As duas faces do câmbio: queridinho ou vilão em 2019?
Após conversar com quatro especialistas, todos foram categóricos e disseram que estão mais favoráveis ao real do que ao dólar para o próximo ano. Diante de um cenário negativo para o exterior e mais positivo para Brasil, o fundo cambial ainda parece uma boa opção para quem quer se proteger
Assim que entrei no mercado financeiro, um dos primeiros conceitos que aprendi é que não dá para apostar todas as suas fichas em uma única moeda. Logo, a solução foi procurar um ativo que fosse simples e que funcionasse como uma espécie de seguro para amortecer perdas eventuais que eu poderia ter por conta de uma piora no cenário brasileiro.
Pesquisei bastante e optei por um fundo cambial. O nome pode soar um pouco complicado, mas o fato de existir um gestor que administra o ativo facilita bastante. Olhei a taxa de administração e escolhi um que cobrava 1% ao ano e que permitia aporte inicial de R$ 1 mil.
Entrei um pouco antes da Greve dos Caminhoneiros que parou o Brasil e que fez com que as ações de empresas como a Petrobras, - que tem peso relevante sobre o Ibovespa - , caíssem bastante.
Apostei no fundo para o longo prazo. Por isso, optei por deixar o dinheiro rendendo por lá até surgir uma viagem ou uma crise que pudesse atrapalhar os ganhos da minha carteira. Mas diante do agravamento da crise externa e do maior otimismo com a Bolsa, confesso que aumentar a posição em dólar não está mais nos meus planos por agora.
Onde investir em 2019
Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre onde investir em 2019, com as perspectivas para os diferentes ativos. São eles:
- Ações
- Imóveis
- Fundos imobiliários
- Tesouro Direto
- Renda fixa, além do Tesouro Direto
- Criptomoedas
- Câmbio (você está aqui)
Conversei com alguns especialistas em câmbio para detalhar o que você deve esperar desse tipo de aplicação no ano que vem e quais as oportunidades de investimento.
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Incertezas dominam
Ao falar sobre câmbio, a primeira resposta que eu sempre recebo dos analistas é que é quase impossível prever como o dólar estará no futuro, já que a moeda é o ativo com mais variáveis exógenas que existe no mercado financeiro mundial. Para piorar, como o cenário agora é um dos mais desafiadores por conta da possível recessão americana e da desaceleração global, fica ainda mais difícil traçar qualquer perspectiva para o ano que vem.
Mesmo a boa performance do dólar no ranking de investimentos anual (com valorização de 17,12%), não anima. Após conversar com quatro especialistas, todos foram categóricos e disseram que estão mais favoráveis ao real do que ao dólar. Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset, destacou que diante da sinalização de que há uma recessão nos Estados Unidos e que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) pode desistir mais cedo de subir o juro, as apostas do mercado estão fora do câmbio.
Isso porque o juro em alta por lá é uma das variáveis que podem incentivar o movimento de migração de recursos para a renda fixa americana (flight to quality), o que desvaloriza outras moedas. Nesse caso, a recessão pode trazer uma desvalorização maior do real ou valorização maior de dólar.
Mas a visão de Pablo é mais otimista com a moeda brasileira do que com a americana. Segundo ele, há boas perspectivas para o Brasil com a parte econômica e isso deve trazer uma enxurrada de capital estrangeiro para cá, o que vai forçar o dólar para baixo.
"Hoje, por exemplo, eu estou no menor nível de investimento em moeda americana. Por outro lado, estou bem posicionado em Bolsa à espera do estrangeiro, já que o cenário externo vive um momento de arrefecimento com discussões sobre Brexit, dificuldades na Itália e desaceleração chinesa", disse o diretor.
Assim como ele, um relatório divulgado recentemente pelo Morgan Stanley com as perspectivas e estratégias globais para o próximo ano aponta na mesma direção. De acordo com o documento, o crescimento abaixo do esperado nos Estados Unidos junto com a política de aperto de juros e o possível aumento da inflação podem levar à queda da moeda. Segundo as projeções do banco, o dólar pode chegar aos R$ 3,55 já no primeiro semestre do ano que vem, caso o presidente eleito aprove a Reforma da Previdência no Brasil.
Dois lados da moeda
E isso vem fazendo o gringo se mexer. Como informou o repórter Eduardo Campos, na última quinta-feira (27), a aposta do estrangeiro na alta da moeda americana caiu de US$ 9,2 bilhões para US$ 48 milhões. E uma das saídas para manter a posição comprada em dólar pode ser o Brasil, como explica Roberto Motta, chefe da mesa institucional de futuros da Genial Investimentos.
"Hoje, o nosso país tem um dos juros mais baixos entre os países emergentes e pela primeira vez, eles se mantiveram de maneira mais constante. Logo, para os estrangeiros, ficou barato comprar dólar aqui para se proteger (hedge), se você está comprado em Bolsa", disse Motta.
Ainda que a possibilidade seja de maior valorização do real frente ao dólar, o especialista da Genial alerta para outro cenário. Se a crise piorar no mundo, todas as aplicações de risco podem ser afetados. Logo, a cotação do dólar pode voltar a subir, mesmo que o Fed prefira não aumentar os juros. Para Motta, também há um risco interno.
Segundo ele, hoje o mercado já colocou o preço da reforma. Porém, se começar a ter notícias ruins sobre a gestão, é possível que a moeda americana volte a subir.
O que fazer?
Para lidar com as incertezas do cenário externo e interno, a sugestão é apostar em um fundo cambial, assim como eu fiz. O interessante é que ele aloca pelo menos 80% da carteira em ativos expostos à moeda estrangeira, geralmente, o dólar. Já os 20% restantes podem ser investidos em outros tipos de ativo.
A facilidade de apostar nesse tipo de ativo é que o funcionamento é semelhante ao de um condomínio. Nele, o cotista (proprietário) adquire uma cota (apartamento). O síndico é representado pela figura do gestor, que é o responsável pela composição dos ativos da carteira. Um dos pontos mais interessantes é que o CNPJ de um fundo está apenas ligado ao nome do cotista. Logo, se ele preferir ou se a gestora quebrar, ele pode apenas transferir a sua cota para outro fundo.
As vantagens desse tipo de investimento estão ligadas à liquidez e menor burocracia, já que o trabalho é delegado a um gestor. Além disso, ele também é mais prático do que a opção em espécie porque o investidor não precisa comprar ou vender a moeda.
Já a desvantagem é a rentabilidade. Apesar da facilidade de resgatar o dinheiro investido, o investidor abre mão de uma retorno maior que poderia obter ao aplicar em ações ou fundos imobiliários.
No dia a dia, portanto, o seu objetivo deve ser ganhar dinheiro com posições em Bolsa e na renda fixa. A ideia é que essas aplicações sejam responsáveis pelo lucro consolidado da sua carteira no longo prazo, e não os seguros. É preciso entender que você terá prejuízos se decidir aplicar neles, e que por isso, eles devem representar apenas uma pequena parcela da sua carteira, algo entre 5% e 10%.
Além dos possíveis prejuízos, é preciso pensar na tributação do fundo. Esse tipo de ativo está sujeito à tabela regressiva de renda fixa: para ganhos até 180 dias, o Imposto de Renda é de 22,5%; de 181 a 360 dias, há 20% de IR; de 361 a 720 dias, 17,5%; e, acima de 720 dias, 15%.
Selecionando um fundo
E qual escolher? A dica é pensar em um fundo de câmbio em que o gestor acompanhe a variação da moeda e cobre taxas de administração mais baixas, de até 1% ao ano. Na hora de indicar, segui a indicação da especialista em fundos do Seu Dinheiro, Luciana Seabra.
Ela aponta que as duas boas opções que estão disponíveis no mercado são os fundos Occam FI Cambial e Votorantim Dólar FIC Cambial. O primeiro possui taxa de administração de 0,75% ao ano e aporte inicial de R$ 5 mil. Já o segundo possui investimento inicial de R$ 1 mil e taxa de administração de 1% ao ano.
É o momento?
O interessante de apostar em fundos passivos de dólar é que eles são baratos e mais transparentes para a pessoa física comprar, segundo o que me contou Vitor Cândido Oliveira, economista-chefe da Guide. Mas, ainda que sejam uma opção interessante para se proteger, talvez o momento não seja o melhor para comprá-los.
"Acredito que ainda possam existir algumas descompressões pontuais que podem criar janelas bem interessantes em termos de ativos para se aplicar. Estou mais otimista com Bolsa e com apostas na curva de juros. Por isso, a minha recomendação é esperar um pouco. Pelo menos até o primeiro trimestre do ano", destacou o especialista.
Para ele, agora o cenário é bem diferente do período eleitoral em que havia maior assimetria com o cenário externo do que interno, o que levou a uma boa valorização da moeda americana. Na visão de Oliveira, hoje há um horizonte um pouco mais positivo para Brasil e menos para fora. Logo, a indicação do economista é que os investidores esperem.
E eu particularmente, acredito que é melhor aguardar. O governo começará o mandato com muitos desafios e será preciso fôlego e jogo de cintura político para aprovar as reformas necessárias para o país e para a melhora das perspectivas econômicas para os próximos anos.
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