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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Dados de emprego nos EUA decidem o dia

Após números fracos da indústria e do setor de serviços nos EUA, payroll pode clarear cenário sobre a desaceleração da atividade no país

Olivia Bulla
Olivia Bulla
4 de outubro de 2019
5:27 - atualizado às 6:17
Payroll movimenta agenda da semana
Risco de recessão nos EUA tem penalizado as bolsas e desvalorizado o dólar -

Os números piores que o esperado sobre o desempenho da indústria e do setor de serviços nos Estados Unidos em setembro, divulgados esta semana, elevaram a expectativa do mercado financeiro pelo relatório de emprego no país (payroll). E os dados do mês passado (9h30) podem lançar luz sobre o cenário de desaceleração da maior economia do mundo.

Se a sensação de perda de tração da atividade nos EUA for confirmada, o payroll deve mostrar que as contratações, em especial na indústria e nos serviços, também estão se enfraquecendo. Assim, a previsão de criação de 125 mil vagas pode estar superestimada. O mesmo se pode dizer sobre a manutenção da taxa de desemprego em 3,7%.

Porém, qualquer número mais positivo, próximo ou acima da projeção original, de 145 mil vagas - estimada antes dos índices ISM de atividade e da pesquisa ADP sobre o emprego no setor privado norte-americano - pode mudar o humor do mercado, afastando o temor de recessão nos EUA. Também merecem atenção os dados sobre a renda média do trabalhador, que cresce ao ritmo de 3% em 12 meses.

Afinal, os sinais conflitantes sobre a economia dos EUA têm levantado dúvidas sobre um eventual ciclo mais agressivo de corte de juros pelo Federal Reserve. De um lado, a atividade e os investimentos mostram trajetória negativa - exceto o setor imobiliário - ao passo que o consumo segue robusto, gerando um acúmulo de pressão inflacionária.

Nessa aparente contradição, fica difícil saber qual será o próximo passo do Fed. Considerando-se a expectativa de desaceleração mais acentuada dos EUA ao final deste ano, os investidores apostam em queda maior dos juros, de meio ponto porcentual (pp), já neste mês. Mas o Fed pode resistir a essa dosagem mais elevada.

Ao menos até que haja evidências mais claras de que a economia norte-americana corre sério risco de cair em recessão. A ver o que o presidente do Fed, Jerome Powell, tem a dizer sobre isso, em evento em Washington, a partir das 15h. No discurso, ele terá a oportunidade de validar as expectativas do mercado ou trazê-lo de volta à realidade.

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Exterior de lado

Com isso, a possibilidade de o payroll decidir o cenário de curto prazo é grande, o que leva os negócios globais a mostrarem cautela, antes dos dados efetivos. Ainda mais diante de uma agenda econômica esvaziada nesta sexta-feira, no Brasil e em outras partes do mundo, transferindo toda a atenção para os EUA.

O calendário econômico norte-americano do dia traz ainda o resultado da balança comercial em agosto, também às 9h30, que pode adicionar ingredientes às discussões durante a décima terceira rodada de negociações entre EUA e China, prevista para acontecer na semana que vem, em Washington. A guerra comercial, aliás, é o principal risco à economia global.

À espera desses números, o exterior tem uma sessão calma, com movimentações laterais nos negócios. A Bolsa de Tóquio fechou em alta de 0,3%, enquanto Seul caiu 0,5%. Em Hong Kong, o endurecimento das regras do governo local em relação aos protestos pesou nos negócios, que caíram 1%.

Já no Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram de lado, porém, com um ligeiro viés negativo, o que tenta embalar o pregão europeu, ao menos até a divulgação do payroll. Nos demais mercados, o petróleo avança e o minério de ferro também, ao passo que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) e o dólar estão estáveis.

Aliás, o temor de desaceleração nos EUA e a possibilidade maior de corte nos juros norte-americanos têm enfraquecido globalmente a moeda norte-americana, que caiu abaixo da faixa de R$ 4,10 ontem, em baixa de 1%. A trajetória se contrasta com o visto no início da semana, quando o câmbio doméstico chegou a flertar com a marca de R$ 4,20.

Já o Ibovespa defendeu ontem o nível dos 100 mil pontos, perdido durante a sessão, após Wall Street deixar de lado a incerteza sobre a economia global e a guerra comercial, e apoiando-se na perspectiva de que o Fed deve continuar cortando a taxa de juros norte-americana no curto prazo. A ver, então, como os ativos de risco se comportam hoje.

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