Afinal, qual a relevância dos Brics?
Cúpula dos Brics acontece em Brasília com o tema: “crescimento econômico para um futuro inovador”. Mas foco recai, mesmo, nos encontros bilaterais com a China
A XI Cúpula dos Brics acontece aqui em Brasília nesta quarta e quinta-feira e quem deve estar feliz com o evento são os funcionários públicos, que ganharam dois dias de ponto facultativo, já que a Esplanada dos Ministérios foi fechada para o encontro dos líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Para o restante dos mortais que acompanha o assunto, a reunião deve trazer inúmeras “cartas de intenção”, “adensamentos de cooperação” e “incentivos à aproximação” em variadas áreas como economia digital, combate à lavagem de dinheiro e Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
Como os temas políticos, como Venezuela e Bolívia, geram troca de farpas entre os membros, as reuniões devem buscar temas mais pragmáticos como os listados acima. Expectativa, também, com os encontros bilaterais entre Jair Bolsonaro e Xi Jinping, que podem resultar em acordos comerciais, principalmente na área do agronegócio.
Banco dos Brics
Também é sabido que o governo brasileiro quer que os empresários tenham contato com o NDB, banco controlado pelos países do bloco com foco em obras de infraestrutura. Pode ser que algo mais que um protocolo de intenções seja produzido.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) nos informa que o Brasil é o menor tomador de recursos do banco, criado em 2016. O NDB, ou banco dos Brics, já emprestou US$ 11,9 bilhões para projetos de infraestrutura sustentável, mas apenas 9%, ou US$ 1,1 bilhão financia projetos brasileiros.
O Brasil se comprometeu a integralizar US$ 10 bilhões de capital no banco até 2022. Até o momento, US$ 1 bilhão já foi efetivamente aportado.
Leia Também
No crédito ou no débito? Ibovespa reage a balanços, Wall Street e expectativa com cortes de gastos
Ainda segundo a CNI, o que dificulta o acesso à carteira do NDB é a falta de um escritório do banco aqui no Brasil, algo que precisa do aval da Câmara dos Deputados. Nesta semana, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou o decreto legislativo que cria essa representação regional em São Paulo e Brasília, mas o assunto ainda tem de passar pelo plenário da Câmara.
Nada de política regional
Como tudo em diplomacia, alguns temas devem ser evitados para não transmitir a ideia de falta de coesão do grupo.
Venezuela e sucessão na Bolívia são dois desses temas. Primeiro porque o Brasil é o único a reconhecer Juan Guaidó como liderança legítima venezuelana.
Segundo, porque Rússia e China não aprovam a condução da troca de comando na Bolívia, enquanto nossa chancelaria refuta a tese de golpe e afirma que Evo Morales foi responsável por uma fraude eleitoral no país.
Assim, para evitar silêncios constrangedores nos almoços, jantares e demais eventos palacianos, esses temas devem ser discutidos apenas em reuniões bilaterais.
E eu com isso?
Respondendo à pergunta do título, esse encontro dos Brics, assim como os anteriores, não deve trazer grandes consequências práticas, já que a importância do grupo é praticamente nula no atual cenário mundial, no qual o multilateralismo perde espaço.
Para nosso bolso, atenção mesmo à possibilidade de acordos bilaterais com a China, que podem ter algum impacto sobre exportadores de proteínas e demais empresas relacionadas ao agronegócio.
O grupo chegou a ter alguma relevância depois da crise financeira de 2008/2009, quando decidiu se reunir formalmente para tentar alternativas de moeda de reserva ao dólar e pressionar por uma reforma de cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que de fato aconteceu em 2010. Agora, os países tentam uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), mas esse órgão também perdeu protagonismo.
Atualmente, se questiona até mesmo a validade dos Brics como tese de investimento, que foi o que fez nascer o acrônimo em 2001, em um relatório do economista do Goldman Sachs, Jim O’Neill.
Entre 2001 e 2010, o crescimento dos países foi de fato surpreendente, até mesmo para O’Neill. Mas, desde então, Rússia e Brasil, como bem sabemos, decepcionaram fortemente.
Em artigo publicado em fevereiro deste ano, o próprio O’Neill tenta responder se os Brics são relevantes no mundo de hoje. Ele faz ponderações, justamente, sobre o desempenho recente de Brasil e Rússia, diz não entender o ingresso da África do Sul, já que o país tem uma economia pequena, e termina dizendo que espera poder responder essa questão em 2035, quando ele sugeriu que o Bric teria o mesmo tamanho do G7.
Uma curiosidade
Sempre que tenho de acompanhar visitas presidenciais e eventos multilaterais que acontecem aqui em Brasília, lembro do livro de memórias de Roberto Campos, que dizia que seu colega embaixador San Tiago Dantas costumava dizer que as visitas presidenciais e a imprensa eram os melhores “supositórios da burocracia”.
Campos, que também foi diplomata, com passagens relevantes pelos EUA e Reino Unido, discorria sobre a limitação de eventuais vantagens práticas desse uso da política externa, mas ponderava como esse tipo de evento tenta colocar em evidência alguma vontade das burocracias oficiais.
Em tempo, boa parte das reuniões dos Brics acontecerá, justamente, na sala San Tiago Dantas, do Palácio do Itamaraty.
Depois de empate com sabor de vitória, Ibovespa reage à Vale em meio a aversão ao risco no exterior
Investidores repercutem relatório de produção da Vale em dia de vencimento de futuro de Ibovespa, o que tende a provocar volatilidade na bolsa
Rússia quer se livrar do dólar e lança documento para criar criptomoeda comum aos BRICS — e critica forma como FMI trata emergentes
Alguns problemas impedem o lançamento de uma CBDC que englobe todo o bloco e os detalhes você confere a seguir
Sinais de mais estímulos à economia animam bolsas da China, mas índices internacionais oscilam de olho nos balanços
Enquanto isso, os investidores aguardam o relatório de produção da Vale (VALE3) enquanto a sede da B3, a cidade de São Paulo, segue no escuro
União contra potências ocidentais: Cúpula do Brics na Rússia mira alternativa ao dólar e ao FMI
Encontro será realizado entre 22 e 24 de outubro na cidade de Kazan
“Modelo chinês está mudando, e não necessariamente para pior”, diz ex-presidente do Banco dos Brics
Marcos Troyjo afirma que o Brasil tem grandes oportunidades no novo cenário econômico mundial e pode se beneficiar com o crescimento sempre pujante da China
Operação bilionária: o que os Correios vão fazer com R$ 4 bilhões emprestados pelo Banco do Brics, comandado por Dilma
Além dos Correios, os governos estaduais também foram autorizados a desenvolver projetos com recursos de instituições internacionais
O dólar já era? Se depender da Rússia, sim. A proposta de Putin para Brasil, China e outros emergentes “esquecerem” de vez a moeda americana
Moscou também já estaria testando uma nova tecnologia de pagamento que pode sinalizar a criação de uma moeda do Brics
Os planos de Lula para sua visita aos novos membros do Brics na África
Em sua primeira viagem internacional em 2024, Lula embarca hoje para compromissos no Egito e Etiópia, novos integrantes do Brics
Obrigado, China? Segunda maior economia do mundo espalha sua deflação e ajuda a derrubar preços no Brasil
Não será razão suficiente, porém, para levar a cortes mais agressivos da Selic, já que o consumo das famílias continua surpreendendo no Brasil
A nova ordem mundial vem aí? Os cincos países que se juntam ao clube que já tem Brasil, China e Rússia
O bloco anunciou sua expansão em agosto do ano passado, mas um dos convidados bem conhecido dos brasileiros acabou recusando fazer parte do grupo depois
Javier Milei cancela ingresso da Argentina nos Brics a poucos dias da entrada do país no bloco
Além de estar em uma profunda crise econômica, a Argentina ainda precisa lidar com o acirramento das tensões sociais após as primeiras medidas do mandato de Milei
E agora, dólar? BRICS pode ter a chave para tirar a moeda norte-americana de cena e intensificar a “desdolarização” da economia mundial, revela banco — mas não será fácil
Um estudo feito pelo banco ING deu o caminho das pedras para quem quiser superar o dólar e se tornar o novo “rei da selva”; veja
Agenda econômica: Super-quarta domina semana, com Lula e Haddad nos EUA; veja o que esperar das decisões de juros no Brasil e Estados Unidos
A viagem do presidente e do ministro da Fazenda a Nova York deve contar com o anúncio de novos títulos sustentáveis do governo federal
ING aponta ‘calcanhar de Aquiles’ do dólar: o que precisaria acontecer para moeda norte-americana deixar de ser a maior do mundo
Um estudo feito pelo banco ING foi direto: para conseguir superar o dólar, a moeda precisa dominar o mercado internacional de dívidas
Agenda política: Minirreforma eleitoral e Desenrola são destaque da semana em Brasília
Com a semana mais curta devido ao feriado da Independência, o programa Desenrola deve ter prioridade na Câmara
Moeda comum do Brics vai se tornar realidade, mas não tem pressa para sair, afirma Lula
A intenção da moeda comum do bloco é permitir que as nações façam negócios sem a dependência do dólar
Brics anuncia expansão e vai apoiar Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU
Expansão do bloco e pressão por reforma da ONU foram os principais resultados da reunião de cúpula do Brics em Johannesburgo
Lula no Brics: o recado duro que o petista mandou para os países ricos
O presidente brasileiro também falou — de novo — do projeto de uma moeda para o comércio entre os países do bloco e vendeu o novo PAC aos investidores
Esquenta dos Brics: o que esperar da reunião das economias emergentes mais importantes do planeta?
Segundo Lula, o Brasil pretende debater “uma nova governança global e a reforma das instituições multilaterais, bem como debates sobre a expansão do próprio Brics”
Agenda econômica: Reunião dos Brics e Jackson Hole dominam semana antes de prévia da inflação no Brasil
Os encontros do bloco de países emergentes e dos banqueiros centrais devem chamar a atenção em uma semana relativamente mais esvaziada