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Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
Jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) com pós-graduação em Finanças Corporativas e Investment Banking pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Trabalhou com produção de reportagem na TV Globo e foi editora de finanças pessoais de Exame.com, na Editora Abril.
Estratégia

Quando o COE vale a pena: 7 condições que tornam o investimento interessante

O Certificado de Operações Estruturadas pode parecer complexo, mas permite, ao investidor pessoa física, investir em mercados e estratégias pouco acessíveis. E o melhor: com 100% do capital protegido

Julia Wiltgen
Julia Wiltgen
14 de dezembro de 2018
5:30 - atualizado às 22:19
Sede do Google em Mountain View, na Califórnia
Por meio de COE, é possível ganhar com o desempenho de ações de empresas gringas, como o Google - Imagem: Uladzik Kryhin/Shutterstock

Que tal um investimento atrelado ao S&P500 ou a ações de gigantes de tecnologia como Apple, Netflix, Google e Amazon? E o melhor: com capital 100% protegido? Se você tem conta aberta em corretora ou distribuidora de valores, provavelmente já recebeu alguma oferta desse tipo, te convidando para investir em COE, o título que torna essas estratégias possíveis. Mas vale a pena? Em que condições?

Os COE - Certificados de Operações Estruturadas - são títulos emitidos por bancos que permitem ao investidor apostar na alta ou na queda de ativos e índices. Por exemplo, na valorização de ações, na queda do dólar ou na alta de um fundo estrangeiro.

Em geral, os COE oferecem capital 100% protegido, isto é, se a estratégia não der certo, o investidor recebe de volta o valor investido, com ou sem correção pela inflação.

Isso é possível porque os COE encerram em si uma operação estruturada, que mistura ativos de renda fixa e derivativos para proteger o capital, ao mesmo tempo em que aposta na variação de um ativo ou índice.

Além do capital protegido, outro grande chamariz do COE é a diversificação de ativos e estratégias. As possibilidades são, de fato, inúmeras.

Você pode apostar em mercados ou lançar mão de estratégias normalmente inacessíveis para a pessoa física, seja pela complexidade, seja pelo custo, seja pelo valor de aplicação inicial. Eu explico em detalhes o que é COE nesta outra reportagem.

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O COE é um produto com certo grau de sofisticação e complexidade. Cada COE é único: encerra uma estratégia específica, com prazo de duração determinado e, às vezes, com diferentes remunerações para diferentes resultados.

De fato, compreender o funcionamento de um COE não é simples nem rápido. Se você sentiu dificuldade de entender os que te ofereceram, acredite, você não está sozinho. Não é tão claro quanto ouvir “este título paga 100% do CDI em um ano”.

Para ajudar na sua avaliação, eu listei algumas condições que fazem com que investir em COE valha a pena. O ideal é que mais de uma delas esteja presente.

Quando vale a pena investir em COE

1. Quando a taxa básica de juros está baixa

Investir em COE é mais vantajoso em tempos de juros baixos. Nesse contexto, produtos que oferecem retornos maiores que os da renda fixa tradicional ganham força, sobretudo aqueles que não obrigam o investidor a se expor inteiramente ao risco da renda variável.

Como os COE costumam ter 100% do capital protegido, o investidor não perde o principal investido se a aposta der errado. Mas, neste caso, ele terá deixado de ganhar o rendimento de uma aplicação de renda fixa conservadora. É o custo de oportunidade.

Quando a Selic está em baixa, o investidor pode entender que ficar na renda fixa conservadora e não ganhar nada dá na mesma. Assim, faz sentido, para ele, correr o risco de ficar no zero a zero para tentar ganhar muito mais num COE.

2. Quando o potencial de ganho é muito maior que o potencial de perda

Este segundo item é uma espécie de continuação do primeiro. No que diz respeito à rentabilidade, o ideal é que o COE pague um prêmio razoável sobre o CDI, taxa que referencia as aplicações de renda fixa conservadora.

Por dois motivos: primeiro porque, na pior das hipóteses, você terá deixado de receber algo perto do CDI, com baixo risco e liquidez diária; e segundo porque COE geralmente não têm liquidez ou só permitem resgates em momentos específicos - e ainda assim, podendo haver perdas.

Em outras palavras, o prêmio deve compensar o fato de que você vai deixar o dinheiro “preso” por algum tempo, correndo o risco de sair sem nada.

O prazo de um COE costuma variar de seis meses a cinco anos. Quanto mais distante o vencimento, mais o título deve pagar em comparação com a renda fixa conservadora.

Alguns COE oferecem correção pela inflação quando o cenário projetado não se concretiza, o que é, a meu ver, uma grande coisa. Nesse caso, dá para dizer que o investidor realmente não perde dinheiro. Se seguiu a inflação, o poder de compra está mantido. Show de bola.

Mas muitos outros de fato deixam o cara no zero a zero se der ruim. Ou seja, sem perda nominal, mas com perda para a inflação. Aí de fato é preciso pensar se o possível retorno extra do COE compensa.

Para Alexandre Amorim, gestor de investimentos da Par Mais, os COE referenciados em ativos de renda variável e fundos estrangeiros é que podem ter algum diferencial de rentabilidade para o investidor pessoa física. Já naqueles referenciados em renda fixa, “normalmente a conta não é vantajosa”, diz.

Ele dá uma espécie de “regra de bolso” para avaliar o retorno potencial de um COE. “Se eu fico um ano com o dinheiro parado, perco da inflação, que hoje é de mais ou menos 4%. Se eu posso ganhar 12% em um ano num COE, que é cerca de 8% acima da inflação, vale a pena. Eu tenho uma perda máxima de 4% e um ganho real que é o dobro da perda máxima. Eu acho que essa é a relação mínima, dois para um”, explica.

Nesse sentido, um COE que pagasse no máximo 8% em um cenário de 4% de inflação não compensaria, pois o ganho potencial real seria de apenas uma vez a perda máxima. “Mas, em geral, os COE de renda variável pagam bem mais”, diz o gestor.

No caso dos COE referenciados em fundos de investimento, Amorim considera que é até mais fácil avaliar. Em geral, eles apostam em fundos de gestoras consagradas internacionalmente, com longo histórico de retornos. Basta o investidor pegar o histórico do fundo e analisar seu retorno em janelas de tempo similares ao prazo do título.

Por exemplo, no caso de um COE de três anos, você deveria olhar o desempenho do fundo em janelas de três anos. Quais os piores resultados encontrados? E quantas vezes o fundo apresentou o cenário considerado negativo?

“A maioria dos fundos estrangeiros que baseiam COE hoje em dia sobreviveram até mesmo à crise de 2008. Esse é um bom período para se olhar”, observa o gestor da Par Mais.

3. Quando você é muito conservador, mas quer dar um “up” na carteira

“No Brasil, em média, o investidor pessoa física tem uma carteira com muita renda fixa tradicional. Investir em COE é uma forma de ter um ativo com características de renda fixa e retornos de renda variável”, diz Eduardo Pais de Barros, responsável pela mesa de produtos da área de gestão de fortunas do BTG Pactual.

Por um lado, a rentabilidade do COE, se tudo der certo, é bastante previsível. Normalmente, eles pagam uma taxa prefixada ou, um percentual da variação do ativo de referência até um determinado limite. Além disso, há a segurança do capital protegido.

Por outro, os retornos estão condicionados à concretização da estratégia, podendo ser bastante superiores aos da renda fixa tradicional.

Investir em COE, portanto, pode ser considerado um primeiro passo na renda variável para quem é muito avesso ao risco. É aquela pontinha do pé que a gente coloca na água para testar se está fria. Numa carteira muito conservadora, o produto pode dar um “up” na rentabilidade.

4. Quando você quer se proteger de um cenário adverso ou potencializar seus ganhos

Por incluir estratégias com derivativos, os COE permitem ao investidor fazer operações que são, normalmente, difíceis ou caras para a pessoa física montar sozinha - ainda mais quem tem poucos recursos para investir. É o caso da alavancagem e do hedge.

A alavancagem é a possibilidade de potencializar os ganhos com a variação do ativo em que você está apostando. Com o COE, é possível alavancar os retornos positivos sem, no entanto, potencializar também as perdas.

Um exemplo: os COE baseados nos fundos da Pimco, gestora renomada e especializada em renda fixa global, costumam oferecer alavancagem de quatro, cinco, seis vezes o retorno do fundo de referência, sem limite de rentabilidade.

Já o hedge é uma proteção. Um investidor que esteja comprado em dólar ou bolsa pode se proteger contra a queda desses ativos comprando um COE que aposte na sua desvalorização com alavancagem e 100% do capital protegido. Se houver alta, o cara recebe o principal de volta e vê sua ponta comprada valorizar.

Por exemplo, tem COE em que o investidor pode ganhar tanto na alta quanto na baixa do Ibovespa, respeitados um teto e um piso. Há uma rentabilidade mínima caso o índice suba ou caia demais, e rentabilidades maiores se a variação ficar dentro dos limites estipulados. Nesses casos, o investidor nunca sai de mãos vazias.

É claro que é possível montar esse tipo de operação na bolsa com derivativos. Mas as estratégias nem sempre são simples para a pessoa física. E, em certos casos, pode ser preciso fazer desembolsos, o chamado ajuste diário. Em um prazo mais longo, o investidor pode não ter fôlego financeiro para manter a estratégia.

5. Quando você quer fugir do risco Brasil

Boa parte dos ativos que referenciam COE são ações e fundos negociados no exterior, commodities ou índices de bolsas estrangeiras. É possível, ainda, apostar em uma moeda contra outra.

Ao investir em COE atrelados a ativos fora do Brasil, você consegue diversificar seu portfólio de modo a fugir do risco-país. Tudo isso, sem risco cambial ou a burocracia de mandar o dinheiro para o exterior. Fora que, em alguns casos, seria impossível investir diretamente.

Além dos já citado COE baseados nos fundos da Pimco, que investem no mundo todo, são muito frequentes também aqueles baseados em ações americanas, como Netflix, Facebook e Amazon, ou em índices como o S&P500.

Em geral, eles oferecem uma taxa de juros variável se o ativo (ou carteira de ativos) tiver alta em períodos de leitura pré-determinados. Por exemplo, ocorre uma verificação trimestral até que o cenário desejado se concretize, quando então o investidor é remunerado. Se até o vencimento não houver alta, o investidor recebe o dinheiro de volta.

6. Quando você quer diversificar em mercados específicos

Também dá para diversificar em mercados muito específicos, do seu interesse pessoal, como um fundo que invista em empresas que desenvolvem equipamentos de saúde - algo que pode atrair, por exemplo, médicos investidores.

Ou ainda em ações de empresas sustentáveis, algo que pode ser interessante para quem quer apoiar a causa ambiental.

7. Quando você quer aproveitar a expertise do banco emissor

As estratégias dos COE são fruto da análise do banco emissor. Para a instituição financeira, é interessante acertar as projeções para fidelizar os clientes e continuar captando recursos.

Emissor e distribuidor são remunerados quando o investidor aplica no COE, mas eles não ganham nada a mais se a estratégia der errado. Pelo contrário, se as análises falharem com frequência, é provável que percam clientes, insatisfeitos por não terem retorno.

Investir em COE, portanto, também é uma maneira de aproveitar a expertise de uma grande instituição financeira, com aplicações a partir de algumas centenas de reais.

“A gente sempre tenta colocar nas emissões alguma inteligência, alinhando o que a casa acha do cenário macroeconômico e do momento de mercado para montar COE com grandes chances de dar um resultado positivo”, observa Eduardo Pais de Barros, do BTG.

Não são só os clientes da área de wealth do banco que podem investir em COE. No BTG Pactual Digital, os valores para aplicar nesses títulos partem de R$ 300. Há, no mercado, COE de aplicação inicial mínima de apenas R$ 1 mil, R$ 3 mil ou R$ 5 mil.

COE: investimento tem riscos e divide opiniões

O COE é um produto que divide opiniões. Conversei com um amigo que é agente autônomo e adora COE.

Claro que você poderia dizer que ele tem todo o interesse do mundo em dizer isso, afinal, ele vende o produto a seus clientes. Mas ele gosta de investir em COE seus próprios recursos, e eu sei que ele tem um perfil bastante conservador.

Já Alexandre Amorim, da Par Mais, é bem reticente em relação ao COE. “Fiz poucas vezes, para investidores específicos. Por exemplo, que já tenham patrimônio relevante e investimento no exterior. Às vezes é melhor para ele investir em COE e ganhar três, quatro vezes o rendimento de um grande fundo estrangeiro do que entrar no fundo diretamente. Mas eu coloco tipo 1% do patrimônio do cliente num produto desses”, diz.

Sua maior ressalva em relação ao produto é a baixa liquidez. “O dinheiro pode ficar travado por muito tempo e, nesse período, muita coisa pode acontecer. No caso de um COE referenciado em um fundo, pode haver, por exemplo, mudança de gestor. Esse é o tipo de coisa que poderia me motivar a sair de um fundo, mas em um COE eu não tenho essa mobilidade”, explica.

Para quem pensa em investir em COE, é importante entender não só o custo de oportunidade e o risco de perder para a inflação, como também esse risco de não poder acessar os recursos a qualquer momento. Ter uma boa reserva de emergência em investimentos de alta liquidez é fundamental.

“Os investidores muitas vezes ficam um tempão sem mexer na carteira. Mas quando existe a possibilidade de ficar com o dinheiro ‘preso’, eles ficam incomodados. Além disso, acabam errando as próprias previsões. Dizem que determinada quantia é para o longo prazo, mas dali a seis meses resolvem reformar a casa ou comprar uma lancha e precisam resgatar. Vejo muito isso acontecer”, diz Amorim.

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