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Bruna Furlani
Bruna Furlani
Jornalista formada pela Universidade de Brasília (UnB). Fez curso de jornalismo econômico oferecido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Tem passagem pelas editorias de economia, política e negócios de veículos como O Estado de S.Paulo, SBT e Correio Braziliense.
Depois de uma queda, a alta...

Cara de cripto, corpinho de títulos públicos: os sete meses do primeiro fundo de criptoativos brasileiro

Depois de um início complicado, com rentabilidade negativa nos três primeiros meses de 2018, o fundo foi beneficiado pela subida no preço do bitcoin. No ano, o seu retorno acumulado é de mais de 720% do CDI

Bruna Furlani
Bruna Furlani
4 de junho de 2019
5:18 - atualizado às 7:34
Montagem com notas de dólares e simbolo do bitcoin
Imagem: Shutterstock

Se há uma coisa que eu adoro todas as vezes que vou para um parque de diversão são montanhas-russas. Desde a do Hulk até a famosa Sheikra, que fica em Orlando, quem já enfrentou aquela sensação deliciosa de estar no alto e depois cair com tudo, sabe bem o que eu estou falando.

Mas nem todo mundo está disposto a correr riscos. Minha mãe, Márcia, por exemplo, não é fã. Para ela, se for pra se arriscar, antes é preciso entender muito bem onde está se está pisando. Da mesma forma que minha mãe, há quem prefira ser mais cauteloso, ainda que não dispense uma pimentinha para turbinar a carteira.

Com 20% aplicados em criptomoedas e os 80% restantes investidos em títulos públicos pós-fixados, o primeiro fundo de criptomoedas da bolsa brasileira voltado para investidores de varejo (BLP Criptoativos FI Multimercado) completou sete meses de vida em maio deste ano.

Assim como o próprio mercado de criptoativos, o início foi marcado por períodos de baixa com rentabilidade negativa nos três primeiros meses. Até que a situação virou e no acumulado do ano até maio, a rentabilidade chega a 18,72%, ou seja, 721,74% do CDI. Hoje, ele está disponível nas plataformas da Genial e da Órama, com aplicação inicial de R$ 1 mil. 

Lupa no fundo

Ainda que o desempenho no acumulado do ano seja mais positivo, nem tudo foram rosas. Os primeiros meses do jovem fundo foram de extrema adrenalina. Logo em novembro, ele apresentou retorno negativo de 7,09%.

O desempenho ruim no primeiro mês seguiu a tendência do bitcoin. Afinal, novembro foi um dos piores na história do bitcoin, com uma queda acumulada de 34,16%.

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A situação ficou um pouco melhor em dezembro, mas não foi suficiente para fazê-lo virar para o campo positivo. Na ocasião, ele fechou o mês de dezembro com rentabilidade negativa de 0,47%. O mês seguinte também não foi lá muito bom.

Apenas em fevereiro que os ventos começaram a apontar para uma direção de subida da moeda. Durante o período, o fundo apresentou um retorno positivo de 4,05%.

Na visão de analistas, a justificativa está atrelada ao fato de que a moeda estaria saindo dos longos períodos de queda, ou "inverno de cripto" (cripto winter, na tradução para o inglês).

Ao chegar em abril, quando o criptoativo alcançou a marca dos US$ 5.642, a rentabilidade do fundo também cresceu e chegou ao retorno mensal de 4,14%. Mas nada barra o desempenho que o fundo teve agora em maio. Depois de a moeda bater a máxima do ano em US$ 9.008, o fundo terminou o mês com retorno de 10,17%.

De olho nas criptos

Como um dos maiores fatores que afetam a rentabilidade do fundo são as criptomoedas (tanto em momentos de alta quanto de baixa), fui conversar com Axel Blikstad, um dos gestores responsáveis para entender como funciona a escolha das "pimentinhas" que dão um sabor todo especial.

Conforme ele falou, a aplicação em criptomoedas ocorre por meio de um fundo que a gestora possui no exterior. O motivo é que não é possível investir em fundos que aplicam unicamente em moedas digitais aqui no Brasil.

Em sua estratégia, Blikstad me contou que divide a aplicação. Segundo ele, 80% é investido nas dez criptomoedas mais líquidas, como EOS, Ethereum, Bitcoin e Litecoin (LTC).

"O valor restante é reservado para ativos que podem trazer boas surpresas como moedas menos líquidas, como as plataformas de contratos inteligentes Maker (MKR) e Tezos (TZS), além de ofertas iniciais de criptomoedas (ICOs), como o Keep Network (Keep), que também ajuda a fazer contratos inteligentes", destaca o gestor.

Ao infinito e além?

Uma das dúvidas que os investidores costumam ter é até quando vai a alta das criptomoedas? Na opinião de Lars Seier Christensen, ex-CEO de uma das maiores corretoras do mundo a Saxo Bank e especialista renomado no segmento de criptomoedas, a subida nas cotações da moeda está atrelada a uma combinação de eventos.

"Houve um movimento relativo por conta da polêmica envolvendo a criptomoeda Tether, que está sendo investigada pela procuradoria-geral dos Estados Unidos. Recentemente também ocorreu a Consensus 2019, um dos principais eventos do mundo de criptomoedas", destaca Christensen.

Outro fator que pode ter impactado é o acirramento da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. O especialista estrangeiro acredita que os investidores chineses estão se posicionando em bitcoins com medo do agravamento das relações entre os dois países, como forma de proteção.

A razão é semelhante ao que ocorreu quando o dólar estava em queda e os investimentos em ouro voltaram a ser porto seguro dos investidores que estavam temores com o cenário global.

Uni, duni, tê

Apesar de ter apresentado uma boa rentabilidade ao longo de 2019, há alguns pontos que o investidor precisa pensar antes de entrar em fundo como esse. Se o foco do investimento em criptomoedas for justamente a alta rentabilidade, talvez a melhor opção seja investir nos ativos diretamente.

Isso porque ao aplicar no fundo, o investidor acaba apostando a maior parte em títulos públicos que oferecem menor retorno. Logo, não é esperado que ele bata o investimento em criptoativos. Por exemplo, em maio deste ano, enquanto o bitcoin acumulou uma rentabilidade de mais de 60% no mês, o fundo obteve rentabilidade de 10,17%. 

Outro ponto de atenção é a questão da taxa de administração, que é de 1,50% ao ano e que precisa ser paga mesmo se o fundo der prejuízo. Além dela, há a cobrança de uma taxa "bônus" de 20% no caso da performance do fundo ultrapassar 100% do CDI.

Já se o investidor optar pelo investimento em criptoativos, não é preciso pagar taxa de manutenção ou de custódia, o que torna o investimento direto mais barato.

Há também a questão do resgate do investimento. Os pedidos devem ser feitos até o dia 20 de cada mês e o dinheiro sai do fundo apenas no último dia útil do mês. Se o investidor perder esse prazo terá que esperar o próximo mês para solicitar o resgate e receber no último dia útil. Já no caso das criptomoedas, o resgate pode ser feito a qualquer momento.

Olha o leão aí!

Além das particularidades do fundo, quem entra nele também precisa saber que há incidência do come-cotas (ou seja, a antecipação do imposto de renda que é cobrada dos investidores nos meses de maio e de novembro) e do Imposto de Renda.

Pelo fato de ser um fundo multimercado, a tributação é a mesma da tabela regressiva do IR.

Já no caso do investimento direto em criptomoedas, o investidor só é tributado quando for feita uma venda e ela ultrapassar os R$ 35 mil por mês. Nesse caso, a incidência de imposto ocorre conforme tabela abaixo:

E agora, José?

Na hora de escolher a melhor opção para o investidor é preciso ter em mente alguns quesitos como praticidade, custos, diversificação e rentabilidade. Se o foco for um investimento mais prático e com maior diversidade, o fundo parece uma opção interessante pelo fato de que há um gestor experiente por trás e vários ativos diferentes na carteira.

Caso investidor prefira rentabilidade e menos custos, o investimento direto em criptomoedas pode ser mais uma opção melhor. Mas antes de escolher, pense o risco que você está disposto a correr. Se for um investidor mais conservador, o fundo pode ser a porta de entrada para entrar no mundo dos criptoativos.

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