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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
O fim da maldição de maio?

Após “pacto” de Bolsonaro, Ibovespa sobe mais de 1,5% e vira ao campo positivo no mês

Tanto o Ibovespa quanto o dólar tiveram uma sessão de alívio, com o mercado reagindo bem aos esforços do governo para melhorar a articulação política

Victor Aguiar
Victor Aguiar
28 de maio de 2019
10:28 - atualizado às 19:04
Selo marca a cobertura de mercados do Seu Dinheiro para o fechamento da Bolsa
Ibovespa retornou à faixa dos 96 mil pontos; dólar caiu a R$ 4,02, apesar da pressão no mercado de câmbio no exterior - Imagem: Seu Dinheiro

Pense num jogo de baralho — pode ser pôquer, truco, buraco, tranca, tanto faz. As regras mudam, mas uma coisa permanece constante: receber boas cartas é meio caminho andado para ter sucesso na partida.

Os mercados brasileiros vinham passando apuros no placar de maio — a guerra comercial dificultava a formação de pares ou de sequências, e o cenário político doméstico parecia misturar os naipes. Parecia que, ao fim do mês, os agentes financeiros deixariam o jogo com muito menos dinheiro do que quando entraram.

Mas a sorte virou desde a semana passada, quando um novo crupiê assumiu a mesa. Agora, quem dá as cartas é o clima mais pacífico em Brasília — e esse novo crupiê tem dado ânimo aos mercados locais. E tanto o Ibovespa quanto o dólar à vista abriram um sorriso assim que receberam a mão para a partida desta terça-feira (28).

A rodada de hoje teve como pano de fundo a articulação política. Afinal, o presidente Jair Bolsonaro convidou os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia; do Senado, Davi Alcolumbre; e do Supremo, Dias Toffoli, para um café da manhã, de modo a melhorar as relações entre os poderes — e as notícias de um "pacto" firmado entre as autoridades serviram para dar mais uma injeção de confiança nos mercados.

Nesse cenário, os agentes financeiros se sentiram à vontade para colocar mais fichas nos ativos locais. O Ibovespa fechou o dia em alta de 1,61%, aos 96.392,76 pontos e, com isso, zerou as perdas acumuladas em maio — agora, o índice acumula ganho de 0,04% no mês.

É uma virada impressionante: no dia 17, o Ibovespa aparecia na faixa dos 89 mil pontos — em sete pregões, ganhou quase 6.500 pontos. Será que a "maldição de maio", que mantém o índice no vermelho em maio desde 2010, finalmente será quebrada?

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Já o dólar à vista caiu 0,29%, a R$ 4,0235 — pode não parecer muito, mas vale ressaltar que, no exterior, a moeda americana se valorizou ante a maior parte das divisas globais, tanto as fortes quanto as de países emergentes.

Cartas na mesa

O Ibovespa começou a ganhar força a partir das 11h, quando as primeiras notícias referentes à reunião entre as autoridades começaram a circular. Ficou acertado que presidentes dos três poderes irão assinar um "pacto pelo Brasil" para a retomada do crescimento, possivelmente na semana de 10 de junho.

Mas não foi só isso. Pouco depois, Rodrigo Maia veio à público e deu declarações num tom conciliador — e a fala do presidente da Câmara também foi determinante para aumentar o otimismo dos agentes financeiros.

Entre outros pontos, Maia disse que irá pedir ao relator da reforma da Previdência na comissão especial da casa, Samuel Moreira, que apresente o seu parecer antes do dia 15 de junho — a intenção é permitir que a proposta seja votada também no plenário da Câmara ainda no primeiro semestre.

"Aparentemente, o Congresso vai se empenhar para aprovar as medidas defendidas pelo governo. Isso traz um sentimento bom ao mercado", diz Mário Battistel, gerente de câmbio da Fair Corretora. Para ele, o noticiário de hoje gerou uma melhoria nas expectativas dos agentes financeiros, que começam a desmontar parte das posições mais defensivas — sobretudo no câmbio e nos juros.

Para o mercado, quanto mais harmonioso for o convívio entre os poderes, melhor: a leitura é a de que qualquer esforço para reduzir os atritos em Brasília tende a jogar a favor da reforma da Previdência, diminuindo a chance de desidratação da proposta ou de atraso no cronograma de tramitação.

Blefe no exterior?

A sessão desta terça-feira também foi marcada pelo reabertura dos mercados americanos, que estiveram fechados ontem por causa de um feriado local. As bolsas de Nova York iniciaram o dia em alta, mas perderam força e fecharam o pregão no campo negativo.

O Dow Jones (-0,93%) e o S&P 500 (-0,84%)  e o Nasdaq (-0,39%) recuaram em bloco. E isso porque, no exterior, segue a apreensão dos mercados quanto à guerra comercial, já que as negociações entre Estados Unidos e China parecem em ponto morto, ficando apenas no campo das ameaças e reaproximações entre os governos.

"Lá fora, a música segue a mesma. Muita gente acha que esses entraves podem demorar bastante tempo para serem resolvidos", diz um operador, ressaltado que, nesse cenário, há uma corrida por ativos de segurança — no caso os títulos de 10 anos do governo americano e o dólar.

O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante uma cesta com as principais divisas do mundo, operou em alta desde o início do dia. Na comparação com as emergentes, o tom foi semelhante: o dólar se fortaleceu ante o peso mexicano, o rublo russo, o peso chileno e o rand sul-africano, entre outras.

O real, por outro lado, conseguiu se sustentar em queda — e a chave esteve no cenário político local, que deu confiança aos mercados domésticos. Essa percepção também trouxe alívio à curva de juros, tanto na ponta curta quanto na longa.

Os DIs para janeiro de 2021, por exemplo, fecharam em baixa de 7,51% para 6,61%. Entre as curvas com vencimentos de maior prazo, as para janeiro de 2023 caíram de 7,91% para 7,73%, e as para janeiro de 2025 recuaram de 8,52% para 8,36%.

Para Battistel, da Fair, diversos agentes financeiros tinham a percepção de que a reforma da Previdência e outras pautas do governo poderiam se arrastar por muito tempo sem um apoio mais concreto do Congresso — mas os sinais vindos hoje de Brasília diminuem a tensão no ar e quebra as correntes mais pessimistas.

Alianças...

Um dos destaques do Ibovespa nesta terça-feira foi a ação ON do Magazine Luiza (MGLU3). Os papéis apareceram entre as maiores altas do índice, com o mercado reagindo bem à parceria firmada pela empresa com o Carrefour para a venda de eletroeletrônicos.

Como resultado, os ativos do Magalu fecharam em alta de 6,18% — fora do Ibovespa, as ações ON do Carrefour Brasil (CRFB3) também tiveram ganhos firmes, em alta de 5,41%.

O bom desempenho dos papéis do Magazine Luiza acabou puxando outras ações do setor, como B2W ON (BTOW3), que subiu 6,57% e liderou os ganhos do índice. Lojas Renner ON (LREN3) (+3,58%) e Via Varejo ON (VVAR3) (+3,52%) também subiram forte.

... e acordos

Outra integrante do Ibovespa que apareceu nos holofotes foi a Braskem — na noite de ontem, a petroquímica anunciou o fechamento de um acordo de leniência com a Controladoria-Geral da União e a Advocacia-Geral da União, estabelecendo um desembolso adicional de cerca de R$ 410 milhões.

Em meio ao noticiário envolvendo a empresa, as ações PNA da Braskem (BRKM5) tiveram alta de 2,13%.

Bancos na linha de frente

As ações do setor bancário aparecem como grande motor do Ibovespa nesta terça-feira. Os papéis ON do Bradesco (BBDC3) lideram o grupo, avançando 3,35%, seguidos por Itaú Unibanco PN (ITUB4), com valorização de 2,81%; Bradesco PN (BBDC4), em alta de 2,76%; units do Santander Brasil (SANB11), com ganho de 2,15%; e Banco do Brasil ON (BBAS3),  que subiu 1,3%.

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