Previdência leva Ibovespa a fechar acima dos 93 mil pontos
Bolsa termina o dia na na máxima histórica, com alta de 1,72%, animada com notícias favoráveis vindas de Pequim e sobre reforma das aposentadorias
Ontem foram os 92 mil. Hoje, os 93 mil. Quebrando o recorde por dois dias consecutivos, a Bolsa de Valores de São Paulo continua turbinada, com notícias favoráveis vindas de Pequim e sobre a reforma da Previdência. Em menos de uma hora e meia de pregão nesta quarta-feira, o Ibovespa bateu a marca dos 93 mil pontos, e fechou na máxima histórica, com alta de 1,72%, e 93.613 pontos.
O dólar fechou em queda de 0,91%, a R$ 3,68 - também batendo nova mínima, reagindo a ingressos de fundos estrangeiros que estão retornando ao País após as retiradas feitas no final do ano passado, diz Jefferson Rugik, diretor da Correparti.
"O dólar ficou fraco hoje no mundo inteiro", observa o gestor da Absolut Investimentos, Fabiano Rios. O real foi a moeda que mais se valorizou ante a divisa americana, considerando uma cesta das 24 principais moedas.
Fed boy
O dólar tocou mínimas em relação a outras moedas fortes, como o euro e o iene, durante a fala do presidente da distrital de Atlanta do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Raphael Bostic, pouco antes do meio-dia daqui. Operadores comentam que o dirigente teria afirmado que o próximo movimento da instituição, em relação aos juros, poderia ser para cima ou para baixo, abrindo a possibilidade de um corte na taxa.
Fed 2
No final do dia, já perto do fechamento, a divulgação da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) fez o dólar à vista acelerar um pouco o ritmo de queda. O documento mostra que os dirigentes pretendem ser "pacientes" no processo de elevação de juros na maior economia do mundo. Para os analistas da Continuum Economics, a ata mostrou os dirigentes do Fed dispostos a fazer um pausa, na medida em que não há pressões inflacionárias nos EUA, fazendo eco aos discursos mais recentes dos membros do BC americano. Este movimento tem ajudado a enfraquecer o dólar na economia mundial. A expectativa pela resolução dos conflitos comerciais entre a China e os Estados Unidos também tem contribuído para a queda do dólar no exterior e por elevar a busca por risco dos investidores.
China e commodities
As ações ligadas a commodities guiaram o Ibovespa à máxima histórica intraday em meio ao otimismo e expectativa dos investidores com o término das negociações comerciais entre os EUA e a China. Diante disso, Vale, Gerdau, Usiminas, CSN, Suzano e Klabin tiveram altas significativas.
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De acordo com notícias veiculadas na imprensa internacional, as duas potências mundiais terminaram as reuniões com posições mais próximas em áreas como energia e agricultura, mas ainda mais distantes em questões mais problemáticas. A previsão é que os dois países divulguem um comunicado conjunto hoje à noite.
Em 1º lugar
A campeã das altas hoje foi a Cosan ON, com avanço de 8,16%. Conforme apontou o Itaú BBA, em relatório publicado nesta semana, empresas das área de vestuário, siderurgia e etanol (como a Cosan) estão entre as mais expostas diante de uma possível redução das barreiras tributárias às importações no Brasil, aponta o Itaú BBA, em relatório publicado nesta semana. No documento, assinado pelos analistas Luiz Cherman, Jorge Gabrich, Lucas Tambellini, Fabio Perina e Guilherme Reif, eles destacaram algumas empresas com maior exposição a tal mudança. Entre os nomes estão a Usiminas na área de siderurgia, Guararapes e Cia Hering em vestuário e Cosan na área de etanol. No esboço apresentado, todas apareceram com o porcentual de receitas oriundas de vendas locais de mais de 80%.
Bons números
Contribuiu também o avanço da Vale, com o anúncio da China de reduzir impostos para pequenas empresas a fim de garantir que a economia doméstica cresça "dentro de uma faixa razoável".
As ações ON da Vale subiram 2,44%, Usiminas PNA avançou 3,28%, CSN ON fechou em alta de 0,82% e Gerdau PN valorizou 2,83%. No setor de papel e celulose, Suzano ON subiu 5,99% e Klabin Unit avançou 4,87%.
Na outra ponta
Entre as blue chips, o investidor observará a ON do Banco do Brasil, que perdeu valor ontem após circular a notícia de que o filho do vice-presidente, general Mourão, foi promovido no Banco do Brasil. Hoje, o papel desvalorizou 0,27%.
O funcionário de carreira do banco estatal Antonio Hamilton Rossell Mourão foi promovido a assessor especial, o que triplicou seu salário. "Não pega bem, mas parece que a cúpula do governo nem percebe isso", diz um analista do mercado financeiro.
O fato também contagiou a BB Seguridade. O papel ON da BB Seguridade ampliou as quedas recentes e foi a maior baixa do Ibovespa, com 3,16%. Além disso, o JPMorgan reduzir a recomendação da empresa de neutra para "underweight" (desempenho abaixo da média de mercado), de acordo com operadores.
Eletrobras
As ações ordinárias da Eletrobras passam por realização nesta quarta-feira depois de terem subido mais de 5% ontem com a declaração do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, de que o governo está focado na privatização da companhia. Mesmo assim, os papéis ON tiveram salto de 0,39%, enquanto PNB, que fecharam o último pregão com redução de 3,3%, tiveram alta de 1,01%.
Tchau, Silvio Santos!
As ações PNB da Companhia Paranaense de Energia (Copel) tiveram alta de 1,65%, com a definição do conselho de eleger Daniel Slaviero como novo diretor presidente da companhia. Ele era funcionário de Silvio Santos e exercia o cargo de diretor executivo da rede SBT de televisão. Diferentemente de Eletrobras, o mercado não aposta na privatização da empresa. Sabrina Cassiano, analista de investimento da Coinvalores, diz que em nenhum momento o governo local dá indicação da possibilidade de venda da companhia. As ações do setor têm sido beneficiadas pela queda no preço de energia no mercado de curto prazo, o que acaba favorecendo as distribuidoras e geradoras.
Petrobras
A ação ON da Petrobras teve elevação de 2,02% e a PN, de 2,08%. Os contratos futuros de petróleo ampliaram os ganhos e chegaram a subir 4%, à medida que os agentes digerem notícias relacionadas à Arábia Saudita. O ministro de Energia do país disse que o principal objetivo do reino é manter o mercado de petróleo equilibrado. Além disso, fontes da agência de notícias Dow Jones Newswires relataram que a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) de ações da gigante estatal saudita Saudi Aramco está programado, agora, para 2021.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para entrega em fevereiro fechou em alta de 5,18%, para US$ 52,36 por barril. Já na Intercontinental Exchange (ICE), o barril do Brent para março subiu 4,63%, para US$ 61,44.
Na pista
As ações ON da CCR valorizaram 3,76%, depois de ficar entre as maiores altas do Ibovespa, subindo mais de 7%. EcoRodovias ON também apresentou ganhos 3,93%. Ariovaldo Santos, gerente de mesa da Hencorp Commcor, explica que os papéis das duas empresas estão em plena recuperação depois de serem prejudicados no ano passado com as denúncias de envolvimento de executivos das companhias na operação Lava Jato. "Vários papéis na bolsa subiram bastante recentemente. Com o envolvimento de CCR e EcoRodovias na Lava Jato e nas delações, as ações estavam atrasadas. Assim, o investidor procura oportunidades e vai atrás de papéis com perspectivas futuras", diz Santos.
CCR ON apresenta em janeiro alta de quase 14%, mas em um ano perda de 18%. A mesma coisa acontece com EcoRodovias, que sobe quase 7% em janeiro, mas perde praticamente 15% em 12 meses. Segundo um operador, as ações da CCR, empresa que tem boa parte de suas dívidas atreladas ao Depósito Interfinanceiro (DI), acompanham a trajetória de queda da taxa de juro. No mercado futuro de juros, o DI para janeiro de 2021 ficou em 7,36%, ante 7,37%.
Fies afunilado
As empresas de educação se destacam entre as maiores altas: as ações ON da Estácio com avanço de 7,10% e as ON da Kroton com ganho de 4,13%, diante de especulações de que o governo poderá restringir o Financiamento Estudantil (Fies). Lucas Claro, assessor de investimentos da Ativa Investimentos, explica que este movimento acontece porque os estudantes de classes mais baixas, que poderiam escolher uma faculdade mais cara devido a ajuda do Fies, podem acabar tendo que migrar para universidades com mensalidades mais baratas caso o programa seja restrito.
A avaliação de empresários do setor privado, no entanto, é que o volume atual do Fies já é muito baixo e tem pouco efeito prático para o crescimento dos grandes grupos. Em 2018, o programa de financiamento estudantil do governo federal só preencheu 80,3 mil das 310 mil vagas ofertadas em 2018, segundo dados levantados pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) junto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Pago e não nego
A ação PN da Oi teve alta de 2,14% depois que a empresa anunciou acordo para encerrar todos os litígios judiciais e extrajudiciais no Brasil, Portugal e em demais países onde existam discussões. A Oi deverá pagar 25 milhões de euros à Pharol, sua acionista controladora, além de entregar 33,8 milhões de ações que estão em tesouraria. A Pharol, por sua vez, deve participar das subscrições de novas ações, previstas no Plano de Recuperação Judicial da Oi, e apoiar a implementação do plano.
Gringos x Brazucas
Janeiro é historicamente um mês positivo de entrada de recursos no país, mas este até agora ainda vem mostrando saída de capital externo, mais uma mostra da cautela dos estrangeiros. Neste mesmo mês, em 2018 entraram US$ 5,5 bilhões no canal financeiro. Mas por enquanto os dados do Banco Central divulgados hoje mostram saída de US$ 1,3 bilhão pelo canal financeiro e comercial apenas nos primeiros três dias do ano.
O otimismo doméstico soa exagerado a ouvidos estrangeiros. Hoje, em entrevista ao Broadcast, a vice-presidente-executiva e chefe global de crédito soberano para mercados emergentes da PIMCO em Londres, Lupin Rahman, afirmou que, com a aprovação da reforma da Previdência já precificada, há agora um risco de ajuste, que pode ocorrer a qualquer momento. Também afirmou que "os investidores domésticos estão em um movimento no Brasil muito 'bullish' (de alta), enquanto os estrangeiros estão um pouco mais... eles não estão "bearish" (em baixa), mas estão vendo tudo o mais que está acontecendo no globo".
Ontem, o colunista do Broadcast Fábio Alves escreveu na mesma linha, argumentando que "é nítida a diferença de postura entre investidores brasileiros e estrangeiros em relação às perspectivas de aprovação da reforma da Previdência e do desempenho da economia sob o governo Jair Bolsonaro".
*Com Estadão Conteúdo
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