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Vinícius Pinheiro
Vinícius Pinheiro
Diretor de redação do Seu Dinheiro. Formado em jornalismo, com MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela FIA, trabalhou nas principais publicações de economia do país, como Valor Econômico, Agência Estado e Gazeta Mercantil. É autor dos romances O Roteirista, Abandonado e Os Jogadores
Debêntures em crise

Fundos de crédito privado têm resgate de R$ 4,3 bilhões desde outubro

Saques são liderados pelos chamados fundos de caixa, aqueles com liquidez imediata ou carência máxima de cinco dias para resgates, que somam R$ 3,6 bilhões. Com a queda dos juros, eles surgiram como uma opção (errada) para os investidores em busca de um maior retorno na renda fixa

Vinícius Pinheiro
Vinícius Pinheiro
26 de novembro de 2019
5:50 - atualizado às 7:56

Depois de uma explosão na captação nos últimos anos motivada, em muitos casos, por uma promessa irreal de rendimentos acima do CDI sem risco e com liquidez, o jogo virou para os fundos de crédito privado.

Desde o início de outubro, os fundos que investem em títulos de dívida de empresas, como debêntures, acumulam um resgate líquido de R$ 4,3 bilhões, de acordo com dados da Economatica que foram compilados por uma fonte de mercado ao Seu Dinheiro.

O patrimônio líquido total dessa amostra de 64 fundos – que exclui os voltados apenas a investidores qualificados – é de pouco mais de R$ 52 bilhões.

Os saques são liderados pelos chamados fundos de caixa, aqueles com liquidez imediata ou carência máxima de cinco dias para resgates, que somam R$ 3,6 bilhões. Com a queda da taxa básica de juros (Selic), eles surgiram como uma opção (errada) para os investidores em busca de um maior retorno na renda fixa, mas sem abrir mão da liquidez.

Existem hoje pelo menos 33 fundos com essas características. Com a possibilidade de resgatar o dinheiro a qualquer momento, eles chegaram inclusive a ser vendidos em corretoras e plataformas de investimento como alternativa de aplicação da reserva de emergência – aquele dinheiro que você pode precisar a qualquer momento.

O problema é que não existe mágica no mundo dos investimentos. E o forte aumento na captação desses fundos provocou uma distorção no mercado de debêntures.

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Com muito mais demanda do que oferta de papéis, as taxas das emissões despencaram. Bom para as empresas que se aproveitaram da situação para captar dinheiro mais barato, mas péssimo para o investidor.

A situação piorou depois que as debêntures começaram a ser vendidas a taxas mais altas no mercado secundário. Com isso, os gestores foram obrigados a marcar na cota a nova taxa, o que na prática representou uma perda para os fundos.

Bola de neve

Daí começou o efeito bola de neve. Com a queda na rentabilidade, os investidores começaram a pedir resgates. Os fundos que têm liquidez imediata costumam ter um nível maior de caixa para fazer frente aos pedidos de saque, mas em alguns casos esse dinheiro não foi suficiente, o que obrigou os gestores a venderem debêntures no mercado para honrar o compromisso.

Com mais gente querendo vender do que comprar, houve um novo aumento nas taxas das debêntures no mercado e, por consequência, queda nas cotas. Que estimulou mais pedidos de resgate.

Da amostra de fundos sem carência ou com prazo máximo de cinco dias para resgate, apenas um apresenta retorno acima do CDI nos últimos 30 dias. Cinco deles foram ainda pior e acumulam rentabilidade negativa, em um sinal de que os gestores podem ter assumido riscos incompatíveis com a natureza do produto.

O aumento nas taxas das debêntures também afetou o desempenho dos fundos de crédito que possuem carência de pelo menos um mês para resgate. Desde outubro, eles já registraram pouco mais de R$ 717 milhões em saques.

O que fazer?

O principal risco para quem investe em um fundo que aplica em debêntures e outros títulos privados é o de calote da empresa emissora. Mas a atual crise não vem da qualidade de crédito das companhias, mas das taxas de juros que os gestores aceitaram para investir nesses papéis.

Como em praticamente os momentos de turbulência do mercado, esse também deve abrir oportunidades para os bons gestores entregarem retornos interessantes aos cotistas. É claro que sempre há exceções, mas eu não considero os chamados fundos que pagam o resgate imediato ou em um prazo menor que uma semana como uma boa opção de investimento em crédito privado.

Apesar da liquidez mais restrita (ou justamente por ela), os produtos com carência de pelo menos 30 dias são os mais adequados para quem quer diversificar suas aplicações de renda fixa nessa modalidade.

Pode parecer pouco intuitivo, mas o maior prazo para o pagamento dos resgates garante mais tempo para que o gestor consiga administrar a compra e venda de papéis da carteira sem prejudicar os demais cotistas.

No curto prazo, porém, a maior parte deles deve continuar sofrendo com a alta das taxas das debêntures no mercado secundário. Tome cuidado, portanto, para não pedir o resgate e acabar saindo no pior momento possível.

Agora, se você quer investir e deseja saber se o fundo que aparece na prateleira do seu banco ou corretora é bom, aqui vão algumas dicas.

Em primeiro lugar, saiba para quem você vai pagar taxa de administração e procure se informar sobre a experiência da equipe responsável pela gestão.

No caso específico de fundos de crédito privado, dê preferência a gestoras que atuam na área há pelo menos cinco anos e sobreviveram aos duros anos de recessão econômica. No caso das assets mais novas, confira se os profissionais já atuaram com crédito no passado – em bancos, por exemplo.

Verifique ainda como os fundos da casa se comportaram em diferentes períodos, e não apenas no último mês ou ano, como eles costumam ser apresentados pelas plataformas de investimento.

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