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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Na CPI

Eike Batista: Me usaram para tirar atenção da real caixa-preta do BNDES

Batista foi a mais uma CPI do BNDES para falar que seu grupo quitou todos os empréstimos que teve com o BNDES. Ele também disse que não foi coagido a fazer doações eleitorais: não teve revólver na minha cabeça

Eduardo Campos
Eduardo Campos
6 de agosto de 2019
15:22 - atualizado às 8:03
Eike Batista
Imagem: Vinícius Loures/Câmara dos Deputados

O empresário Eike Batista esteve mais uma vez no Congresso para prestar esclarecimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES, que é praticamente uma comissão permanente na Casa. Mais uma vez ele afirmou que quitou todos os empréstimos que seu Grupo EBX teve junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), seja por meio de capital próprio ou por sócios que assumiram seus negócios.

Ao longo de quase quatro horas de audiência, ele foi mais elogiado que criticado pelos parlamentares e, nos minutos finais, disse que a corrupção "vinha desse grupo interessado em buscar recursos do BNDES e de fundos de pensão,", e citou que o "maior deles era o grupo Odebrecht, que tinha centenas de empresas, tentáculos". "Se me acusaram de ser megalomaníaco, ali era outra escala, era galáctico", disse.

Na sua fala inicial, Eike disse que foi utilizado para tirar atenção da real caixa-preta do BNDES, que na sua avaliação são os empréstimos do banco sem garantias. “Ele está sempre na mídia, sempre exposto, joga para cima dele”, disse.

Mais tarde disse: "Sou uma da fake news mais inacreditáveis do mundo. Trouxe US$ 50 bilhões em capital estrangeiro para o Brasil". A afirmação foi feita ao comentar, novamente, que jogaram o problema da caixa-preta sobre ele por sua exposição na mídia.

De volta ao tema, Eike disse que pela leitura do noticiário, "parece que me beneficiei de dinheiro público. Mas isso é fake news. Notícia ruim sempre vende".

Ele afirmou que o BNDES emprestou entre R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões para suas empresas, de um total de R$ 190 bilhões que ele investiu via capital próprio ou captações externas. “Os compromissos foram honrados ou assumidos”, disse. Ele também disse ter orgulho de ter preservado 20 mil empregos a custa de seu patrimônio pessoal.

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Eike também se disse ressentido com o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho por ele não dizer que ele não devia nada ao banco. Ao longo da audiência ele disse que Coutinho não teria a palavra final sobre as decisões do banco, que ele seguia ordem de cima. Mas não soube dizer quem.

Ainda de acordo com Eike, as empreiteiras o quebraram. Ele falou do investimento que fez para construção de estaleiro comprando tecnologia da Hyundai. Mas que depois, as empreitas nacionais o copiaram e as todas as encomendas foram para os estaleiros dessas empresas. Segundo ele, o BNDES sabia que o Brasil tinha espaço para apenas dois estaleiros, mas estimulou a construção de vários.

O empresário também disse que pegou um "ciclo errado e uma estrutura de poder que pegava encomenda da Petrobras já estabelecido". Eike disse que nunca fez parte desse clube, em referência às empreiteiras envolvidas na Lava-Jato. "Como não participava, não levei nada.” Ele disse achar que os empresários de então o temiam, pois ele "era um bicho diferente", que fazia as coisas, os ameaçando.

Eike também voltou a apresentar um vídeo institucional do Porto Açu, algo que fez nas outras vezes em que esteve em CPIs no Congresso. Sobre os processos judiciais de que é alvo, ele se disse um injustiçado.

Pré-sal e Petrobras

Sobre a atuação no segmento de petróleo, com a OGX, Eike falou que a leitura, hoje, é de que não poderia ter empresa privada eficiente no setor. Ele deu a entender que a Petrobras atuou para atrapalhar sua empresa e disse que a ex-presidente Dilma Rousseff o prejudicou ao mudar os blocos que estariam em leilão que sua empresa participaria.

"Acho que a Petrobras não gostava da gente porque seríamos concorrentes ferozes e Eike, o capitalista, conseguia dinheiro por conta própria", disse em outro momento, ao refutar que seu grupo seria um dos "campeões nacionais".

Ao falar sobre o pré-sal, Eike afirmou que há mais de 200 bilhões de barris recuperáveis, com custo de extração em US$ 6 o barril. “São os campos mais extraordinários do mundo. A geopolítica do mundo vai mudar. Se já não mudou.”

Sobre os novos leilões de pré-sal, Eike disse ser um "ferrenho nacionalista", mas que não temos recursos nem gente técnica para tirar esse volume de petróleo.

Ele também dá conselhos aos deputados. "Cabe a vossas excelências taxarem os resultados de forma adequada, mas não abandonar a capacidade de execução. O Brasil é maior que a Petrobras", disse, defendendo a participação de empresas estrangeiras na exploração. "Ouso dizer que em 2030, o Brasil produz tanto petróleo quanto a Arábia Saudita.”

Não teve revólver na minha cabeça

Respondendo à pergunta do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) sobre doações eleitorais, Eike falou que “o governo me abandonou”, e que fez contribuições igualitárias para todos os partidos, algo que diz ter aprendido com seus “amigos americanos ricos”, como uma forma de contribuir com a democracia.

Kataguiri interveio e disse que em depoimento ao MP, Eike deu a entender que fora coagido. “Não fui coagido. O grupo estava em dificuldades, a ideia era [ver] um bom gesto de encomenda de equipamento para a companhia. A ideia do grupo foi contribuir com todo mundo”, disse, completando, depois, que “não colocaram o revólver na minha cabeça não”.

Em nova pergunta sobre o tema, Eike falou que atendeu a um pedido de doação feito pelo então ministro da Fazenda Guido Mantega e que "não tenho caixa 2", o dinheiro era oficial, "cheque meu". "Todos têm de ter claro que com o patrimônio que eu tinha era natural ter estruturas fora do país e de forma oficial."

Consultoria de José Dirceu

Questionado sobre pagamentos ao ex-ministro José Dirceu, Eike disse que começou a fazer uma siderúrgica na Bolívia, antes da eleição de Evo Morales. Morales ganhou a eleição e decidiu nacionalizar o ativo, que tinha recebido US$ 60 milhões em investimentos.

“Na época me recomendaram contratar o José Dirceu, para tentar algum acordo com o governo da Bolívia, mas nada disso funcionou, ele foi uma vez até lá. Depois disso fui abandonado. Ele me foi recomendado como alguém que poderia achar uma solução para mim”, disse.

Sobre empréstimo de jatos para o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, ele disse que sempre foi constrangedor receber esse tipo de pedido, mas que emprestou e posteriormente mudou de postura.

Esses questionamentos mais diretos foram feitos pela deputada Paula Moreno Belmonte (Cidadania-DF), 1ª vice-presidente da CPI.

O deputado Igor Timo (Pode-MG), chamou Eike de “príncipe da corrupção” e disse que tivemos um “rei”, depois de elogiar a inteligência do empresário, e criticar as suas amizades com políticos que agora estão presos.

O deputado Marcelo van Hattem (Novo-RS) perguntou sobre a avaliação de Eike sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eike disse que na época de seus negócios, tanto Lula quanto Cabral tinham índices de aceitação acima de 60% e questionou: “quem sabia desse enredo gigantesco todo por trás”. “Não tinha a mais vaga noção. Insisto em dizer que não fui um privilegiado do sistema”, disse.

Sobrou para o diretor-geral da ANP

A CPI é do BNDES, mas sobrou pancada para o diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Décio Oddone. O relator da CPI, deputado Altineu Cortês Freitas Coutinho (PL-RJ), falou que ele deveria ser afastado por Bolsonaro, pois trabalhou como diretor de investimento da Braskem, empresa do grupo Odebrecht, que fez acordo de leniência, admitindo corrupção.

Os deputados  também aprovaram um convite para que o atual presidente do BNDES, Gustavo Montezano, compareça à CPI, e uma convocação a Dario Messer, figura conhecida como “doleiro dos doleiros” devido sua massiva participação em esquemas de lavagem de dinheiro e remessas ilegais.

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