O BCE entre a cruz e a caldeirinha
Consenso entre analistas é de sinalização para corte em setembro
Os ativos financeiros globais iniciam o dia em meio à expectativa com o resultado da reunião de cúpula do Banco Central Europeu (BCE). O BCE divulgará sua decisão de política monetária às 8h45. Logo em seguida, o presidente da autoridade monetária, Mario Draghi, concederá entrevista coletiva para falar sobre a decisão.
A cautela que costuma preceder reuniões de política monetária importantes como esta fez com que os mercados de ações na Ásia fechassem com variações estreitas. As principais bolsas de valores europeias abriram no azul, mas também com pequenas oscilações, enquanto os índices futuros de Nova York operavam sem direção única.
Investidores do mundo inteiro preparam-se há meses para o início de uma rodada de corte de juro pelas principais autoridades monetárias do planeta, que mostram-se relutantes. Por trás da pressão sobre os bancos centrais estão a desaceleração econômica global e a política de guerra comercial do presidente norte-americano, Donald Trump.
Os diretores da autoridade monetária da zona do euro realizam sua reunião periódica em um momento no qual o consenso entre os agentes do mercado financeiro é de que o BCE sinalizará hoje um corte de juro para setembro. Entretanto, comentários recentes de diretores do BCE deixam aberta a possibilidade de o alívio monetário começar hoje.
Qualquer que seja a direção tomada pelo BCE, os ativos financeiros locais abrirão a sessão de hoje sob o impacto da decisão de juro e do balanço trimestral do Bradesco.
Fed deve ser o primeiro a agir
Na quarta-feira da semana que vem, será a vez de a direção do Federal Reserve Bank dos Estados Unidos se reunir e é considerada alta a probabilidade de que a autoridade monetária norte-americana desate sua primeira rodada de corte de juros em uma década.
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No Brasil, o mercado financeiro abrirá hoje com os investidores já cientes da decisão do BCE enquanto seguem precificando um corte de pelo menos 0,25 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), cuja decisão será conhecida apenas algumas horas depois do posicionamento do Fed.
Existe, no entanto, a possibilidade de o Copom ousar um pouco mais e promover um corte de até 0,50 ponto porcentual na Selic. Contribui para isso a dificuldade do País para voltar a crescer em meio a indicadores e revisões de estimativas que apontam para uma nova retração do PIB no segundo trimestre, o que confirmaria o diagnóstico de recessão técnica no Brasil.
Tal percepção tem levado os contratos futuros de juros a projetarem taxas baixas como nunca se viu antes no mercado brasileiro. Alguns analistas antecipam inclusive que os investidores devem se preparar para a perspectiva de uma nova realidade no mercado local diante da necessidade de assumir mais riscos em suas carteiras na busca por retornos mais elevados.
Cautela justificada
A cautela dos investidores em relação às medidas econômicas de curto prazo prometidas pelo Palácio do Planalto mostrou-se justificada. O governo Jair Bolsonaro autorizou ontem o saque de apenas R$ 500 por conta do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Segundo os cálculos do Ministério da Economia, a liberação dos saques injetaria R$ 30 bilhões na economia até o fim de 2019 e mais R$ 12 bilhões no decorrer de 2020. Seriam portanto R$ 2 bilhões a menos do que de fato entrou na economia em 2017, quando Michel Temer tentou algo parecido.
As surpresas prometidas com ar de grandiosidade pelo ministro Paulo Guedes na véspera do anúncio, como a criação do chamado saque-aniversário a partir do ano que vem, teriam como objetivo evitar que a medida emergencial limite-se a um “voo de galinha”.
Como o uso dos recursos vai depender da decisão e da necessidade individuais de cada correntista, não há garantias de que o impacto será o esperado pelo governo. Há quem considere que a limitação dos saques a R$ 500 direcionaria o dinheiro ao consumo. Pelas contas dos especialistas, se tudo der muito certo, o impacto positivo sobre o PIB de 2019 será de 0,3 ponto porcentual.
Mas em um momento no qual mais de 40% da população adulta do país está endividada, uma porção considerável das pessoas beneficiadas deve optar pelo abatimento de dívidas, repetindo o que ocorreu dois anos atrás, quando a galinha nem saiu do chão.
Enquanto isso, o Tesouro Nacional divulga hoje a situação da dívida pública em junho. Já o Banco Central publica o fechamento do saldo em conta corrente do País no mês passado.
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