A parte que falta
Em vez de tentarmos preencher nosso vazio existencial ou informacional, talvez o caminho para felicidade financeira seja assumir que sempre haverá uma parte faltante
"Quanto menos inteligente um homem é,
menos misteriosa lhe parece a existência.”
“Pensamos raramente no que temos,
mas sempre no que nos falta.”
Arthur Schopenhauer
O título aí de cima é do livro de Shel Silverstein, publicado em 1976. Fala de um bicho meio circular com uma parte faltante, um pedaço a completar os 360 graus inteiros. O ser procura sem parar a tal parte que falta. Com isso, ele garantiria sua própria felicidade, na íntegra.
Leia Também
A verdade é que quase ninguém conhecia o livro aqui no Brasil. Até que a digital influencer Jout Jout recomendou o troço em seu canal no YouTube. Dois milhões de acessos depois, “A Parte Que Falta” foi catapultado subitamente para o primeiro lugar da lista de mais vendidos da Amazon. Ficou lá várias semanas, esgotado em diversas livrarias — sim, é um caso 100 por cento real.
Esta newsletter fala da vida, de livros ou de investimentos? É tudo a mesma coisa, sabe? O mercado financeiro é uma representação do cotidiano e das forças que regem a humanidade. A grande metafísica das coisas é que não há metafísica alguma.
Interações sociais
Aprendo várias coisas a partir do fenômeno Jout Jout.
A primeira delas é que os fenômenos sociais — e é dispensável lembrar que os mercados obedecem a interações sociais; há um indivíduo (ou um robô programado por um indivíduo) comprando e outro vendendo — não seguem trajetórias lineares.
No final da tarde de ontem, conversava com um dos melhores gestores de ações do Brasil. Ele explicava as dificuldades de se tocar um fundo de equities neste ano, possivelmente o mais difícil da década. “Se você não se entupiu de commodities, de Vale em particular, muito provavelmente está bem atrás do Ibovespa — e quem, seguindo a cartilha buffettiana, tem coragem de se entupir de commodities? Deve ser o pior ano em muito tempo para os fundos de ações.”
Apenas respondi que o ano ainda não acabou. Nossas cabeças tendem a pensar de forma linear, gradual, paulatina. Isso oferece a falsa sensação de que estamos no controle, de que podemos transpor para amanhã o mesmo padrão de hoje. Ninguém gosta de conviver mentalmente com a dúvida, a incerteza e as caminhadas erráticas e malcomportadas. Infelizmente, porém, a realidade não liga muito para a gente, sabe? Ela é um bicho meio autista. Insiste em andar em grandes saltos súbitos.
Fora dos padrões
Anos em que o Ibovespa sobe 15 por cento não são tipicamente caracterizados por alguma coisa perto de alta de 1 por cento em cada mês. Se você decompuser esse retorno, vai ver como poucos pregões ou períodos representam quase a totalidade do resultado consolidado. Em três meses, pode acontecer uma verdadeira explosão — não é exagero.
As vendas de um livro ficam paradas por muito tempo. De repente, acontece um fenômeno aparentemente descompromissado, fora dos padrões típicos e…boom! Aquele negócio vira um grande best-seller. Rigorosamente a mesma dinâmica serve para ativos financeiros. Acontece de supetão e é muito rápido.
Uma segunda coisa interessante e bem em linha com a dinâmica da época se refere ao que é a verdadeira mídia hoje, aquela capaz de ditar práticas de consumo e provocar real mudança de comportamento. “Eu procurei fumar cigarro Hollywood, que a televisão me diz que é cigarro do sucesso. Eu sou sucesso! Eu sou sucesso!” É apenas fim de mês, não é a ressurreição do Raul Seixas. Isso daí acabou e a influência da mídia tradicional é muito menor hoje. Veja quanto a interminável propaganda de Geraldo Alckmin na TV trouxe de votos adicionais para o tucano…
Briga conjugal
Esse assunto é importante hoje, em que temos outra interminável matéria contra a candidatura de Jair Bolsonaro, dessa vez na capa da Veja. A acusação da vez aponta que sua ex-mulher teria o acusado de ter furtado seu cofre, ocultar patrimônio, receber pagamentos não declarados e agir com desmedida agressividade. Sei lá se é verdade ou não. Meu objetivo não é meter a colher em briga conjugal. Quero responder à pergunta enviada por vários leitores: “Acha que isso pode ferir a campanha de Jair Bolsonaro?”.
Definitivamente, acho que não. Talvez até mesmo o contrário. Há um componente antifrágil em Jair Bolsonaro: cada vez que ele apanha da mídia tradicional com factoides ou falta de provas contundentes, ele sai mais forte. Bolsonaro é, entre outras coisas, uma representação da insatisfação contra o establishment e suas opiniões consensuais politicamente corretas, sempre procurando ditar ao outro a cartilha do que se pode ou deve fazer. E cada vez que a imprensa quiser ditar/impor para sua audiência que a candidatura de Bolsonaro não é “adequada para o país”, mais a audiência vai conectar-se com Bolsonaro. Ou há um “batom na cueca clássico” contra o candidato do PSL ou essa tentativa de “desconstrui-lo” só fará fortalecê-lo — os ataques sucessivos de Geraldo Alckmin foram muito eficientes para desconstruir a candidatura de… Geraldo Alckmin!
Convicções pessoais
O quarto poder hoje está fora de um ente central super poder. Ele está disperso nas redes sociais, em pequenos ou grandes influenciadores que falam para públicos específicos, conectados com aquele guru, cujas opiniões ou recomendações criam ressonância e empatia na sua audiência. Por conta dos algoritmos das redes sociais, as pessoas cada vez mais vão sendo expostas aos próprios gostos. Vão se distanciando do contraditório e aproximando-se dos polos de suas próprias convicções pessoais. O centro vai se esvaziando. A mídia tradicional, ao tentar ser ponderada, comedida e consensual, procura falar para o centro e para a média, sob o risco de não falar mais com ninguém.
Mas não são essas as duas razões principais para meu amor por “A Parte Que Falta”. Para mim, guardadas as devidas proporções, ele é uma espécie de Pequeno Príncipe. Não porque também nos sugira eterna responsabilidade por aquilo que cativamos. Mas pela profundidade da metáfora. É pura filosofia vestida de livro infantil.
Aquilo ali é Schopenhauer. Ok, talvez eu, que também acredito no amor como meta de vida, veja Schopenhauer em tudo. Mas desta vez, não. Acho que tem ligação mesmo. A vida humana é regida pela vontade de querer ser, ter e fazer mais, um desejo insaciável de se preencher um vazio existencial “impreenchível”.
O que falta
Ao investir, sempre vamos achar que falta uma última informação para nos dar a confiança e a certeza necessárias de que o nosso dinheiro vai render mais. Pego emprestadas as palavras de Peter Lynch ao relacionar as qualidades necessárias para ser bem-sucedido em Bolsa: “(...) também é importante ser capaz de tomar decisões sem a informação completa ou perfeita. As coisas nem sempre são claras em Wall Street ou, quando são, então é muito tarde para lucrar com elas. A mente científica que necessita saber todos os dados ficará obstruída nesse ponto”.
Enquanto esperamos uma definição, o Ibovespa bateu 80 mil pontos ontem.
Em vez de tentarmos preencher nosso vazio existencial ou informacional, talvez o caminho para a felicidade financeira seja assumir que sempre haverá uma parte faltante. Não há como preencher o nosso desejo de certeza sobre o futuro. Temos é de criar um jeito de ser e estar no mundo diante de toda essa bagunça.
E quais são os jeitos que vejo agora?
E quais são os jeitos que vejo agora?
Em termos de alocação macro, dois caminhos:
1) Comprado em Bolsa e dólar. Se a eleição tiver um resultado positivo, Bolsa vai subir muito e dólar não vai cair tanto, porque ele está forte globalmente e o equilíbrio, considerando essas transações correntes e esse carry, sugere algo ali em torno de 3,70 (não é muito para cair percentualmente).
Já se a eleição der ruim, o dólar deve subir bem e as empresas exportadoras, com grande peso no Ibovespa, tendem a segurar o índice. Ademais, as empresas estão muito enxutas e os lucros corporativos podem crescer bem a partir de qualquer recuperação cíclica. Já estamos bem abaixo da média histórica em termos de valuation.
2) Retirada do time de campo agora aos 80 mil pontos, colhendo os lucros recentes. Esperamos sentados no CDI passar a turbulência da eleição. Entramos depois num nível de risco muito menor. Com uma eleição muito ruim, poderemos comprar barato. Com uma eleição boa, perderemos o começo do movimento, sim. Mas ele será tão vigoroso que poderemos entrar depois e ainda assim ganhar muito dinheiro; seria um longo bull market estrutural.
Mercados
Mercados iniciam a sexta-feira realizando lucros da véspera e monitorando exterior. Bolsas caem lá fora, pressionadas pelo comportamento dos títulos na Itália, onde populistas aprovaram um orçamento público pior.
Internamente, destaque hoje para duas pesquisas eleitorais: XP/Ipespe e Datafolha. Na economia, saem dados de desemprego e dados consolidados do setor público. Nos EUA, temos renda e gastos do consumidor, além de PCE, atividade em Chicago e sentimento do consumidor.
Ibovespa Futuro cai 0,8 por cento, dólar e juros futuros sobem.
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
Regulação do mercado de carbono avança no Brasil, mas deixa de lado um dos setores que mais emite gases estufa no país
Projeto de Lei agora só precisa da sanção presidencial para começar a valer; entenda como vai funcionar
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
A arma mais poderosa de Putin (até agora): Rússia cruza linha vermelha contra a Ucrânia e lança míssil com capacidade nuclear
No início da semana, Kiev recebeu autorização dos EUA para o uso de mísseis supersônicos; agora foi a vez de Moscou dar uma resposta
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Rali do Trump Trade acabou? Bitcoin (BTC) se estabiliza, mas analistas apontam eventos-chave para maior criptomoeda do mundo chegar aos US$ 200 mil
Mercado de criptomoedas se aproxima de uma encruzilhada: rumo ao topo ou a resultados medianos? Governo Trump pode ter a chave para o desfecho.
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
No G20 Social, Lula defende que governos rompam “dissonância” entre as vozes do mercado e das ruas e pede a países ricos que financiem preservação ambiental
Comentários de Lula foram feitos no encerramento do G20 Social, derivação do evento criada pelo governo brasileiro e que antecede reunião de cúpula
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
Warren Buffett não quer o Nubank? Megainvestidor corta aposta no banco digital em quase 20% — ação cai 8% em Wall Street
O desempenho negativo do banco digital nesta sexta-feira pode ser explicado por três fatores principais — e um deles está diretamente ligado ao bilionário
Banco do Brasil (BBAS3) de volta ao ataque: banco prevê virada de chave com cartão de crédito em 2025
Após fase ‘pé no chão’ depois da pandemia da covid-19, a instituição financeira quer expandir a carteira de cartão de crédito, que tem crescido pouco nos últimos dois anos
CEO da AgroGalaxy (AGXY3) entra para o conselho após debandada do alto escalão; empresa chama acionistas para assembleia no mês que vem
Além do diretor-presidente, outros dois conselheiros foram nomeados; o trio terá mandato até a AGE marcada para meados de dezembro
Ação da Americanas (AMER3) dispara 200% e lidera altas fora do Ibovespa na semana, enquanto Oi (OIBR3) desaba 75%. O que está por trás das oscilações?
A varejista e a empresa de telecomunicações foram destaque na B3 na semana mais curto por conta do feriado de 15 de novembro, mas por motivos exatamente opostos
Oi (OIBR3) dá o passo final para desligar telefones fixos. Como ficam os seis milhões de clientes da operadora?
Como a maior parte dos usuários da Oi também possui a banda larga da operadora, a empresa deve oferecer a migração da linha fixa para essa estrutura*