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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Mercado se desvia de tensão comercial

Mercado espera por sinal de que relação entre EUA e China não vai piorar, enquanto ativos no Brasil ignoram incertezas sobre guerra comercial

Olivia Bulla
Olivia Bulla
22 de novembro de 2019
5:26 - atualizado às 6:15
Na agenda do dia, IPCA-15 é destaque e deve calibrar apostas sobre Selic

Os ruídos envolvendo a guerra comercial e as negociações entre Estados Unidos e China devem continuar ditando a dinâmica do mercado financeiro hoje, como tem sido nos últimos dias. Desta vez, porém, o sinal positivo prevalece entre os ativos de risco no exterior, com os índices futuros em Nova York indicando uma sessão de ganhos nesta sexta-feira.

O pregão na Ásia também foi de alta, exceto em Xangai, que caiu 0,6%. O convite de Pequim para uma nova rodada de negociações com Washington serviu de alívio na tensão comercial, atenuando as preocupações quanto ao progresso na resolução das pendências para alcançar um acordo preliminar entre as duas maiores economias do mundo.

Ou seja, o mercado está ansioso por uma sinalização favorável, indicando que não haverá piora na questão comercial. A ida de representantes dos EUA para a China ainda neste mês deve suspender as tarifas contra produtos chineses previstas para dezembro. Mas o apoio de Washington às manifestações em Hong Kong prejudica a relação sino-americana.

Por isso, os demais mercados têm oscilações tímidas. Na Europa, as principais bolsas oscilam na linha d’água. O rendimento (yield) dos títulos norte-americanos também está de lado, ao passo que o dólar segue firme em relação às moedas rivais. O petróleo, por sua vez, recua, enquanto o ouro avança.

Brasil esnoba

Por aqui, a Bolsa brasileira ignorou ontem a cautela externa com as incertezas sobre a guerra comercial, bem como o sinal negativo visto em Wall Street nos últimos dias, e fechou em alta firme, de mais de 1%. A recomendação positiva de vários bancos de investimento estrangeiros sobre o Brasil animou a renda variável, garantindo um forte volume financeiro.

Seria o primeiro sinal de que os “gringos” decidiram participar da festa dos ativos domésticos e estão dispostos em alocar seus recursos, diante da percepção de que a economia brasileira deve ter crescimento firme em 2020. E a chegada deles deve dar um impulso extra nos negócios locais, que aguardavam ansiosamente por esse “empurrãozinho”. Com isso, o dólar oscilou entre leves ganhos e perdas, orbitando ao redor da faixa de R$ 4,20.

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Mas o destaque ontem ficou com a recomposição de prêmios nos juros futuros. O movimento refletiu a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que qualquer ação por causa de desconforto com a valorização do dólar será via taxa de juros - e não por meio de intervenções no mercado câmbio. Essa explicação reduziu a chance de a queda da Selic se estender até 2020, com o ciclo podendo chegar ao fim em dezembro.

Afinal, se quando iniciou os cortes no juro básico o BC foi ousado e começou com uma dose mais alta, de meio ponto, o que justifica uma desaceleração suave na reta final do processo? O mais provável é a interrupção de forma abrupta, ao invés de ajustes residuais, de 0,25 ponto, no início do ano que vem. E a agenda do dia deve agitar esse cenário.

Agenda traz prévias

A semana chega ao fim com a agenda econômica repleta de dados preliminares deste mês. No Brasil, saem as prévias de novembro da confiança da indústria (8h) e da inflação oficial ao consumidor (9h). A expectativa é de que o IPCA-15 ganhe força em relação às leituras anteriores, subindo 0,2% em relação a outubro.

Desde junho, o IPCA-15 vem registrando taxas mensais próximas a zero, o que confirma o cenário benigno da inflação. Se confirmada a previsão para novembro, será a menor taxa para o mês desde 2003, quando subiu 0,17%. Já a taxa acumulada em 12 meses deve ser a menor do ano para o período, com alta de 2,70%.

Com isso, a prévia da inflação oficial deve ficar abaixo do piso do intervalo de tolerância do Banco Central. Ainda assim, será importante observar o acúmulo de pressões inflacionárias vindo tanto da valorização do dólar, com o repasse (pass-through) afetando itens agrícolas, quanto da maior demanda chinesa por proteínas, impactando a cesta básica de alimentos.

Os números do IPCA-15 serão lidos com lupa, de modo a calibrar as expectativas sobre o rumo da Selic em 2020. Já no exterior, saem leituras parciais sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos EUA, pela manhã. Também será conhecida a versão final do índice de confiança do consumidor norte-americano em novembro, às 12h.

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