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Vinícius Pinheiro
Vinícius Pinheiro
Diretor de redação do Seu Dinheiro. Formado em jornalismo, com MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela FIA, trabalhou nas principais publicações de economia do país, como Valor Econômico, Agência Estado e Gazeta Mercantil. É autor dos romances O Roteirista, Abandonado e Os Jogadores
Entrevista exclusiva

Após subir 170% na bolsa, Sinqia mira 12 novas aquisições com recursos de oferta de ações

Com os R$ 360 milhões captados de investidores, empresa de software para o setor financeiro atingiu R$ 1 bilhão em valor de mercado. Com plano de aquisições, o sonho é alcançar outro bilhão: o de faturamento, afirma Bernardo Gomes, presidente e fundador da Sinqia

Vinícius Pinheiro
Vinícius Pinheiro
9 de outubro de 2019
5:59 - atualizado às 15:22
Bernardo Gomes, fundador e presidente da Sinqia
Bernardo Gomes, fundador e presidente da Sinqia - Imagem: Leo Martins/Seu Dinheiro

Enquanto esperava por mais um voo no aeroporto, Bernardo Gomes foi abordado por um funcionário da companhia aérea. O diretor-presidente e fundador da Sinqia estava no meio da corrida fase de apresentações a investidores da oferta de ações de R$ 360 milhões da companhia, concluída no mês passado.

Mas não havia nada de errado com a viagem ou a passagem. Ao identificar o logotipo da Sinqia na camisa do executivo, o funcionário fez questão apenas de se apresentar e dizer que era acionista da companhia.

O presidente da Sinqia me contou a história durante a visita que fiz à sede da empresa que virou uma das queridinhas entre os investidores. Nos últimos 12 meses, os papéis (SQIA3) acumulam uma valorização de 170%, contra 23% do Ibovespa no período.

O empregado da companhia aérea é um entre os mais de 30 mil acionistas da Sinqia. Trata-se de um feito e tanto para uma empresa ainda pequena para os padrões da bolsa e que contava com apenas dois sócios quando foi criada em 1995: o próprio Gomes e Antonio Luciano de Camargo Filho.

Ambos seguem no comando da Sinqia, que até o ano passado se chamava Senior Solution. Mas a empresa que produz software para o setor financeiro se habituou desde cedo a ter outros sócios. Primeiro com o investimento do fundo Stratus, em 2005, e depois com o IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial de ações) no Bovespa Mais, o mercado de acesso da bolsa, em 2013.

Gomes decidiu que era hora de atrair capital de investidores quando percebeu que havia a oportunidade de acelerar o crescimento da companhia via aquisições. Entre o primeiro aporte do fundo e a abertura de capital foram cinco negócios. Nos últimos seis anos foram mais oito compras, que fizeram o tamanho da empresa se multiplicar por quatro no período.

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Se você ficou impressionado com o retorno expressivo da empresa na bolsa em um ano, vale prestar atenção no que vem pela frente. Afinal, o bom desempenho do passado não garante ganhos futuros. Conversei longamente com o CEO da Sinquia para entender o futuro do negócio e conto o que descobri no texto que segue.

Longo caminho

Apesar do crescimento recente da companhia, Gomes disse que ainda há uma longa estrada em aquisições a percorrer. Embora seja líder no mercado em que atua, a participação da Sinqia não chega a 4%. Por isso a companhia voltou ao mercado para captar recursos com uma nova oferta de ações.

A empresa mapeou um total de 200 empresas que fornecem software para o mercado financeiro, das quais 80 já possuem um acordo de confidencialidade assinado.

“Temos hoje 30 processos ativos, com troca de informações, e 12 estão mais maduros porque aconteceram junto com aquisições que fechamos recentemente.”

Com os recursos obtidos com a nova oferta de ações, a Sinqia atingiu R$ 1 bilhão em valor de mercado. Se o plano de consolidação se concretizar, Gomes acredita que pode a Sinqia alcançar outro bilhão: o de faturamento.

Ele deixou claro que não se trata de uma projeção, mas de um "sonho". Juntas, as 12 empresas com as quais a Sinqia negocia possuem um faturamento de R$ 300 milhões. Nos últimos 12 meses encerrados em julho, a companhia registrou receita bruta de R$ 175 milhões.

Por ora, a estratégia de crescimento – que traz em um primeiro traz custos com a integração das empresas adquiridas – cobra um preço. A companhia teve prejuízo de R$ 3,6 milhões no segundo trimestre deste ano.

Gomes também atribui os resultados recentes a uma mudança no modelo comercial, no qual a Sinqia banca os custos para o desenvolvimento dos projetos nos clientes, mas em compensação cobra um valor maior pela assinatura do software.

"Eu gasto R$ 1 milhão por mês em projetos de implementação. Em troca disso, depois que todos esses projetos estiverem implantados, vou trazer R$ 18 milhões por ano de receita recorrente."

Bernardo Gomes, fundador e presidente da Sinqia
"Com os recursos da oferta, podemos iniciar um ciclo perpétuo de aquisições", afirmou Bernardo Gomes, fundador e presidente da Sinqia - Imagem: Leo Martins/Seu Dinheiro

Leia a seguir alguns dos temas tratados na entrevista com Bernardo Gomes:

Nova oferta de ações

A gente percebeu que continuam existindo oportunidades depois das últimas aquisições. Das oito aquisições que fizemos desde 2013, quatro aconteceram de dezembro do ano passado a maio deste ano. Junto com essas últimas surgiram outras transações que acabaram amadurecendo e que, para isso, a gente precisava fazer uma nova captação. Então decidimos partir para a oferta, com o objetivo de iniciar um terceiro ciclo. A gente pode dizer que o nosso primeiro ciclo foi o do private equity [a entrada do fundo Stratus], de R$ 7 milhões, o segundo foi o do IPO, de R$ 40 milhões, e agora a gente começa um novo ciclo com a oferta.

Ciclo perpétuo de aquisições

Com os recursos da oferta, podemos iniciar um ciclo perpétuo de aquisições. Temos agora R$ 360 milhões para fazer aquisições. Com elas, eu trago um Ebitda (geração de caixa) adicional para a Sinqia. Isso vai permitir que, terminado esse ciclo dos recursos da oferta, outro ciclo aconteça com a alavancagem [endividamento] a partir do Ebitda gerado pela companhia e pelas próprias  aquisições.

Mercado e concorrência

Existem umas 500 empresas que fornecem software para o mercado financeiro. Dessas, pouco mais de 200 a gente tem mapeadas, sabe quem é o empreendedor, qual a receita, o produto e os clientes. Temos hoje pouco mais de 80 NDAs (acordos de confidencialidade) assinados. Desses, 30 processos estão ativos, com troca de informações, e 12 em estágio mais maduro, porque aconteceram junto com aquisições que fechamos recentemente.

Concorrência e jabuticaba

Uma pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) aponta que, em 2017, o mercado financeiro consumiu R$ 4 bilhões em software de terceiros. A Sinqia é a maior empresa e só tem 3,8% de participação. As empresas internacionais têm presença no Brasil, mas estão entre essas centenas que atuam aqui. O custo de adaptação das soluções delas para as jabuticabas do mercado brasileiro faz com que a conta não feche. O cara não faz a adaptação do sistema enquanto não tiver cliente, e o cliente não compra enquanto não está adaptado.

Tempo para aquisições

Não posso dizer quando as transações vão ocorrer, até porque no processo de M&A [fusões e aquisições] sempre tem o outro lado. A motivação para a fazer a oferta foi porque a Sinqia tem transações maduras o suficiente para nos dar conforto de conduzir a estratégia. Algumas vão acontecer mais rápido, em alguns meses, e outras vão acontecer ao longo do tempo. O que a gente colocou para os investidores durante o processo de road show (apresentações) é que em até três anos a gente gasta todos os recursos da oferta.

Oportunidade com fintechs

O mercado financeiro durante muitos anos passou por um processo de consolidação. Com o surgimento das fintechs, temos três movimentos acontecendo: bancos pequenos e de nicho passam pela tal transformação digital e um espaço maior do que tinham anteriormente. Empresas do segmento não-financeiro começam a enxergar oportunidades de vender produtos e oportunidades para seus clientes. E temos ainda as fintechs puras, que querem promover a desintermediação financeira.

A gente tem hoje no Brasil 529 fintechs. As empresas que ganham tração e começam a ter volume vão precisar de sistemas para processar as operações. As fintechs tem questões que estão na "cozinha" do negócio que são iguais às dos bancos tradicionais. Então o surgimento de fintechs que tenham sucesso vai acelerar nosso processo de ter mais clientes consumindo nossos produtos.

Sinqia do futuro

Para não falar em guidance (projeção), nosso sonho é criar uma empresa que tenha de 25% a 30% de participação de mercado, em um período não muito longo. Em outros mercados, como nos EUA, Europa e Ásia, você vai encontrar empresas que tiveram a mesma história que a Sinqia, aceleraram o crescimento via aquisições, e hoje têm uma posição relevante. As 12 empresas que estão no nosso pipeline têm um faturamento somado de R$ 300 milhões. É claro que não vou conseguir fazer as 12 de uma vez.

Mas, quando eu falo de ter uma participação de 25% de um mercado de R$ 4 bilhões, estou falando em fazer uma empresa de R$ 1 bilhão de faturamento daqui a algum tempo.

A gente hoje já é 40 vezes maior do que era em 2005. Estamos em um mercado que cresce naturalmente e ainda com uma oportunidade de consolidação enorme. Que outro mercado existe com centenas de empresas que podem ser consolidadas? Não estou dizendo que estou captando R$ 360 milhões para fazer algo que nunca fiz. Há 14 anos eu faço isso e vou continuar fazendo de forma mais rápida e mais intensiva.

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