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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Eleições 2018

Bolsonaro e Haddad reproduzem campanha em entrevistas

Presidenciáveis seguiram o mesmo script das campanhas de rádio e TV sem dar novas pistas relevantes sobre condução da economia

Eduardo Campos
Eduardo Campos
23 de outubro de 2018
6:02 - atualizado às 11:42
Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, candidatos às eleições presidenciais de 2018
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil e Sérgio Silva/Wikimedia Commons

Foi um pouco frustrante ficar até uma da manhã acompanhando as entrevistas de Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL) ao “Conexão Repórter” do “SBT”. Mesmo com as perguntas incisivas do colega Roberto Cabrini, as respostas não saíram do roteiro que já temos visto nas propagandas eleitorais de rádio e televisão. De um lado, a desconfiança do PT como organização criminosa. Do outro, a insistência de que Bolsonaro é uma ameaça à democracia.

Começando pelo capitão, que lidera as pesquisas, Bolsonaro foi mais cuidadoso ao tratar da economia, mas não deixou de dar uma “canelada” ao falar que “mais da metade do que arrecadamos vai para pagamento de juros” da dívida pública.

Lembrei do Ciro Gomes que repetia isso “ad nauseam”. Indo direto ao ponto, isso é uma falácia que soa bem aos ouvidos, mas não tem respaldo na realidade. De fato, não pagamos juros da dívida desde 2014 e, além disso, tomamos ainda mais dívida para cobrir despesas que antes cabiam na arrecadação. O que acontece é a rolagem da dívida, troca de dívida “velha” por “nova”, e um endividamento incremental para arcar com despesas que não cabem no que o governo arrecada (déficit primário pelo quinto ano seguido).

Sobre privatizações, Bolsonaro manteve a avaliação de que o setor energético é estratégico, mas alguma coisa pode sim ser privatizada. Citou especificamente refino de óleo e depois disse que tem de chamar o setor privado já que a Petrobras perdeu capacidade de investimento.

As linhas gerais foram reafirmadas, como redução do tamanho do Estado, menos burocracia e tributação. Perguntado sobre Donald Trump, Bolsonaro disse que ele não deixa de ser uma referência na parte econômica e ressaltou a redução de impostos corporativos feita pelo americano, pois “trouxe recursos aos EUA e ampliou empregos”.

Haddad disse que seu foco é aumentar a renda da população. Para isso vai diminuir o Imposto de Renda de quem ganha até cinco salários mínimos, retomar obras paradas e o programa Minha Casa, Minha Vida.

Também falou na sua reforma bancária, e que vai cobrar impostos dos mais ricos, citando explicitamente a tributação sobre distribuição de lucros e dividendos. Sobre privatizações, aproveitou para atacar Bolsonaro e dizer que ele não conhece o Estado e que “fatiar” a Petrobras, mantendo seu “miolo” é um erro, pois é uma empresa integrada que perderia valor.

Haddad foi questionado sobre reforma da Previdência, algo que não foi feito para Bolsonaro. Segundo o petista, a sua ideia é avançar por meio do diálogo, construindo uma proposta ao longo dos anos que vise um regime único, começando pelos Regimes Próprio de Previdência Social (RPPS), que atende ao funcionalismo dos Estados.

Na parte dos costumes, Haddad seguiu com sua moderação de postura, reconhecendo falhas do PT e afastando que Lula vá mandar no seu governo. Mandar não manda, mas naturalmente seria um importante interlocutor.

Bolsonaro teve de dizer que não pensa em fechar o Congresso, que não defende a volta da tortura ou que vá censurar a imprensa. Disse que membros das Forças Armadas vão sim ter espaço no seu governo e afirmou que no governo anterior existiam “terroristas e corruptos” nos Ministérios.

Um presidente para todos?

Bolsonaro disse que “lógico” que se eleito seria um presidente de todos, inclusive dos esquerdistas. Mas que “não dá para conversar com esse tipo de gente”, em referência a Haddad, e que “não tem interesse em conversar com uma pessoa dessa formação e desse pensamento” e que ele (Haddad) também não deveria querer conversa.

Haddad disse que aceita sim sentar para conversar com Bolsonaro assim que ele pedir desculpas e que o candidato tem de parar de ofendê-lo pelo “Twitter”. “Ele deveria se desculpar. Não está falando com moleque”, disse o petista.

Haddad no Roda Viva

Antes da exibição do “Conexão Repórter” do “SBT”, Fernando Haddad esteve no “Roda Viva” da “TV Cultura”. O candidato seguiu na sua “convergência ao centro” tentando obter votos assumindo “erros” do partido na política e na economia.

Como não poderia ser diferente, seguiu no ataque a Bolsonaro, que foi convidado e preferiu não participar, repetindo que além de uma ameaça à democracia, o capitão não tem experiência administrativa. Depois de citar feitos à frente da prefeitura de São Paulo, disse que concorre com uma pessoa que não administrou um boteco.

No lado econômico, defendeu a reforma bancária como única forma de tornar o Brasil uma “sociedade capitalista moderna”. E que sem essa reforma não tem como o setor produtivo pagar o lucro dos banqueiros.

Também divergiu da dinâmica do mercado, que reagiu com alta da bolsa e queda do dólar ao avanço de Bolsonaro nas pesquisas. Disse que tais movimentos são gerados pelos grandes especuladores, que lidam com muito dinheiro, e que fazem movimentos para prejudicar o pequeno investidor. Disse ainda ter conhecimento de causa, pois trabalhou como analista de crédito no Unibanco por dois anos e esteve próximo das grandes mesas de operação. “Tem um grande volume de recursos que usa de má-fé para ganhar dinheiro”, disse.

Falou também sobre a mudança do plano de governo com relação à autonomia do Banco Central. Disse que tinha de corrigir a redação, pois o mercado tinha entendido que o BC seria responsável pela política fiscal do país. O plano original falava em mandado duplo ao BC, inflação e emprego.

“Queríamos dizer que o BC também seria responsável por fazer a reforma bancária. O BC não será mais capturado pelos bancos”, afirmou, complementando que o BC não tem independência, pois sempre foi capturado pelo interesse dos bancos.

Sobre a recente polêmica envolvendo um dos filhos de Bolsonaro e declarações sobre um eventual fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF), Haddad reafirmou que a candidatura de Bolsonaro é uma ameaça à liberdade.

Mas foi contraditado pela bancada, que listrou declarações semelhantes de Lula e outros membros do PT sobre a necessidade de se fechar o STF. Disse que não acha que o PT seja uma ameaça à democracia e afirmou que o partido abriu mão do plano de uma constituinte, que constava no primeiro plano de governo, por “uma questão de redação” que gerava confusão.

Questionado se o PT não incita eleitores ao se colocar como única alternativa à democracia e lembrado que 46 milhões de pessoas votaram no capitão, Haddad disse que Bolsonaro incita a morte dos eleitores e que sofre ameaças pessoais. Na sequência, disse que Bolsonaro desconhece as condições das Forças Armadas, ao comentar frase de filho do Bolsonaro sobre entrar em guerra com a Venezuela. “Venezuela tem força militar superior à nossa”, disse, complementando que ou pede ajuda a um “império internacional”, como os EUA, ou “vamos mandar jovens pobres para morrer”.

Questionado se esses eleitores de Bolsonaro não têm apreço pela democracia, Haddad disse que “temos de alertar”, e falou que foram feitos alertas semelhantes sobre Adolf Hitler, Benito Mussolini e Francisco Franco.

Sobre o presidente Lula, voltou a dizer que discorda das decisões já tomadas que resultaram na prisão do ex-presidente e que aguarda um julgamento "justo" pelas cortes superiores.

Perguntado se tinha algum ídolo, disse que tinha vários e, no fim, citou Juscelino Kubitscheck, conhecido, entre outras coisas, por seu “desenvolvimentismo às caneladas”, que legou grave endividamento ao país.

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