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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Vaivém na política confunde mercados

Estratégia “morde e assopra” do presidente dos EUA, Donald Trump, provoca idas e vindas no mercado, em um movimento constante de avaliação do cenário econômico

Olivia Bulla
Olivia Bulla
24 de maio de 2019
5:44 - atualizado às 6:15
Qualquer semelhança dessas idas e vindas na política com Brasília não é mera coincidência

O mercado financeiro já está acostumado com a estratégia “morde e assopra” do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. E o vaivém dos ativos de risco reflete essas idas e vindas da Casa Branca em relação à guerra comercial contra a China, em um movimento constante de avaliação e reavalição do cenário econômico - qualquer semelhança dessa percepção em relação ao governo Bolsonaro não é mera coincidência.

No exterior, hoje é a vez de alívio nos negócios, após o tom mais suave de Trump em relação à Huawei. A fabricante chinesa faria parte do acordo comercial que Washington ainda tenta costurar com Pequim. Há especulações de que o presidente dos EUA teria endurecido as regras, de modo usar tais restrições como barganha em negociações futuras.

Até por isso, Trump se disse “esperançoso” com o encontro que terá com o líder chinês Xi Jinping, durante a reunião do G-20, no Japão, no fim do mês que vem. Ele previu um “rápido final” para a guerra comercial, que já dura um ano, embora novas rodadas de negociações não estejam programadas.

Ainda assim, o tom mais suave de Trump serviu para amenizar o temor de que um acordo comercial entre as duas maiores economias do mundo poderia levar mais tempo do que o inicialmente previsto. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta firme, após uma sessão mista na Ásia, onde Hong Kong e Xangai ficaram de lado.

Na Europa, as bolsas pegam carona no sinal positivo vindo de Wall Street. Já nos demais mercados, o petróleo se recupera da maior queda diária do ano, registrada ontem, ao passo que o dólar está de lado. De alguma maneira, a cautela ainda prevalece nos negócios, com os investidores evitando ficar muito expostos ao risco.

Afinal, ao mesmo tempo em que Trump sinalizou que poderia facilitar as restrições contra a Huawei, ele afirmou que a empresa chinesa é “muito perigosa”, do ponto de vista da segurança nacional. Além disso, o Departamento do Comércio dos EUA estaria considerando taxar os países que desvalorizam suas moedas - em um claro movimento contra a China, acusada pela Casa Branca de manipular o renminbi. A administração também estaria discutindo com empresas e grupos da indústria como atualizar e redefinir os produtos na lista de controle de exportação.

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Agora é domingo

A aparente calmaria no front político em Brasília nesta semana, após o tsunami da semana passada, ajudou na melhora do mercado doméstico, apesar da maior aversão ao risco no exterior. Os investidores até estavam propensos a seguir no oba-oba desse alívio, mas às vésperas das manifestações de domingo, podem assumir alguma cautela hoje.

O fato é que o lado técnico do mercado ficou mais “limpo”, após a forte desvalorização do Ibovespa e do real na semana passada, quando o índice acionário perdeu os 90 mil pontos e o dólar superou os R$ 4,10. Esse movimento foi seguido de uma correção nos preços dos ativos, em meio à saída de investidores estrangeiros e à caça por pechinchas dos locais.

E não foi só o posicionamento técnico que melhorou. A disposição dos parlamentares em destravar a pauta de votações, avançando com várias medidas que corriam o risco de caducar, deixou a sensação de que pode haver disposição para aprovar a reforma da Previdência. Segundo Paulo Guedes, a aprovação no Congresso será em até 90 dias.

Apesar da “queda de braço” entre Executivo e Legislativo pela “paternidade” da agenda econômica e o protagonismo na condução das novas regras para aposentadoria, para o mercado doméstico pouco importa quem irá liderar este processo - desde que ele avance. Por isso, é grande a expectativa por novidades capazes de confirmar esse prognóstico.

IPCA-15 é o destaque do dia

A agenda econômica, enfim, ganha relevância e traz como destaque nesta sexta-feira a prévia da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) em maio. Apesar da esperada desaceleração do índice em base mensal, a 0,40%, a taxa acumulada em 12 meses deve ganhar força e atingir 5%, seguindo no maior nível para o período desde o início de 2017.

Os números efetivos serão divulgados às 9h e tendem a calibrar as apostas em relação ao rumo da taxa básica de juros neste ano. Apesar do anseio de boa parte do mercado financeiro pela retomada do ciclo de cortes na Selic, por causa do ritmo mais lento da atividade econômica, os preços mais salgados - sobretudo do lado da oferta (alimentos, combustíveis, energia elétrica) - e a valorização do dólar não autorizam o Banco Central.

Além disso, há dúvidas sobre a eficácia de eventuais novos pisos históricos dos juros básicos na economia, que vem sendo afetada pelas incertezas no lado fiscal e político do país. Com isso, os agentes econômicos vêm adiando decisões de investimentos, contratações e produção/estoque. O índice de confiança do setor do comércio neste mês, que sai às 8h, deve corroborar tal cenário.

Já no exterior, o calendário do dia segue mais fraco, trazendo números de abril sobre as vendas no varejo britânico e sobre os pedidos de bens duráveis nos EUA (9h30).

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