Outubro vermelho
Antes que você tire conclusões precipitadas, o “vermelho” do título acima nada tem a ver com o PT, com o PCdoB, com o MST e similares. Vermelho nesta crônica significa prejuízo
Caro leitor,
Antes que você tire conclusões precipitadas, o “vermelho” do título acima nada tem a ver com o PT, com o PCdoB, com o MST e similares. Vermelho nesta crônica significa prejuízo. Fartos prejuízos no mercado de ações de ontem.
O dia começou com declarações conflitantes de Jair Bolsonaro. Após dizer que a reforma da Previdência será tratada vagarosamente, o capitão informou que irá procurar a equipe de Michel Temer para cuidar da aprovação ainda em 2018, na atual legislatura, desgastada e parcialmente defenestrada, do Congresso.
Não bastassem tais notícias baixistas, outras duas vieram se somar:
- Jair Bolsonaro se mostrou contrário à privatização da Eletrobras, acrescentando que “a gente não vai mexer no setor de exploração da Petrobras.” Foi um retrocesso nacionalista. Voltou a ser o Bolsonaro de antigamente.
- O Ministério Público Federal comunicou que Paulo Guedes está sendo investigado por suspeita de fraudes em negócios com fundos de pensões de estatais. O Ibovespa abriu com enorme pressão de venda.
Jair Bolsonaro e Fernando Haddad estão oficialmente no segundo turno. Para ganhar com o sobe e desce do mercado, selecionamos três ações para você investir agora e ganhar muito dinheiro com as eleições. Quer saber quais são? Veja aqui.
“Tudo bem”, aposto que disseram alguns otimistas. “Isso é uma saudável realização de lucros”. A Bolsa vinha subindo consistentemente e haveria um momento em que dos dois sentimentos que a regem, ganância e medo, o segundo suplantaria o primeiro.
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Pois foi ontem. O mercado sentiu medo.
O que ninguém esperava é que o Dow Jones abrisse na máxima do dia e caísse ao longo de toda a sessão, um recuo 831,83 pontos ou 3,15%, a maior queda em oito meses.
Aqui no Brasil, a grande expectativa era a primeira pesquisa de intenção de votos no segundo turno para presidente, do Datafolha, marcada para as 19 horas, portanto, após o fechamento do mercado.
Só que a queda de Nova York ao longo do dia foi se tornando tão ampla que a pesquisa acabou sendo relegada a segundo plano.
Os números foram favoráveis a Jair Bolsonaro: 58% para ele e 42% para Haddad, uma diferença de 16 pontos.
Um adversário do capitão poderia alegar que na votação de domingo a vantagem tinha sido de 17 pontos: 46 a 29.
Acontece que quem votou em Bolsonaro no dia 7, vai votar em Bolsonaro no dia 28, assim como quem votou em Haddad vai continuar votando em Haddad.
Dos que votaram em Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, João Amoêdo e demais candidatos, só um por cento a mais se bandeou para Haddad. Considerando-se que Ciro obteve uma votação expressiva, 12,47%, e que a maioria de seus eleitores supostamente vota em Haddad, o 1% de bônus que o petista levou foi simplesmente brochante para seus adeptos. Dá pinta que a turma de Alckmin e Amoêdo vai mesmo “bolsonarar”.
Bull market dia 1º?
Nesse ritmo, Jair Bolsonaro vai pôr a faixa no dia 1º de janeiro, trazendo a reboque um tremendo bull market das ações.
Certo?
Não mais.
Se o tombaço de ontem em Nova York não foi apenas uma correção e sim uma virada, a Bolsa brasileira, mesmo com Bolsonaro, Guedes e companhia, desce junto. Quem manda nesses assuntos de dinheiro é Wall Street.
Sugiro que o prezado assinante acompanhe com a maior atenção o comportamento da Bolsa de Valores de Nova York. Se o mercado continuar caindo (fechou ontem praticamente na mínima do dia, 25.598,74, contra a mínima exata de 25.593,65), Brasil segue no vácuo.
Para piorar as coisas, sexta-feira é feriado no Brasil e dia útil nos Estados Unidos.
Em Nova York, outubro é o mês em que as coisas acontecem em Bolsa. É só lembrar da Segunda-feira Negra, 19 de outubro de 1987, e da Terça-feira Negra, 29 de outubro de 1929.
Por isso, dei a este texto o título de Outubro Vermelho, torcendo para que seja apenas uma peça de ficção, um script de mau gosto de um filme de terror.
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