Piscina de plástico
Se as pessoas tivessem mais viés probabilístico e menos sensibilidade para as ocorrências histriônicas, certamente seus resultados financeiros seriam muito melhores
É meio cafona, mas a verdade é que esta época do ano me bota mais comovido. Talvez seja o espírito de nascimento apontando novos e brilhantes horizontes à frente. Talvez seja só saudade da época em que comemorávamos com muita gente. Na dúvida, marquei um churrasco lá em casa no sábado para os poucos e bons, a turma que compunha o time de futebol de salão do São Luís.
Modéstia à parte, era um esquadrão. A gente ficou muito orgulhoso de um ano em que perdemos só um jogo em toda temporada — acho que foi 1999 ou 2000; o André sabe melhor essas coisas.
Tínhamos duas variações basicamente: Gordo no gol (saudades dele!), André de fixo, eu de ala mais recuado, Gustavo de ala avançado e Victinho no pivô. Ou, Gordo, eu de fixo, Gustavo de ala recuado, Rico de ala avançado e André no pivô.
Sempre preferi a segunda formação, mas, independentemente de qual fosse, algo nunca mudava: tínhamos um baita goleiro. O Gordo era uma parede — pelo apelido, talvez você possa supor que ele ocupava 120 por cento da área da baliza, transbordando as traves laterais e o travessão, mas não era isso, não. Era um goleiro muito técnico, só que ele tinha algo engraçado. Lembro dele berrando sob a trave: “Não deixa chutar.” “Não deixa a bola entrar no meio.” “Não deixa passar na diagonal.” “Não deixa entrar nas costas.”
Um dia virei pra ele e falei: “Pô, Gordo, desse jeito até eu vou no gol. Não pode chutar, não pode passar, não pode cabecear. Como é que a gente faz? Amarra os caras?”
Foi engraçado na hora e começamos a rir no meio do jogo. A partir dali, combinamos algo que viria a aumentar de maneira significativa nossa eficiência defensiva: deixaríamos sempre uma espécie de “espaço falso”, quase forçando, tacitamente, enquanto defendíamos, o adversário a levar a bola para o canto (nunca deixar espaço no meio); ali, eu marcaria o atacante fechando o bate na diagonal (canto oposto do goleiro), ao mesmo tempo em que o Gordo defenderia o próprio canto (“fica no seu canto! O cara vai bater aí.”). Se o atacante tentasse chutar na diagonal, seria bloqueado pela minha marcação; se sentisse espaço para o chute no outro canto, encontraria o Gordo muito bem posicionado.
Leia Também
Pode parecer papo saudosista, mas eu levei aquilo pra vida, incluindo minhas decisões corporativas e financeiras. A ideia central é: se você perguntar para o goleiro se o outro time pode chutar, é óbvio que ele vai responder que não. Se o Uber perguntar para a associação de taxistas se pode continuar operando, qual será a resposta?
Vale também para qualquer órgão regulador, que sempre será pressionado nos jantares de gala pelos representantes do status quo a regular (essa é a sua função, não?) qualquer nova iniciativa em prol da inovação.
Aqui na Empiricus, quando quero fazer algo diferente a turma vem me dizer assim: “pergunta pro jurídico se pode.” Cara, o jurídico sempre vai dizer que não pode — Tozo, eu te adoro, não fica bravo.
O recado mais geral é: esteja ciente de onde vêm as informações e as indicações, pois elas podem estar bastante enviesadas pelos próprios interesses ou por problemas de amostragem.
Noutro dia, amigo meu desistiu de abrir conta em corretora após consultar o “Reclame Aqui”. Segundo ele, viu reclamações muito contundentes e acabou desistindo. Bicho, o que o cidadão esperava encontrar no “Reclame Aqui”? Elogios? Isso vira um mapa errado, entendeu? Estamos diante de um caso clássico de problemas de amostra e viés de seleção: você olha um grupo específico e não representativo de toda a população e acaba concluindo erroneamente sobre aquela coisa.
Em outras palavras, o saliente sempre acaba se destacando mais frente ao estatístico. E isso ferra tudo. É o caso clássico do viés de disponibilidade: algo que salta aos seus olhos de maneira mais contundente acaba balizando suas conclusões, escapando-lhe o que é silencioso e, de fato, essencial.
A História da humanidade, por exemplo, é marcada por muito mais períodos de paz do que de guerras. Os livros didáticos, porém, só narram as guerras e isso nos traz a falsa impressão de que somos incapazes de viver em harmonia, leves e felizes.
Vale o mesmo argumento para a gestão de política econômica, que muitas vezes se sensibiliza com as demandas das minorias estridentes, esquecendo-se da maioria silenciosa.
Canonicamente, estamos diante do tal WYSIATI, taxonomia criada por Daniel Kahneman para descrever a ideia de "What You See Is All That Is", ou "O que você vê é tudo que existe". Ponderam-se muito fortemente as informações disponíveis, enquanto negligenciam-se as faltantes ou não salientes, já pulando para as conclusões.
O conhecimento de probabilidade das pessoas que trabalham no mercado financeiro é da profundidade da piscina de plástico que monto para o João Pedro no quintal da minha tia Eunice lá em Senhora do Porto. O que salta aos olhos não é necessariamente aquilo que representa a real distribuição daquela população.
Se as pessoas tivessem mais viés probabilístico e menos sensibilidade para as ocorrências histriônicas, certamente seus resultados financeiros seriam muito melhores.
O que é saliente neste momento?
Em linhas gerais, uma grande preocupação com os mercados internacionais. Mais especificamente, com a possibilidade de o Banco Central norte-americano continuar subindo sua taxa básica de juro e enxugando a liquidez global no processo de redução de seu balanço, num momento em que a economia dos EUA desacelera com um pouco mais de intensidade.
Ontem, o Federal Reserve elevou seu juro básico em 25 pontos-base, exatamente como esperado. Em paralelo, reduziu suas projeções para 2019 — antes, eram projetadas três elevações, agora são duas.
Embora tenha sido um clássico “dovish hike” (aumento de juro acompanhado de discurso mais moderado), o mercado não gostou. Queria algo mais e se sentiu particularmente desgostoso com o discurso de Jerome Powell, de que pretende continuar sem tergiversar na redução do balanço do Fed, mesmo diante de condições mais adversas agora. As economias europeias e asiáticas emitem sinais preocupantes, a relação comercial entre EUA e China é um risco importante, surgem alertas de possibilidade de recessão norte-americana em 2019 e Wall Street (assim como a bolsa japonesa agora) está em bear market em termos práticos.
Todo esse cenário tem pesado sobre ativos de risco nos últimos pregões, dominado as manchetes dos jornais e assustado investidores brasileiros, sejam eles institucionais ou pessoas físicas.
Não quero minimizar ou negligenciar os riscos vindos do estrangeiro. Mas também não podemos esquecer do pano de fundo silencioso de 2019. O ano — ao menos até aqui; num mundo que não entendemos e que caminha em grandes saltos súbitos, a ressalva “ao menos até aqui" é sempre importante — foi bastante bom para os ativos de risco brasileiros.
O Ibovespa sobe 12 por cento, por exemplo. As ações de Petrobras e Vale, veículos típicos da pessoa física brasileira, apresentam valorizações de, respectivamente, 40 e 30 por cento. Os papéis de Itaú também avançam quase 30 por cento. Tenho muito orgulho de dizer que a Carteira Empiricus, nossa publicação mais completa e a que eu mais indico aos leitores, caminha — de novo, "ao menos até aqui!", bate na madeira — para encerrar o ano com ganhos superiores a 200 por cento do CDI.
Também gostaria de salientar que, embora as perdas recentes causem desconforto, os mercados brasileiros têm se comportado de maneira comedida frente a outros emergentes e frente a Wall Street. Não há sinal de pânico e estamos a cerca de apenas 5 por cento do recorde histórico nominal para nosso principal índice de ações.
Prospectivamente, compartilho a preocupação com as dúvidas no cenário internacional e como uma eventual redução de liquidez num momento de desaceleração da economia pode nos afetar, mas também não posso esquecer do estágio inicial de nossa recuperação — nesses momentos do ciclo, ações tendem a ser uma classe de ativos vencedora.
Além disso, em momentos de pouca visibilidade e em que nós não sabemos nada sobre o futuro (só de segunda a domingo), resta uma coisa a se fazer: voltar-se aos níveis de preço e perseguir assimetrias. Coisas que estão bem baratas e têm qualidade, podendo cair pouco no cenário negativo e subir muito no caso positivo.
Uma heurística banal joga luz sobre a coisa: olhe para um determinado ativo e pergunte se ele tem mais chance de multiplicar por 2 ou cair pela metade. Eu consigo imaginar com alguma facilidade o Ibovespa a 170 mil pontos nos próximos anos, mas dificilmente conseguiria vê-lo a 43 mil.
O cenário internacional incerto pode trazer tiro, porrada e bomba em 2019. Isso não significa, porém, que mesmo sob maior volatilidade, não possamos acumular excelentes ganhos em ativos de risco brasileiros.
Enquanto todos querem agora teorizar sobre o futuro em seus relatórios de perspectivas para os investimentos em 2019, talvez seja a hora apenas de viver a realidade brasileira, focando-nos na fase do ciclo, nos valuations atrativos e na construção patrimonial de longo prazo, a despeito do prognóstico de maior vol lá fora. Ao final, os persistentes e pacientes serão silenciosamente os vitoriosos do ano.
Mercados iniciam a quinta-feira ainda digerindo a decisão da véspera do Banco Central dos EUA, demonstrando instabilidade internamente. Futuros de Wall Street seguem no vermelho, pressionados pela mesma preocupação de ontem.
Agenda do dia traz reunião do Banco Central da Inglaterra, atividade industrial norte-americana, pedidos de auxílio-desemprego e indicadores antecedentes, ambos nos EUA.
Por aqui, destaque para Relatório Trimestral de Inflação, além do imbróglio todo sobre tentativas de soltura do ex-presidente Lula.
P.S.: Atendendo ao pedido do João Pedro, gravei ontem mais um episódio do Blink para o Seu Dinheiro, o último antes do Natal.
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Na lista dos melhores ativos: a estratégia ganha-ganha desta empresa fora do radar que pode trazer boa valorização para as ações
Neste momento, o papel negocia por apenas 4x valor da firma/Ebitda esperado para 2025, o que abre um bom espaço para reprecificação quando o humor voltar a melhorar
“A bandeira amarela ficou laranja”: Balanço do Banco do Brasil (BBAS3) faz ações caírem mais de 2% na bolsa hoje; entenda o motivo
Os analistas destacaram que o aumento das provisões chamou a atenção, ainda que os resultados tenham sido majoritariamente positivos
A surpresa de um dividendo bilionário: ações da Marfrig (MRFG3) chegam a saltar 8% após lucro acompanhado de distribuição farta ao acionista. Vale a compra?
Os papéis lideram a ponta positiva do Ibovespa nesta quinta-feira (14), mas tem bancão cauteloso com o desempenho financeiro da companhia; entenda os motivos
Menin diz que resultado do grupo MRV no 3T24 deve ser comemorado, mas ações liberam baixas do Ibovespa. Por que MRVE3 cai após o balanço?
Os ativos já chegaram a recuar mais de 7% na manhã desta quinta-feira (14); entenda os motivos e saiba o que fazer com os papéis agora
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
A B3 vai abrir nos dias da Proclamação da República e da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios durante os feriados
Os feriados nacionais de novembro são as primeiras folgas em cinco meses que caem em dias úteis. O Seu Dinheiro foi atrás do que abre e fecha durante as comemorações
A China presa no “Hotel California”: o que Xi Jinping precisa fazer para tirar o país da armadilha — e como fica a bolsa até lá
Em carta aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a gestora Kinea diz o que esperar da segunda maior economia do mundo
Rodolfo Amstalden: Abrindo a janela de Druckenmiller para deixar o sol entrar
Neste exato momento, enxergo a fresta de sol nascente para o próximo grande bull market no Brasil, intimamente correlacionado com os ciclos eleitorais
O IRB Re ainda vale a pena? Ações IRBR3 surgem entre as maiores quedas do Ibovespa após balanço, mas tem bancão dizendo que o melhor está por vir
Apesar do desempenho acima do esperado entre julho e setembro, os papéis da resseguradora inverteram o sinal positivo da abertura e passaram a operar no vermelho
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Bitcoin (BTC) se aproxima dos US$ 90 mil, mas ainda é possível chegar aos US$ 100 mil? Veja o que dizem especialistas
A maior criptomoeda do mundo voltou a registrar alta de mais de três dígitos no acumulado de 2024 — com as profecias do meio do ano se realizando uma a uma
Compre China na baixa: a recomendação controversa de um dos principais especialistas na segunda maior economia do mundo
A frustração do mercado com o pacote trilionário da semana passada abre uma janela e oportunidade para o investidor que sabe esperar, segundo a Gavekal Research
Em ritmo de festa: Ibovespa começa semana à espera da prévia do PIB; Wall Street amanhece em alta
Bolsas internacionais operam em alta e dão o tom dos mercados nesta segunda-feira; investidores nacionais calibram expectativas sobre um possível rali do Ibovespa
Ações da Gerdau (GGBR4) e de sua controladora (GOAU4) saltam até 13% e lideram altas do Ibovespa na semana; Alpargatas (ALPA4) cai 9,5% após balanço
O balanço mais forte que o esperado da Gerdau provocou uma forte alta nos papéis, enquanto a Alpargatas recuou mesmo após reportar resultados positivos no trimestre
Investidor que fez R$ 250 mil em 2 dias revela método que possibilita renda extra diária na bolsa de valores
R$ 250 mil em 2 dias. Foi isso que o carioca Ricardo Brasil ganhou com ações da Hapvida (HAPV3) em 2018. Esse desempenho, de fato, não é para qualquer um. No entanto, esse resultado não é nem a ponta do iceberg da carreira bem-sucedida do investidor. Com uma experiência de mais de 20 anos de mercado financeiro, Ricardo Brasil […]
Selic sobe para 11,25% ao ano e analista aponta 8 ações para buscar lucros de até 87,5% ‘sem bancar o herói’
Analista aponta ações de qualidade, com resultados robustos e baixo nível de endividamento que ainda podem surpreender investidores com valorizações de até 87,5% mais dividendos