoa física nos investimentos com um pouco mais de risco.

Com a Selic baixa e as perspectivas de retomada no crescimento econômico, esses fundos devem se destacar sobretudo no segmento de alta renda, dando continuidade à tendência dos fundos de baixar suas aplicações mínimas iniciais.

Deve haver ainda uma tendência maior de migração para a renda variável e para as debêntures, que devem se popularizar cada vez mais.

Entre os investidores do varejo tradicional, o Tesouro Direto deve continuar ganhando espaço. Apesar do crescimento da poupança em 2018 e da sua enorme participação neste segmento, o volume aplicado em títulos públicos pelo programa do governo federal cresceu 17,2% no ano passado, percentual superior aos 14,5% de 2017.

Já para João Albino, presidente do Comitê de Private Banking da Anbima, no private as debêntures e a previdência privada devem continuar ganhando espaço.

“Muitas empresas médias e grandes estão financiando suas dívidas em prazos entre sete e 15 anos, sobretudo com debêntures incentivadas. E há um grande apetite do público private por esse produto”, disse, em teleconferência para jornalistas.

“Para previdência privada, a tendência é que esse produto chegue em 14% o 15% de participação no segmento, salvo se os fundos exclusivos passarem a ser tributados. Nesse caso, poderia crescer até mais”, completou.

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