Ibovespa fecha em queda e dólar sobe a R$ 3,95, ajustando-se ao tom paciente do BC americano
O Fed sinalizou que não pretende promover cortes na taxa de juros dos EUA no curto prazo, frustrando o mercado e reduzindo o apetite por ativos de países emergentes. Como resultado, tanto o Ibovespa quanto o dólar iniciaram o mês sob pressão
O Ibovespa e o dólar voltaram ao batente nesta quinta-feira, passado o recesso de 1º de maio. Mas, ao menos no cenário interno, quase nada mudou: Brasília continua em recesso e a reforma da Previdência segue em stand by.
Então, a saída foi olhar para o exterior. E, lá fora, o feriado trouxe notícias desanimadoras para os ativos de risco e de países emergentes, o que provocou uma onda de correções por aqui: o Ibovespa fechou em queda de 0,86%, aos 95.527,62 pontos, e o dólar à vista subiu 0,98%, a R$ 3,9596.
Façamos, portanto, uma breve retrospectiva do que aconteceu ontem: o Federal Reserve (Fed) — o Banco Central dos Estados Unidos — divulgou sua decisão de política monetária, mantendo a taxa básica de juros do país entre 2,25% e 2,5%.
Mas essa manutenção era amplamente esperada pelos agentes financeiros. O problema todo foi a postura "paciente" assumida pelo presidente da instituição, Jerome Powell, sinalizando que o Fed não pretende promover alterações nos juros do país no curto prazo. Isso frustrou parte do mercado, que apostava num corte das taxas num futuro próximo.
Em linhas gerais, juros mais baixos nos Estados Unidos diminuem a atratividade dos ativos americanos — o que aumenta o apetite do mercado por alternativas mais arriscadas. Assim, com o Fed jogando um balde de água fria em quem esperava a redução das taxas, houve a reação oposta: fuga dos ativos de risco e aumento da demanda por opções mais seguras, como o dólar.
Efeito dominó
Com essa frustração, as bolsas dos Estados Unidos fecharam a sessão de ontem em queda firme — os mercados americanos funcionaram normalmente na quarta-feira. O Dow Jones teve baixa de 0,61%, o S&P 500 caiu 0,75% e o Nasdaq recuou 0,57%.
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Além disso, os ativos ligados ao Brasil negociados nos Estados Unidos tiveram perdas expressivas: o principal fundo de índice (ETF) de ações brasileiras em Nova York, o iShares MSCI Brazil Capped (ou EWZ), caiu 1,66% ontem — e a maior parte dos recibos de ações (ADRs) de empresas do Brasil negociados nos EUA fechou em baixa.
Considerando essa queda dos ativos brasileiros no exterior na quarta-feira — quando os mercados brasileiros estiveram fechados —, a sessão de hoje foi de correção: o Ibovespa passou o dia no campo negativo e, na mínima, chegou a tocar os 95.311,67 pontos (-1,08%).
"O setor ligado a materiais básicos continua pressionado. A fala do presidente do Fed contrariou as expectativas, e isso vai minando sobretudo esse setor", destaca Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial Research. E, de fato, o dia foi bastante negativo para o petróleo: o Brent caiu 1,98% hoje e o WTI recuou 2,81%.
Para piorar ainda mais, as bolsas americanas seguiram em queda, mesmo após as perdas da sessão passada. O Dow Jones fechou com perda de 0,46%, o S&P 500 recuou 0,21% e o Nasdaq teve baixa de 0,16%.
Stand by
Por aqui, o noticiário político continua em modo de espera, já que os trabalhos da comissão especial da Câmara — o próximo colegiado a analisar a proposta de reforma da Previdência — começarão apenas na próxima terça-feira (7). Assim, o mercado segue sem maiores referências quanto ao andamento da tramitação do texto.
"É uma semana de menor liquidez, com poucas notícias de Brasília", diz Victor Cândido, economista-chefe da Guide Investimentos. "E os mercados, com a cabeça vazia, ficam mais tensos. Abre-se espaço para todo tipo de pensamento".
Cândido cita uma declaração do deputado Paulinho da Força como fonte de estresse nesta quinta-feira. O líder da Força Sindical afirmou que os partidos que se reúnem no grupo conhecido como "Centrão" discutem o apoio a uma reforma da Previdência que não garanta a recondução de Jair Bolsonaro ao poder.
"É um deputado de menor relevância, mas a gente vê uma cena mais estressada", diz o economista.
Dólar tenso
O tom paciente do Fed afetou sobretudo o mercado de câmbio no mundo, provocando um fortalecimento global do dólar. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda de câmbio ante uma cesta com as principais divisas do mundo, avançou nesta quinta-feira.
Além disso, o dólar ganhou força ante as divisas de países emergentes, como o peso colombiano, o peso chileno, o rublo russo, o rand sul-africano e o peso mexicano. Nesse contexto, o real acabou sofrendo pressão intensa, chegando a bater o nível de R$ 3,9720 na máxima do dia (+1,3%).
"É preciso monitorar de perto a economia dos Estados Unidos. Se o payroll amanhã vier baixo, esse cenário desenhado ontem pelo Fed pode começar a mudar", diz Cândido, referindo-se aos dados do mercado de trabalho norte-americano em abril, que serão divulgados amanhã.
As curvas de juros também tiveram um dia de correção e acompanharam o câmbio: os DIs para janeiro de 2020 subiram de 6,50% para 6,51%, e os para janeiro de 2021 tiveram alta de 7,12% para 7,14%. Na ponta longa, as curvas com vencimento em janeiro de 2023 avançaram de 8,23% para 8,24%, e as para janeiro de 2025 foram de 8,75% para 8,76%.
Quer entender melhor como as taxas de juros dos Estados Unidos influenciam o comportamento dos ativos brasileiros? A Julia Wiltgen te explica:
Petrobras em queda
As ações da Petrobras caíram mais de 1% nesta quinta-feira, pressionadas pelas perdas expressivas do petróleo no exterior. No momento, os papéis ON da estatal (PETR3) recuaram 1,5%, enquanto os PN (PETR4) tiveram queda de 1,40%.
As perdas são amenizadas pelo noticiário corporativo envolvendo a empresa. A Petrobras finalizou a venda de sua participação na refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, para a Chevron, por US$ 467 milhões (cerca de R$ 1,8 bilhão).
Itaú destoa
As ações dos bancos fecharam o pregão desta quinta-feira em alta, mas os papéis PN do Itaú Unibanco (ITUB4) se destacaram e subiram 0,67% — a empresa divulga seus resultados trimestrais nesta quinta-fera, depois do fechamento dos mercados.
Bradesco PN (BBDC4) teve alta de 0,6%, Bradesco ON (BBDC3) avançou 0,39% e as units do Santander Brasil (SANB11) tiveram ganho de 0,64% e Banco do Brasil ON (BBAS3) subiu 0,22%.
CSN lidera perdas
As ações ON da CSN (CSNA3) tiveram o pior desempenho do Ibovespa nesta quinta-feira, em queda de 4,47%. Além do ajuste negativo gerado pelo Fed, os papéis também foram afetados pela notícia, publicada pelo Valor Econômico, de que a empresa precisará importar aço por causa da manutenção de um dos altos-fornos em Volta Redonda — a parada irá de 28 de junho a 28 de agosto.
O setor de siderurgia e mineração como um todo teve um dia negativo. Vale ON (VALE3) recuou 2,32%, Gerdau PN (GGBR4) caiu 1,06% e Usiminas PNA (USIM5) teve baixa de 2,09%.
Papel e celulose vai bem
Os ativos da Suzano e da Klabin apareceram entre as principais altas do Ibovespa: Suzano ON (SUZB3) subiu 2,97%, liderando os ganhos do índice, e as units da Klabin (KLBN11) avançaram 0,6%.
Nesta manhã, a Klabin reportou prejuízo liquido de R$ 196 milhões no primeiro trimestre deste ano, revertendo o lucro de R$ 125 milhões registrado há um ano. No entanto, o Ebitda da companhia avançou 32% na mesma base de comparação, chegando a R$ 1,005 bilhão.
Já a Suzano foi beneficiada pelo avanço do dólar, uma vez que as exportações de papel e celulose respondem por boa parte de sua receita — assim, o fortalecimento da moeda americana tende a impulsionar a geração de receita da companhia.
Estreantes
A B3 divulgou hoje a terceira prévia da carteira do Ibovespa, que vigorará a partir de 6 de maio. E duas ações entrarão no índice: Azul PN (AZUL4) e IRB ON (IRBR3).
Como resultado, ambas apareceram no campo positivo nesta quinta-feira: os ativos da Azul subiram 1,76% e os do IRB tiveram alta de 2,77%.
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