Brasil com “P”
Previdência e Petrobras são temas que inspiram cautela dos investidores, após o estresse dos ativos brasileiros na última sexta-feira
A semana encurtada por um feriado na sexta-feira no Brasil e no mundo começa com a atenção do mercado doméstico concentrada em dois temas (que começam com a letra “p”): Previdência e Petrobras. É grande a expectativa pela votação do parecer da reforma nos próximos dias, mas muitas são as dúvidas sobre a aprovação da proposta na CCJ até quarta-feira, diante das disputas políticas (outro “p”) entre Legislativo e Executivo.
Além disso, os investidores monitoram o noticiário envolvendo a estatal petrolífera, após a decisão do presidente Jair Bolsonaro de suspender a elevação de 5,7% no preço do diesel. As ações da Petrobras caíram em torno de 8%, cada, na última sexta-feira, perdendo R$ 32 bilhões em valor de mercado e refletindo o aumento da incerteza em relação à política de preços da companhia (leia mais abaixo). Mas, segundo o ministro Paulo Guedes (Economia), “uma conversa conserta tudo”.
Mas não é apenas no campo econômico que tem ficado evidente a falta de traquejo do presidente. Durante o fim de semana, ele precisou se explicar ao povo judeu, pedindo desculpas em carta aos israelenses, ao mesmo tempo em que é classificado como persona non grata em Nova York, onde uma homenagem a ele no próximo mês no Museu de História Natural tem causado “profunda preocupação”.
Primeiro o mais vantajoso
Em meio a tantos reveses, em âmbito interno e externo, é praticamente certo que o Legislativo deve dar prioridade à pauta de interesse dos parlamentares para, depois, tratar da reforma da Previdência. O colegiado da CCJ reúne-se hoje (14h) para discutir a proposta sobre novas regras para aposentadoria, mas o debate deve ser adiado.
Deputados querem primeiro apreciar a proposta sobre o Orçamento impositivo, que engessa as contas do governo ao liberar as emendas. O tema deve ter livre trânsito na CCJ, sendo aprovado com rapidez e não deve ser essa apreciação que irá atrasar o andamento da Previdência. Tudo vai depender, então, do diálogo do governo com os partidos políticos para avançar a reforma para a próxima etapa, na comissão especial.
O Centrão, que estava disposto a barrar a proposta ainda na CCJ, disse que vai fechar questão a favor, desde que o Orçamento impositivo seja votado primeiro. Já a oposição pode continuar fazendo barulho, sem conseguir ir muito longe. Há chances, portanto, de votação do parecer da Previdência ainda nesta semana, mas o cronograma é apertado.
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As atividades no Legislativo começam amanhã e param no dia seguinte, uma vez que quinta-feira é ponto facultativo. Portanto, nem mesmo o calendário ajuda na tramitação da reforma no Congresso, com muitos feriados e festividades neste primeiro semestre, ao passo que o governo parece causar mais problemas do que a própria oposição.
“Dilmou”
Às incertezas sobre a tramitação da nova Previdência na Câmara soma-se o desconforto do mercado financeiro com a interferência do governo Bolsonaro na decisão da Petrobras de adiar o aumento do diesel. Os investidores, estrangeiros, principalmente, ficaram com uma sensação de déjà vu, já que a prática era comum no governo Dilma, represando o reajuste.
Houve, portanto, o receio de uma volta da política de controle de preços dos combustíveis. Por um lado, há quem critique a falta de sensibilidade da Petrobras, que anunciou de uma só vez uma reajuste de quase 6%, em meio a ruídos de nova greve dos caminhoneiros; por outro, há quem diga que ficou evidente a necessidade de privatização da estatal petrolífera.
Seja como for, o mal-estar com a política ficou generalizado. Tanto nas relações do Executivo com o Legislativo quanto na credibilidade do mercado financeiro no viés liberal do capitão reformado do Exército. Por ora, os investidores mantêm o benefício da dúvida e não embutiram nos ativos brasileiros um fracasso na agenda liberal-reformista do governo.
O voto de confiança se dá, basicamente, por causa do ministro Paulo Guedes. Ele voltou ontem ao Brasil e deve conversar hoje com o presidente (16h). Ainda assim, a piora no sentimento local com o cenário político pode começar a levantar suspeitas sobre quais são as chances de práticas intervencionistas do governo e de aprovação da reforma da Previdência neste ano.
Operando “no gogó”
Enquanto o mercado doméstico pode começar a revisar as expectativas embutidas nos preços dos ativos desde a definição das eleições presidenciais, em outubro do ano passado, o presidente norte-americano, Donald Trump, tenta calibrar as expectativas em Wall Street e disse que o mercado acionário poderia estar “5 a 10 mil pontos” mais alto, não fosse as altas nos juros promovidas pelo Federal Reserve.
Depois de “ajudar” o Fed a se convencer de que o ciclo de aperto monetário tinha ido longe demais em 2018, após quatro aumentos, Trump está destinado, agora, a fazer a autoridade reverter a política e iniciar um processo de corte de juros neste ano, com um novo programa de afrouxamento monetário, o que seria um “QE4”. E as declarações vindas da Casa Branca ocorrem em meio às escolhas de nomes para ocupar assentos vagos no Fed.
É válido lembrar que o principal índice acionário na Bolsa de Nova York, o Dow Jones, está muito próximo da máxima histórica, perto dos 27 mil pontos, com alta de 35% desde a eleição de Trump, em novembro de 2016. O outro índice acionário, o S&P 500, está a 1% do topo recorde. Mas para o presidente, essa valorização não é suficiente...
Porém, a reação em Wall Street à fala de Trump se dá em sentido oposto. Ao invés de animar os negócios, os investidores mostram preocupação com uma nova “interferência” de Trump na política monetária independente do Fed. Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água, com um leve viés negativo.
Por lá, os investidores estão à espera da divulgação de mais balanços trimestrais, com o Goldman Sachs e o Citigroup anunciando os números hoje. Amanhã, é a vez do Bank of America. Na Europa, as principais bolsas também sofrem para firmar uma direção, após uma sessão mista na Ásia, onde Tóquio subiu (1,4%), mas Hong Kong (-0,2) e Xangai (-0,3%) caíram.
Os dados de crédito na China reforçam os sinais de estabilização da segunda maior economia do mundo, somando-se aos números da balança comercial em março, enquanto os investidores aguardam novidades sobre a guerra comercial. Segundo o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, o progresso nas negociações continuam, “aproximando-se de uma rodada final para concluir as questões”.
China é destaque na agenda
Aliás, a agenda econômica desta semana traz como destaque dados de atividade na China, entre eles, o Produto Interno Bruto (PIB) do país nos três primeiros meses deste ano, na noite de terça-feira. Os números sobre a atividade (varejo e indústria) e os investimentos em ativos fixos em março, a serem conhecidos no mesmo dia, podem dar pistas sobre a intensidade da desaceleração da segundo maior economia do mundo no início de 2019.
No mesmo dia, pela manhã, saem o desempenho da produção industrial nos EUA em março e o índice de preços ao produtor brasileiro (IPP) em fevereiro. Aliás, o calendário doméstico está bem fraco nesta semana, sem destaques. Já nesta segunda-feira serão conhecidos o primeiro IGP de abril, o IGP-10 (8h), o índice de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br) e o relatório de mercado Focus, ambos às 8h30.
Essas divulgações merecem atenção por lançar luz sobre a expectativa em torno da recuperação econômica, em meio à perda de tração da atividade no início de 2019. Da mesma forma, destaque também para os índices preliminares sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro em abril, na quinta feira, diante da economia sem brilho na região da moeda única.
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