Brasil tem que escolher entre céu do juro baixo ou inferno da crise, diz Tony Volpon
Segundo economista do UBS, Tony Volpon, não há meio termo para a economia, ou terminamos o ajuste fiscal ou cairemos em crise fiscal e financeira
Segundo o economista-chefe do UBS para o Brasil, Tony Volpon, a queda da taxa de juros que estamos vivenciando pode mudar a cara da economia brasileira. A grande questão é que temos de seguir com a agenda de reformas, caso contrário vamos para um cenário de crise fiscal e financeira.
Em palestra durante evento do jornal “Correio Braziliense”, Volpon disse que vivemos entre o céu do juro baixo e o inferno da crise. Não tem mais como voltar ao purgatório no qual vivemos durante muitos anos de aumento do gasto público acima da inflação e juros reais elevados.
Segundo o economista, é difícil dizer o que é cíclico e o que é estrutural nessa queda da taxa de juro real (juro nominal descontada a inflação) para a linha de 2% a 3% ao ano. “O que sabemos é que se não completarmos o ajuste fiscal, com certeza, a taxa de juros não é essa que estamos olhando agora. Ela será mais alta. Voltamos em um filme que é insustentável”, afirmou.
Ainda de acordo com Volpon, olhando o estoque atual de endividamento, uma volta dos juros aos patamares anteriores resultaria em crise financeira, cenário do qual escapamos raspando durante 2015/2016.
“Se retroagirmos no ajuste, não voltamos ao passado, voltamos a uma crise. E nada destrói renda e cria caos social como uma crise financeira, pois seria acompanha de uma recessão. É céu ou inferno, não tem como voltar ao purgatório que tivemos por muitos anos”, explicou.
Para o economista, o grande risco para o ano de 2020 é a complacência. “O risco é a classe política olhar para o mercado e ver esse quadro de ‘final feliz’ e achar que não tem que completar o ajuste fiscal, que não tem urgência.”
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Ganhadores e perdedores
Segundo Volpon, a queda do juro está reduzindo o custo de capital para as empresas, algo que deve impulsionar os investimentos.
O juro baixo também está promovendo uma mudança na postura do investidor brasileiro, que sempre teve duas características típicas. Grande parte do capital em renda fixa de curto prazo e todo seu dinheiro aplicado no Brasil.
Segundo Volpon, pela primeira vez na história, o volume de recursos captados por todos os fundos que não são classificados como renda fixa ultrapassou o volume de CDBs, que “são a pura expressão do rentismo”. Essa é a gasolina que vai movimentar o investimento.
“Se conseguirmos solidificar os níveis de juros, vamos destruir o rentismo no Brasil”, disse.
Só que nem todo mundo ganha nesse cenário. Tem um mercado que perde com a queda da taxa de juros que é a taxa de câmbio.
Segundo Volpon, do lado do investidor que aplicava em Brasil, muito desse investimento estava calcado no juro alto, que não existe mais. Então, algumas estratégias não fazem mais sentido e temos saída de recursos.
No lado das empresas, era mais barato fazer captações externas a se endividar por aqui. Outro paradigma que mudou com a queda do juro. As empresas, agora, recompram dólares, pagam suas dívidas e captam no mercado local.
“O mix ótimo do passivo das empresas tem mudado. Do ponto de vista do país é excelente. Mas com essa mudança de estoque de passivos de investidores e empresas temos um fluxo muito negativo no mercado de câmbio”, explicou.
Estamos passando por esse ajuste. Parte dele é financiado pelo BC, que vem ofertando dólares das reservas, e parte é termos de conviver com dólar mais caro, disse, replicando a avaliação do ministro Paulo Guedes.
Em tom de brincadeira, Volpon disse que quem viaja muito para a Disney não vai gostar do mercado de câmbio nos próximos anos. A brincadeira entre seus amigos de mercado é dizer: cancela a Disney e vai pro Beto Carrero World.
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