Se a dívida é ‘soberana’, como financiar?
A Moody’s Investors Service alerta para os riscos de trocar dívida soberana para moeda local na esperança de blindar risco de crédito
“O barato às vezes sai caro!” Esse ditado popular, que se aplica a situações que vão desde o consumo em escala de produtos de baixa qualidade até a oferta de crédito por juro maneiro a pagar em infindáveis parcelas, vale também para governos dispostos a imprimir dinheiro para cobrir despesas, transferindo à política fiscal a tarefa de impulsionar a economia e garantir pleno emprego.
Embora com outras palavras, essa é a mensagem que a Moody’s Investors Service envia a devedores altamente qualificados que vêm trocando dívidas em moeda estrangeira por dívidas contraídas em moeda local, na crença de que o poder de criar moeda pode blindar sua classificação de risco de crédito.
A agência afirma que dívidas elevadas [em qualquer moeda] tornam os devedores mais vulneráveis ao descrédito e a mudanças no sentimento dos mercados, mesmo que o endividamento seja classificado como risco soberano – contraído por governos.
Na ótica da análise de crédito, indica a Moody’s, o resultado é “negativo” tenha um país elevado suas despesas por meio de emissão de títulos ou pela criação de moeda. Para a agência, o contraponto ao “crédito negativo” é um “orçamento equilibrado”.
Essa é a conclusão do relatório divulgado pela Moody’s, na semana passada, que trata das implicações da Teoria Monetária Moderna (MMT, na sigla em inglês) para a análise do crédito soberano, lembrando que essa teoria não vê papel que a política monetária tradicional possa desempenhar e tampouco considera que gastos públicos devam ser financiados preventivamente.
Construído com perguntas e respostas, o relatório da Moody’s discute, entre outras questões, o risco de a criação de moeda pelos bancos centrais para bancar compromissose a ideia de que uma economia pode estar menos propensa à recessão quanto os juros são mais baixos ou zero.
Leia Também
Bolsa caindo à espera do pacote fiscal que nunca chega? Vale a pena manter ações na carteira, mas não qualquer uma
Governo da China expulsa ex-chefe do projeto do yuan digital sob alegações de corrupção
Sem inadimplência, mas com hiperinflação
A Moody’s diz que, teoricamente, os países com moeda própria e dívida em moeda local têm a capacidade de imprimir dinheiro para evitar a inadimplência. E reconhece que, normalmente, uma maior criação de dinheiro está associada a uma inflação mais alta, que corrói o valor real da dívida nominal.
Contudo, acrescenta a agência, a criação monetária ilimitada tem consequências – leva à hiperinflação, que erode o valor da moeda e a confiança da sociedade no governo.
“Eventualmente, imprimir dinheiro em excesso produz hiperinflação, aumento nos custos de financiamento do governo e o colapso da taxa de câmbio”, diz a Moody’s, lembrando que, em uma crise, imprimir dinheiro frequentemente não é uma opção política mais atraente do que uma reestruturação de dívida, além de aumentar o risco de inadimplência em moeda local e em moeda estrangeira.
A Moody’s reconhece que os devedores soberanos estão muito longe de um cenário em que imprimir dinheiro levará à hiperinflação, mas essa possibilidade não é “ilimitada”.
O Japão, cita a agência, ilustra esse ponto. Com frequência, porém, a trajetória dos déficits fiscais, com expansão do endividamento, está associada à maior probabilidade de inadimplência.
Países com elevada classificação de risco de crédito têm espaço fiscal um pouco maior que os demais e também maior capacidade de usar o financiamento monetário sem pressionar a inflação. Mas, pondera a Moody’s, assim que a confiança começa a se dissipar, o cenário muda mesmo para as grandes economias.
A história mostra que as reações dos investidores durante as crises não são lineares. Também não aumentam linearmente os custos de financiamento.
Cria-se, na verdade, um círculo vicioso entre a inflação e a dinâmica da dívida e do custo de financiamento dessa dívida.
E ainda que o país tenha dívida interna de longo prazo e com juro fixo – mais fácil de honrar com emissão de dinheiro – se o risco de financiamento aumenta, governos tendem a ser pressionados pelas forças de mercado a emitir títulos com prazos mais curtos e com juros flutuantes, indexados ou atrelados à taxa de câmbio.
Vantagem da moeda reserva
Em um cenário de taxas de juros muito baixas, a capacidade de um país emitir dívida parece irrestrita, sobretudo, se o emissor tem moeda considerada reserva.
Esse é o caso do dólar americano. Mas nem sempre é assim, diz a Moody’s que cita os EUA como exemplo de uma economia que tem mais espaço fiscal que outros países sem divisas de reserva, em função do papel proeminente do dólar nos mercados financeiros, nos fluxos de comércio e na composição de reservas internacionais.
Além disso, o fato de Federal Reserve – o banco central americano – ser considerado independente e confiável contribuiu para que a classificação da dívida dos EUA tenha permanecido em “Aaa”, apesar da relação Dívida/PIB tenha subido de 39% em 2007 para 78% em 2018.
Qual é o espaço fiscal (adicional) que os EUA dispõem para se endividar por ter moeda reserva é uma estimativa sujeita a debate, informa a Moody’s que alerta, porém, para o fato de que o dólar não será substituído como moeda reserva internacional em breve.
O dólar responde hoje por mais de 60% das reservas globais. Portanto, qualquer mudança que possa vir a ocorrer no conceito de dólar como moeda reserva deve ocorrer apenas gradualmente e provavelmente só dentro de alguns anos.
Ainda assim, o financiamento monetário ilimitado do deficit fiscal acabaria por provocar inflação e custos mais elevados para empréstimos tomados pelo governo.
Quanto a relevância para a Moody’s de um aumento de gastos públicos com base em maior emissão de títulos versus um aumento de gastos financiados com impressão de dinheiro, a agência diz que na perspectiva da qualidade do crédito soberano, importa de fato é a eficácia com que o setor público é capaz de conter aumentos em seus passivos e, em última análise, reduzir os passivos para conter a inflação.
“Veríamos um aumento nos gastos do governo com base em maior emissão de dívida ou criação de moeda permanente como ‘crédito negativo’ em comparação com uma situação em que o governo tem um orçamento equilibrado”, afirma o relatório.
Em que a Teoria Monetária Moderna difere da Teoria Econômica Convencional:
Política Monetária
Teoria Econômica Convencional
- A política monetária e a política fiscal são ferramentas para que o governo administre a economia e o emprego.
- A independência do BC afeta a credibilidade da política monetária.
- Os gastos do governo são financiados por impostos ou emissão de dívida (títulos).
Teoria Monetária Moderna
- Não há um regime de política monetária e a independência do BC não tem papel relevante.
- A política fiscal pode ser usada para que se alcance o pleno emprego e para regular a oferta de moeda na economia.
- Os déficits fiscais não precisam ser pré-financiados.
Política Fiscal
Teoria Econômica Convencional
- A expansão da política fiscal pode resultar em aumento das taxas de juros e “crowding out” da atividade econômica.
- Os juros baixos implicam em demanda elevada.
Teoria Monetária Moderna
- A expansão fiscal pode elevar as reservas bancárias e reduzir as taxas de juros.
- A demanda pode intensificar mudanças nas taxas de juros.
Dívida soberana e risco de default
Teoria Econômica Convencional
- O financiamento monetário ilimitado (déficit fiscal) resulta em hiperinflação e default de dívidas em moeda local.
- O juro baixo estimula aumento de demanda
Teoria Monetária Moderna
- A TMM tem sido usada para argumentar que os governos podem criar políticas próprias sem provocar default de dívidas contraídas em moedas locais. Exatamente porque os governos podem criar moeda e liquidar as dívidas.
- As dívidas denominadas em moeda estrangeira aumentam os riscos fiscais e de default.
“A esquerda morreu”: o que Lula precisa fazer para se reeleger em 2026 e onde o discurso se perdeu, segundo Felipe Miranda
O segundo turno das eleições municipais consolidou o que já vinha sendo desenhado desde antes do primeiro turno: a força da centro-direita no país. Não dá para esquecer que o resultado das urnas em 2024 é um indicativo de como deve ser a corrida para a presidência em 2026 — e as notícias não são […]
Eleições Goiânia 2024: Sandro Mabel (União) confirma favoritismo e vence Fred Rodrigues (PL); veja o resultado
Apoiado por Ronaldo Caiado, Mabel venceu candidato de Jair Bolsonaro em eleição bem dividida na capital de Goiás
Vale (VALE3) em tempos de crise na China e preço baixo do minério: os planos do novo CEO Gustavo Pimenta após o resultado que agradou o mercado
Novo CEO fala em transformar Vale em líder no segmento de metais da transição energética, como cobre e níquel; ações sobem após balanço do 3T24
Governo envia ao Congresso proposta bilionária para socorrer companhias aéreas — mas valor é bem menor do que se esperava
A previsão é de que os empréstimos sejam operacionalizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
Risco fiscal nas alturas: como a situação dos gastos públicos pode se deteriorar de forma acelerada e levar a Selic aos 13%
Se o governo não adotar medidas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias, enfrentaremos o risco de desancoragem da inflação, levando os juros para 13% ou mais
Eleições municipais 2024: Bolsonarismo e centro-direita mostram força nas prefeituras e elegem sete dos dez vereadores mais votados do país
Líder na votação para vereador, Lucas Pavanato apoiou Marçal em São Paulo; Na disputa para a prefeitura, Boulos vira maior trunfo da esquerda
Eleições municipais 2024: Veja o resultado da apuração para prefeito; 15 capitais terão segundo turno
A votação de segundo turno acontece no dia 27 de outubro, das 8h às 17h
Regulação das bets deve sair na semana que vem, diz Lula — enquanto mais sete casas de apostas são proibidas de atuar no Brasil
O presidente afirmou que não aceita que os recursos do Bolsa Família sejam usados para apostas e disse que, se a regulamentação não der certo, ele não terá dúvidas de “acabar definitivamente com isso”
Localiza (RENT3) sobe e chega a liderar ponta positiva do Ibovespa com recomendação do BTG e elevação da Moody’s
São dois motivos principais para a essa valorização: o primeiro deles foi a elevação da nota de crédito (rating) da locadora de veículos pela Moody’s
Quem ganhou, quem perdeu e quem se destacou no último debate para prefeitura de São Paulo em meio triplo empate técnico entre candidatos
Na mais recente pesquisa do Datafolha, Boulos estava à frente com 26% das intenções de voto, seguido por Nunes e Marçal, ambos com 24% das intenções
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal
A um passo do grau de investimento: Moody’s eleva rating do Brasil para “Ba1”com perspectiva positiva. O que mudou na economia?
Vale lembrar que para a Fitch Ratings e a S&P Global, as outras duas agências de classificação de risco que formam as Big 3, o Brasil segue com grau de investimento especulativo
França anuncia novo gabinete de centro-direita após vitória da esquerda nas eleições parlamentares; conheça os membros
Novo premiê, Michel Barnier, montou gabinete já aprovado e anunciado pela presidência neste sábado
Governo descongela R$ 1,7 bi do Orçamento e projeção de déficit primário fica dentro da margem de tolerância de 2024; veja as projeções
Contenção do orçamento cai de R$ 15 bi para R$ 13,3 bi, e estimativa de déficit primário recua de R$ 32,6 bilhões para R$ 28,3 bilhões
Dino estabelece ‘orçamento de guerra’ para combate a incêndios — e autoriza governo a emitir créditos fora da meta fiscal
‘Orçamento de guerra’ para combate a incêndios tem modelo similar ao adotado durante a pandemia; liberação vale até o fim do ano
Por que a volta do horário de verão é improvável — ao menos no curto prazo
Essa política geralmente era adotada no mês de outubro de cada ano, até fevereiro do ano seguinte, mas foi extinta em 2019
É o fim do saque-aniversário? Lula dá aval para governo acabar com a modalidade e criar novas alternativas para o uso do FGTS
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, diz estar confiante na possibilidade de convencer o Legislativo do mérito dessa alteração
Governo nega que fará ‘confisco’ dinheiro esquecido pelos brasileiros em bancos para fechar as contas em 2024
Em nota, a Secom ressaltou que os donos dos recursos poderão pedir o saque, mesmo após a incorporação às contas do Tesouro Nacional
Lula revela quando cumprirá promessa de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil
Vale destacar que a correção da tabela do IR ficou de fora do Orçamento de 2025 apresentado pelo governo nesta semana
A novela terminou: Vale (VALE3) anuncia novo CEO com aposta em solução interna
A escolha do sucessor de Eduardo Bartolomeo à frente da Vale põe fim a meses de impasse em relação a quem seria o novo CEO