Dona da Le Lis Blanc e Dudalina, a Restoque tenta pôr ordem na casa. O mercado está cético
Em meio a um processo de mudança de estratégia, a Restoque reportou mais um conjunto de resultados trimestrais desanimadores, o que fez suas ações chegarem às mínimas em mais de três anos

A Restoque é um caso singular na bolsa brasileira. Ao contrário de Lojas Renner, C&A, Riachuelo e Lojas Hering, a varejista de moda tem como foco o segmento de alto padrão. Basta ver suas principais marcas: Le Lis Blanc, Dudalina, John John, Bo.Bô e Rosa Chá são algumas de suas bandeiras mais famosas.
Só que, independente do público-alvo, a Restoque também está exposta às intempéries do setor varejista — em especial, o ritmo ainda vacilante da economia doméstica. E a empresa sentiu o golpe da fraqueza na atividade do país, perdendo tração nos últimos anos.
Nesse cenário, a companhia decidiu que era hora de organizar o guarda-roupa: optou por uma estratégia de austeridade no curto prazo, buscando aumentar a eficiência e elevar a conexão com seu público-alvo. A ideia é pavimentar as bases para colher um crescimento no futuro — dar um passo para trás e, depois, dar dois à frente.
A narrativa é muito bonita, mas fato é que a Restoque tem encontrado dificuldades para mostrar ao mercado que esse processo de reorganização operacional está realmente surtindo efeito. E o resultado dessa transição turbulenta é a forte baixa no preço das ações ON da companhia (LLIS3).
Os papéis da dona da Le Lis Blanc, Dudalina e John John fecharam o pregão desta segunda-feira (18) em forte baixa de 9,71%, a R$ 18,41 — é a menor cotação de encerramento desde fevereiro de 2016. Somente em 2019, os ativos da companhia acumulam queda de 31,3%.
O ceticismo do mercado se deve aos números mostrados pela Restoque em seu balanço do terceiro trimestre. A empresa terminou o período com prejuízo líquido e viu sua receita cair drasticamente — sinais pouco animadores para quem diz ter a intenção de voltar a crescer de maneira sustentável já em 2020.
Leia Também

O rei está nu
Vamos aos números: entre julho e setembro, a Restoque reportou um prejuízo líquido de R$ 47,8 milhões, revertendo os ganhos de R$ 7,8 milhões registrados no mesmo período do ano passado. Desde o início de 2019, a empresa acumula uma perda de R$ 11,7 milhões — há um ano, a empresa tinha um lucro de R$ 58,5 milhões.
A receita também foi mal: chegou a R$ 207,2 milhões no terceiro trimestre de 2019, uma queda de 34,1% na mesma base de comparação. De janeiro a setembro deste ano, a receita soma R$ 689,6 milhões, cifra 27,2% menor que a vista em igual intervalo de 2018.
Esse enxugamento nas receitas, contudo, não foi acompanhado por uma redução nas despesas operacionais. Os gastos desse tipo totalizaram R$ 148,3 milhões no trimestre — entre julho e setembro do ano passado, a dona da Le Lis Blanc, Dudalina e John John teve despesas operacionais menores, de R$ 140,7 milhões.
O endividamento da varejista também não melhorou: ao fim de setembro, a dívida líquida da companhia era de R$ 1,18 bilhão, cifra 14,2% maior que a vista em junho.
Por fim, o indicador de vendas mesmas lojas (SSS) —uma métrica importante para o setor de varejo — piorou muito: a Restoque como um todo reportou uma queda de 20,9% no terceiro trimestre de 2019 na base anual; Le Lis Blanc e Dudalina tiveram os resultados mais preocupantes, com baixas de 20,6% e 49,8%, respectivamente.
Remendos
Ok, já está claro que os resultados financeiros estão longe de indicar uma reação. Mas, afinal, o que é que a Restoque está fazendo para tentar reverter essa situação?
A estratégia da companhia gira em torno de dois eixos: o fortalecimento das marcas e o foco na experiência e satisfação do cliente. E, de modo a ter êxito nessa empreitada, a dona da Le Lis Blanc, Dudalina e John John diz estar trabalhando para eliminar "conflitos entre os canais de venda".
Para isso, a Restoque está reduzindo as promoções e liquidações no canal de varejo, uma vez que essa prática estava afetando negativamente as vendas no atacado. e atuando para reduzir "significativamente". Além disso, diz estar empenhada em reduzir as vendas a terceiros que comercializam na internet — e que, consequentemente, competem com os próprios canais on-line da empresa.
"No entanto, esse movimento impacta negativamente a receita no curto prazo, até que haja substituição de vendas com descontos por vendas a preço cheio e migração de vendas realizadas online por terceiros para o canal online
próprio", diz a companhia, em mensagem aos acionistas.
Por fim, a varejista diz que a estratégia para 2019 ainda inclui gastos maiores com atualização tecnológica e unificação dos canais de venda online e varejo, em paralelo a um movimento de precificação "intrinsecamente ligada à percepção de valor dos produtos".

Mudança de coleção
Mas engana-se quem pensa que o balanço da Restoque não trouxe notícias positivas. Por mais que as métricas financeiras continuem sem força, há alguns sinais animadores no front operacional, como o forte crescimento de 137,2% das vendas no canal on-line.
A companhia ainda deu inúmeras sinalizações quanto ao caminho a ser trilhado em 2020. Para o próximo ano, a varejista diz estar focada em otimizar sua gestão e rever sua estrutura de custos e despesas, de modo a dar impulso à rentabilidade e à geração de caixa.
Entre as inciativas para cortar custos, a empresa diz que já está trabalhando para reduzir sua folha de pagamentos por meio da diminuição do quadro administrativo. Gastos com marketing e investimentos serão igualmente enxugados.
A administração da Companhia acredita que, com o final do ciclo de ajustes mais severos de receita realizados em 2019, [...] sua receita evoluirá positivamente em 2020, também tracionada pela maturação do omnichannel, pelo aumento de luxo de clientes e vendas no canal online próprio, pela recuperação da performance do canal atacado e pela performance positiva do varejo", diz a Restoque.
Renovação
Em relatório, o BTG Pactual destaca que os resultados da varejista foram novamente marcados pelos ajustes de estratégia. O banco destaca o impacto negativo de R$ 136,2 milhões, especialmente nas marcas Le Lis Blanc e Dudalina, em função dos cortes de vendas para canais online de terceiros e da redução nas promoções.
"Após um resultado mais fraco que o esperado, e levando em consideração os ajustes em andamento na política comercial e o plano de otimização nos custos, planejamos revisar em breve nossas estimativas [para a Restoque]", escrevem Luiz Guanais e Gabriel Savi, analistas do BTG.
Atualmente, a instituição possui uma recomendação de compra para as ações ON da Restoque, com preço-alvo em 12 meses de R$ 44,00 — um potencial de ganhos de mais de 130% em relação à cotação atual.
"Para uma reavaliação, o desempenho das vendas permanece como um fator chave, especialmente depois dos ajustes no canal de atacado", afirmam os analistas, destacando, ainda, que a Restoque deve se beneficiar com a recuperação econômica do Brasil em 2020.
Até tu, Nvidia? “Queridinha” do mercado tomba sob Trump; o que esperar do mercado nesta quarta
Bolsas continuam de olho nas tarifas dos EUA e avaliam dados do PIB da China; por aqui, investidores reagem a relatório da Vale
Como declarar ações no imposto de renda 2025
Declarar ações no imposto de renda não é trivial, e não é na hora de declarar que você deve recolher o imposto sobre o investimento. Felizmente a pessoa física conta com um limite de isenção. Saiba todos os detalhes sobre como declarar a posse, compra, venda, lucros e prejuízos com ações no IR 2025
Por que o Mercado Livre (MELI34) vai investir R$ 34 bilhões no Brasil em 2025? Aporte só não é maior que o de Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3)
Com o valor anunciado pela varejista online, seria possível comprar quatro vezes Magalu, Americanas e Casas Bahia juntos; conversamos com o vice-presidente e líder do Meli no Brasil para entender o que a empresa quer fazer com essa bolada
Mercado Livre (MELI34) vai aniquilar a concorrência com investimento de R$ 34 bilhões no Brasil? O que será de Casas Bahia (BHIA3) e Magalu (MGLU3)?
Aposta bilionária deve ser usada para dobrar a logística no país e consolidar vantagem sobre concorrentes locais e globais. Como fica o setor de e-commerce como um todo?
As empresas não querem mais saber da bolsa? Puxada por debêntures, renda fixa domina o mercado com apetite por títulos isentos de IR
Com Selic elevada e incertezas no horizonte, emissões de ações vão de mal a pior, e companhias preferem captar recursos via dívida — no Brasil e no exterior; CRIs e CRAs, no entanto, veem emissões caírem
Depois de derreter mais de 90% na bolsa, Espaçolaser (ESPA3) diz que virada chegou e aposta em mudança de fornecedor em nova estratégia
Em seu primeiro Investor Day no cargo, o CFO e diretor de RI Fabio Itikawa reforça resultados do 4T24 como ponto de virada e divulga plano de troca de fornecedor para reduzir custos
Península de saída do Atacadão: Família Diniz deixa quadro de acionistas do Carrefour (CRFB3) dias antes de votação sobre OPA
Após reduzir a fatia que detinha na varejista alimentar ao longo dos últimos meses, a Península decidiu vender de vez toda a participação restante no Atacadão
Respira, mas não larga o salva-vidas: Trump continua mexendo com os humores do mercado nesta terça
Além da guerra comercial, investidores também acompanham balanços nos EUA, PIB da China e, por aqui, relatório de produção da Vale (VALE3) no 1T25
Temporada de balanços 1T25: Confira as datas e horários das divulgações e das teleconferências
De volta ao seu ritmo acelerado, a temporada de balanços do 1T25 começa em abril e revela como as empresas brasileiras têm desempenhado na nova era de Donald Trump
Azul (AZUL4) busca até R$ 4 bilhões em oferta de ações e oferece “presente” para acionistas que entrarem no follow-on; ações sobem forte na B3
Com potencial de superar os R$ 4 bilhões com a oferta, a companhia aérea pretende usar recursos para melhorar estrutura de capital e quitar dívidas com credores
Allos (ALOS3) entra na reta final da fusão e aposta em dividendos com data marcada (e no começo do mês) para atrair pequeno investidor
Em conversa com Seu Dinheiro, a CFO Daniella Guanabara fala sobre os planos da Allos para 2025 e a busca por diversificar receitas — por exemplo, com a empresa de mídia out of home Helloo
Após semana intensa, bolsas conseguem fechar no azul apesar de nova elevação tarifária pela China; ouro bate recorde a US$ 3.200
Clima ainda é de cautela nos mercados, mas dia foi de recuperação de perdas para o Ibovespa e os índices das bolsas de NY
Cyrela (CYRE3): Lançamentos disparam mais de 180% (de novo) e dividendos extraordinários entram no radar — mas três bancões enxergam espaço para mais
Apesar da valorização de mais de 46% na bolsa, três bancos avaliam que Cyrela deve subir ainda mais
Senta que lá vem mais tarifa: China retalia (de novo) e mercados reagem, em meio ao fogo cruzado
Por aqui, os investidores devem ficar com um olho no peixe e outro no gato, acompanhando os dados do IPCA e do IBC-Br, considerado a prévia do PIB nacional
Gigantes da bolsa derretem com tarifas de Trump: pequenas empresas devem começar a chamar a atenção
Enquanto o mercado tenta entender como as tarifas de Trump ajudam ou atrapalham algumas empresas grandes, outras nanicas com atuação exclusivamente local continuam sua rotina como se (quase) nada tivesse acontecido
Ambev (ABEV3) vai do sonho grande de Lemann à “grande ressaca”: por que o mercado largou as ações da cervejaria — e o que esperar
Com queda de 30% nas ações nos últimos dez anos, cervejaria domina mercado totalmente maduro e não vê perspectiva de crescimento clara, diante de um momento de mudança nos hábitos de consumo
Brava Energia (BRAV3) e petroleiras tombam em bloco na B3, mas analistas veem duas ações atraentes para investir agora
O empurrão nas ações de petroleiras segue o agravamento da guerra comercial mundial, com retaliações da China e Europa às tarifas de Donald Trump
Sem pílula de veneno: Casas Bahia (BHIA3) derruba barreira contra ofertas hostis; decisão segue recuo de Michael Klein na disputa por cadeira no conselho
Entre as medidas que seriam discutidas em AGE, que foi cancelada pela varejista, estava uma potencial alteração do estatuto para incluir disposições sobre uma poison pill; entenda
“Trump vai demorar um pouco mais para entrar em pânico”, prevê gestor — mas isso não é motivo para se desiludir com a bolsa brasileira agora
Para André Lion, sócio e gestor da estratégia de renda variável da Ibiuna Investimentos, não é porque as bolsas globais caíram que Trump voltará atrás na guerra comercial
CEO da Embraer (EMBR3): tarifas de Trump não intimidam planos de US$ 10 bilhões em receita até 2030; empresa também quer listar BDRs da Eve na B3
A projeção da Embraer é de que, apenas neste ano, a receita líquida média atinja US$ 7,3 bilhões — sem considerar a performance da subsidiária Eve