NotreDame Intermédica e BTG Pactual: saiba tudo sobre as novas integrantes do Ibovespa
A B3 divulgou hoje a nova versão do portfólio do Ibovespa, que será válida entre setembro e dezembro. E há duas novidades: NotreDame Intermédica e BTG Pactual
De quatro em quatro meses, a B3 faz uma nova escalação para os seus principais índices acionários. Papéis são excluídos ou incluídos, de acordo com a metodologia usada em cada carteira. Mas o que desperta a atenção de todo mundo é a convocação do Ibovespa — uma espécie de seleção brasileira.
E, nesta quinta-feira (29), a B3 exerceu o papel do técnico Tite, selecionando as ações mais importantes da bolsa para fazer parte do Ibovespa entre setembro e dezembro. E a lista trouxe surpresas.
E é claro que, assim como Neymar, Philippe Coutinho ou Gabriel Jesus, as estrelas do mercado acionário brasileiro seguem como titulares absolutas do Ibovespa: Itaú Unibanco, Vale, Bradesco e Petrobras continuam entre os papéis mais importantes na composição do portfólio.
Mas a lista da B3 incluiu duas novidades: as ações ON da NotreDame Intermédica (GNDI3) e as units do BTG Pactual (BPAC11) foram convocadas, sem que nenhum papel fosse excluído do índice. Com isso, a nova carteira do Ibovespa, que passará a valer a partir da próxima segunda-feira (2), contará com 68 ativos.
Caso você não saiba como a B3 define a escalação do principal índice da bolsa brasileira, eu recomendo a leitura desta matéria especial, feita pelo meu colega Fernando Pivetti. Mas, em resumo: empresas em recuperação judicial e 'penny stocks' — ações que valem menos de R$ 1,00 — não são elegíveis.
Excluídos esses papéis, a B3 utiliza uma série de critérios que incluem o volume médio de negociação, e a representatividade das ações no giro financeiro da bolsa como um todo.
Dito isso, caso você não acompanhe o mundo futebolístico/acionário de perto, deve estar se perguntando: quem são NotreDame Intermédica e BTG Pactual? Elas tem potencial para serem estrelas? Devo apostar minhas fichas nesses dois papéis nos próximos quatro meses?
Comecemos pela novidade menos surpreendente.
Jovem promissor
A operadora de planos de saúde NotreDame Intermédica estreou há pouco tempo na bolsa brasileira: as ações ordinárias da companhia chegaram à B3 em abril do ano passado, ao valor unitário de R$ 16,50. E, desde então, os papéis já deram um salto expressivo.
Considerando a cotação de fechamento do pregão da última quarta-feira (28), de R$ 51,35, as ações da empresa já acumulam uma valorização de 211%. Esse rápido avanço se deve, em grande parte, a dois fatores: a estratégia de crescimento via aquisições e os bons resultados financeiros obtidos nos últimos trimestres.
Somente em 2019, a NotreDame Intermédica já comprou três ativos: o hospital AMIU, no Rio de Janeiro; a operadora de planos odontológicos Belo Dente, sediada em Minas Gerais; e o grupo Ghelfond, rede especializada em exames de imagem que atua na região de São Paulo.
Além disso, a empresa realizou, neste ano, uma oferta pública secundária de 60 milhões de ações ordinárias, ao preço unitário de R$ 39,50, numa operação que gerou R$ 2,37 bilhões aos cofres da empresa.
Do ponto de vista operacional e financeiro, a NotreDame Intermédica fechou o segundo trimestre de 2019 com um lucro líquido de R$ 89,6 milhões, cifra 74,8% maior que a contabilizada no mesmo período do ano passado. A receita líquida da companhia avançou 34,5% na mesma base de comparação, para R$ 2,036 bilhões.
Ao fim de junho deste ano, a empresa tinha 4,978 milhões de beneficiários em sua carteira, um crescimento de 23,2% na base anual — desse montante, são 2,872 milhões de cadastros de planos de saúde (+35,1%) e 2,045 bilhões de contas de planos odontológicos (+9,7%).
O bom desempenho financeiro no segundo trimestre mostra que, além do crescimento via aquisições, a NotreDame Intermédica também tem conseguido se expandir de maneira orgânica. E, nessa conjuntura, os analistas têm se mostrado otimistas em relação à empresa.
Um levantamento feito pela Bloomberg mostra que, num universo com nove analistas que acompanham a empresa, oito possuem recomendação de compra para os papéis ON da companhia e apenas um tem classificação neutra para os ativos.
Mas, apesar de toda essa história positiva, vale a pena ter um pouco de cautela com as ações da NotreDame Intermédica. Afinal, após toda essa onda de valorização, muitos analistas também ponderam que os papéis já estão num nível relativamente elevado de preço.
O Bradesco BBI, por exemplo, tem preço-alvo de R$ 48,00 para os papéis ao fim deste ano, enquanto o BTG Pactual vê o nível de R$ 47,00 como justo para as ações num período de 12 meses. Já o Itaú BBA trabalha com um patamar mais baixo, fixando como alvo o valor de R$ 42 ao término de 2019.
Assim, mesmo com a perspectiva positiva para a empresa no curto e médio prazo, é preciso destacar que, atualmente, os papéis da NotreDame Intemédica estão sendo negociadas acima dos preços-alvo dessas três instituições.
Veterano esquentado
A segunda novidade na carteira do Ibovespa é a inclusão das units do BTG Pactual. E, de fato, a convocação desses papéis pegou muita gente de surpresa: o banco não constava em nenhuma das duas prévias do índice, ao contrário das ações ON da NotreDame Intermédica, que foram escaladas nesses dois amistosos.
Mas uma coisa que esses dois ativos têm em comum é o bom desempenho recente: somente em 2019, as units do BTG acumulam ganhos de mais de 130%. Só que contar a história olhando apenas para esse número seria impreciso, já que, nos últimos dias, o banco tem enfrentado dias turbulentos.
Comecemos pelo lado financeiro: no segundo trimestre deste ano, o BTG reportou lucro líquido de R$ 972 milhões, um crescimento de 56,2% na base anual. O retorno austado anualizado sobre o patrimônio líquido chegou a 20,6% entre abril e junho de 2019 — no mesmo período do ano passado, era de 14,5%.
O bom desempenho operacional e financeiro dava amplo suporte aos ativos do BTG, que chegaram a ser negociados acima da faixa de R$ 60 no início deste mês. Mas o fluxo de notícias negativas associadas ao banco nos últimos dias provocou uma queda brusca nas cotações das units.
Na semana passada, uma nova fase da Operação Lava Jato teve como alvos o BTG Pactual e a Petrobras, apurando crimes de corrupção ativa e passiva. No início desta semana, uma notícia de que a Polícia Federal estaria investigando uma denúncia de envolvimento do banco num esquema de lavagem de dinheiro.
Essas duas novidades fizeram as units do BTG saírem do nível dos R$ 60 para o patamar de R$ 46 na última segunda-feira (26). Nos últimos pregões, contudo, os papéis recuperaram parte do terreno perdido: no fechamento de ontem, valiam R$ 53,32.
"É preciso ter cuidado com os papéis do BTG", diz um analista, referindo-se às incertezas relacionadas ao papel. "A modelagem da B3 não captura o teor das notícias que envolvem as empresas".
Vale lembrar que, por mais que os ativos do banco não estivessem presentes nas duas primeiras prévias do Ibovespa, as units não eram azarões completos. No mês passado, o próprio BTG Pactual afirmou, em relatório, que os ativos da companhia e os papéis da NotreDame Intermédica estavam bem cotados para entrar no índice, de acordo com a metologia de cálculo usada pela B3.
É importante ressaltar que, em meio ao noticiário turbulento enfrentado pelo BTG nos últimos dias, o volume de negociação dos ativos do banco deu um salto. Entre 2 e 22 de agosto, o giro financeiro médio das units foi de R$ 153 milhões por pregão. No dia 23, data da nova fase da Lava Jato, o montante negociado disparou para R$ 910 milhões.
Na segunda-feira (26), quando estourou a notícia de que a PF estaria investigando o esquema de lavagem de dinheiro, o giro foi ainda maior: R$ 1,06 bilhão. E, na terça-feira (27), as units movimentaram outros R$ 703 milhões.
Assim, por mais que os ativos do BTG estivessem bem cotados para serem convocados pela B3 para fazer parte do Ibovespa, é possível que estivessem 'batendo na trave', de acordo com os critérios de inclusão no índice. Mas, com o salto no volume financeiro dos últimos dias, as units podem ter garantido um lugar na lista de ultima hora.
De acordo com o levantamento da Bloomberg, os ativos do BTG Pactual possuem três recomendações de compra e outras três neutras.
Figurinhas cromadas
Dito tudo isso, como ficou a escalação do Ibovespa para os próximos quatro meses? Quem serão os destaques do índice?
Entre as estrelas, há poucas mudanças: Itaú Unibanco PN (ITUB4) será o papel de maior peso individual na composição do índice, com 9,482%. Em sequência, aparecem Vale ON (VALE3), com 8,076%, Bradesco PN (BBDC4), com 7,280%, Petrobras PN (PETR4), com 6,559%, e B3 ON (B3SA3), com 5,199%.
Entre maio e agosto, os ativos de maior importância na carteira eram Itaú Unibanco PN (9,997%), Vale ON (9,97%), Bradesco PN (8,754%), Petrobras PN (7,310%) e Petrobras ON (PETR3) (5,032%).
E as duas estreantes? NotreDame Intermédica ON terá um peso de 1,1058%, enquanto as units do BTG Pactual responderão por apenas 0,6107%.