Trump fecha acordo com o México e reduz a tensão na guerra comercial — mas não muito
O presidente americano, Donald Trump, usou o Twitter para anunciar o fechamento de um acordo com o México, suspendendo a aplicação de tarifas sobre as importações do país vizinho.
A guerra comercial ganhou mais um capítulo — só que, desta vez, as novidades devem trazer alívio aos mercados globais. E, como tem sido praxe, o novo episódio foi transmitido via Twitter: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump usou a rede social para anunciar o fechamento de um acordo com o México.
Caso você não esteja acompanhando essa novela tão de perto, segue um rápido resumo: em 30 de maio, o governo americano anunciou que iria impor uma tarifa de 5% sobre todas as importações mexicanas. O motivo? As ondas de imigrantes ilegais vindos da América Central.
Na ocasião, Trump afirmou que as tarifas seriam aplicadas caso o governo mexicano não tomasse alguma atitude para impedir esse fluxo, que entra em território americano através da fronteira do país com o México. E, caso nenhuma atitude fosse tomada, as sobretaxas iriam aumentar gradualmente, podendo chegar a 25%.
Esse anúncio, é claro, resultou em ampla tensão nos mercados globais. Afinal, a postura agressiva dos Estados Unidos em relação a mais um parceiro reduzia ainda mais as esperanças de uma resolução amigável no front principal da guerra comercial: as disputas entre os governos americano e chinês.
Mas, em meio a essa tensão, Trump foi ao Twitter na noite de ontem para afirmar que os Estados Unidos assinaram um acordo com o México — assim, as tarifas que começariam a ser implantadas já na próxima segunda-feira (10) foram suspensas indefinidamente.
Segundo o republicano, o México concordou em tomar "medidas duras" para conter a onda de migração. Em sua série de tweets, o presidente americano ainda diz que 6 mil tropas do exército mexicano serão posicionadas na fronteira sul do país — o objetivo é impedir o fluxo vindo da América Central antes que ele chegue à borda com os Estados Unidos.
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I am pleased to inform you that The United States of America has reached a signed agreement with Mexico. The Tariffs scheduled to be implemented by the U.S. on Monday, against Mexico, are hereby indefinitely suspended. Mexico, in turn, has agreed to take strong measures to....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) June 8, 2019
"O México vai fazer o melhor que puder, e se eles cumprirem a promessa, o acordo será muito bem sucedido para os dois países", disse Trump, afirmando, ainda, que o vizinho concordou em começar a comprar "grandes quantias" de produtos agrícolas americanos.
O presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, também usou o Twitter para confirmar o fechamento de um acordo com os Estados Unidos. Ele, no entanto, se resumiu a agradecer ao apoio "de todos os mexicanos" para que fosse evitada a imposição de tarifas às exportações do país.
Gracias al apoyo de todos los mexicanos se logró evitar la imposición de aranceles a los productos mexicanos que se exportan a EEUU. Marcelo Ebrard dará detalles del arreglo; de todas maneras, nos congregaremos para celebrarlo mañana en Tijuana a las 5 de la tarde. pic.twitter.com/Cqd79lSJpu
— Andrés Manuel (@lopezobrador_) June 8, 2019
Morde e assopra
A aparente conclusão das disputas entre Estados Unidos e México é mais um exemplo da estratégia de negociação usada por Donald Trump: ameaçar para depois conversar.
A resolução dessa disputa específica pode trazer mais alívio aos mercados globais, que já tiveram uma semana bastante positiva — as bolsas americanas acumularam ganhos expressivos entre segunda (3) e sexta-feira (7). Além disso, é de se esperar uma reação intensa no peso mexicano, que perdeu terreno ante o dólar em meio aos conflitos.
Mas o fechamento de um acordo entre os vizinhos não necessariamente implica numa maior esperança de resolução pacífica nas disputas comerciais dos Estados Unidos com a China. Afinal, o governo chinês não tem se mostrado muito intimidado pelas ameaças de Trump, e tampouco mostra disposição para se curvar às exigências do governo americano.
E, como tem ficado claro, as disputas entre Washington e Pequim envolvem questões maiores que o front comercial. O domínio global de novas tecnologias de comunicação, como o 5G, desponta como pano de fundo para as rusgas entre as duas potências — e as restrições impostas pelo governo americano às empresas chinesas desse setor, como a Huawei, deixam claro que há muito mais por trás dos conflitos.
Assim, a notícia de um acordo EUA-México deve trazer alívio pontual aos mercados. Mas as atenções continuam focadas nas negociações entre americanos e chineses — e a reunião do G20, no fim deste mês, será especialmente importante, já que Donald Trump e o presidente chinês, Xi Jinping, ficarão frente a frente.
Até lá, é melhor não tirar os olhos do Twitter.
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