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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Mercado começa semana em ritmo lento

Expectativa pelas negociações comerciais entre EUA e China no mês que vem concentra atenção do mercado nos principais bancos centrais do mundo

Olivia Bulla
Olivia Bulla
23 de setembro de 2019
5:39 - atualizado às 9:04
Ata do Copom, Relatório de Inflação e reforma da Previdência em destaque por aqui

A última semana completa de setembro começa em ritmo lento no mercado financeiro, com os investidores mostrando cautela antes dos eventos programados para os próximos dias. As atenções por aqui se dividem entre os documentos que o Banco Central publica na terça e na quinta-feira, que podem calibrar o rumo da taxa básica de juros em direção a novas mínimas históricas, e a votação da reforma da Previdência no Senado, amanhã.

Para saber mais sobre o que vem por aí, leia em A Bula da Semana.

Já no exterior, a ausência de novidades sobre o encontro entre Estados Unidos e China no mês que vem mantém a cautela nos negócios. A notícia de que Washington isentou mais de 400 produtos chineses das tarifas é vista como mais um sinal de boa vontade por parte da Casa Branca. Mas é preciso sair do plano das intenções e alcançar um círculo de tomada de decisão entre os dois países para se chegar a um acordo comercial “completo”.

Por ora, não se sabe se essa boa vontade mostra fraqueza ou se reflete a ansiedade de um dos lados em chegar a um consenso. A única certeza é que a guerra comercial continua sendo o maior e principal foco de tensão no mercado financeiro, sendo que os ativos de risco oscilam ao sabor do noticiário sobre a disputa entre as duas maiores economias do mundo, provocando momentos de aversão e de apetite ao risco internacional.

Hoje, as bolsas chinesas encerraram a sessão em queda, em meio à tensão em relação à guerra comercial, ainda sob impacto da notícia de que a delegação chinesa cancelou visita a fazendeiros em Montana e Nebraska, a pedido dos EUA. Xangai e Shenzen caíram quase 1%, cada, enquanto Hong Kong recuou 0,8%. O feriado no Japão hoje esvaziou a sessão na região, com muitos investidores já atentos à longa pausa na China a partir da semana que vem.

No Ocidente, o sinal positivo tenta prevalecer entre os índices futuros da bolsas de Nova York, após Wall Street encerrar a semana passada com perda, interrompendo três semanas seguida de valorização. Porém, na Europa, o pregão abriu no vermelho. Nos demais mercados, o petróleo avança, apesar da alta do dólar frente às moeda rivais, em meio aos crescentes riscos geopolíticos entre EUA e Irã, após o ataque ao maior processador de commodity da Saudi Aramco no dia 14. O minério de ferro também teve alta firme.

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Fé no Fed

O fato é que enquanto não se tem um desfecho para a guerra comercial, o mercado financeiro deposita sua confiança nos bancos centrais, em especial no Federal Reserve, e na perspectiva de cortes nas taxas de juros pelo mundo para resgatar a economia da desaceleração econômica em curso e evitar uma recessão global. Por ora, nem o Fed nem os investidores acreditam em contração nos EUA - o que sustenta os mercados em topos históricos.

Essa crença do mercado financeiro é alimentada pelos contínuos ataques do presidente norte-americano, Donald Trump, ao Fed e, principalmente, ao chairman Jerome Powell. Ontem, Trump postou uma mensagem no Twitter defendendo taxa de juros negativa nos EUA e dizendo que o país deveria “pagar menos juros do que o outros”, em referências às taxas praticadas em vários países da Europa e da Ásia. Para Trump, juros mais baixo irão ajudar a impulsionar o crescimento econômico norte-americano.

Por isso, o mercado financeiro calibra as chances de um novo corte de juros nos EUA neste ano, após o Fed promover a segunda queda consecutiva, na semana passada. Merecem atenção os discursos dos presidentes das distritais do Fed em Nova York, John Williams, e de São Francisco, Mary Daly, hoje.

Olho no dólar

Enquanto Trump questiona a habilidade de Powell para “jogar o jogo bem”, no Brasil, o mercado financeiro acredita na capacidade de atuação do Banco Central para estimular a economia doméstica. Por isso, após o segundo corte consecutivo de meio ponto percentual na taxa básica de juros, na semana passada, já se fala em uma Selic abaixo de 5% até o fim do ano. Atenção, então, ao relatório Focus hoje (8h25).

O problema é que a queda da Selic em direção a novos pisos históricos tem elevado a pressão sobre o dólar. E uma depreciação adicional da moeda brasileira é algo extremamente negativo para a economia real. Os investimentos, por exemplo, podem ser adiados, já que não se sabe quando esse movimento de valorização do dólar termina.

Atento a isso, o BC atua para conter a volatilidade da moeda norte-americana, por meio de leilões de dólares à vista conjugado com ofertas de swap cambial reverso. Mas essa intervenção não foi capaz de promover uma recuperação firme do real brasileiro. Como resultado, o dólar é negociado acima de R$ 4,00 desde 16 de agosto (ou 26 pregões).

Enquanto isso, no Focus, a previsão para a taxa de câmbio segue ao redor de R$ 3,90 para este ano, ficando nesse patamar também no ano que vem. Portanto, também cabem ajustes a essas previsões. A nota do BC sobre o setor externo (10h30) em agosto pode dar pistas sobre o fluxo de recursos estrangeiros no país.

A questão é que os “gringos” estão retirando dinheiro do Brasil em busca de retornos mais elevados em outros lugares, tanto na via financeira quanto do lado produtivo. Já os dados semanais da balança comercial (15h) podem mostrar o impacto do real mais barato. No exterior, a segunda-feira reserva uma série de indicadores sobre a atividade nos setores industrial e de serviços (PMI) na zona do euro e nos EUA, ao longo da manhã.

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