Mercado segue atento à agenda de reformas
Mercado financeiro se blinda da crise envolvendo o ministro Moro e se concentra no avanço da agenda de reformas no Congresso
O mercado financeiro se deu conta que o caso Moro não deve atrapalhar a tramitação de matérias importantes no Congresso, desde que o Centrão não se junte à oposição. Ontem, foi o caso da votação do crédito extra de cerca de R$ 250 bilhões ao governo, que foi aprovado em plenário após acordo. E amanhã pode ser a vez da reforma da Previdência, durante leitura do parecer na comissão especial, apesar da resistência dos Estados.
Enquanto a oposição prometia parar todas as pautas, falando em instalar uma CPI ou até convocar o agora ministro da Justiça, o Centrão preferiu seguir a tática dos parlamentares de adotar uma agenda própria do Legislativo, de modo a angariar os louros pela aprovação de medidas necessárias e urgentes ao país, como a do crédito extra. Ao fazer assim, o Centrão estaria ajudando a tirar o Brasil da crise, facilitando a reeleição dos envolvidos.
Ainda assim, pode haver algum efeito das mensagens vazadas sobre o pacote anticrime que tramita na Câmara ou mesmo na figura do ministro, que vem sendo preservado pelo Palácio do Planalto. Já os governadores se comprometeram em apoiar as novas regras para aposentadoria, contanto que sejam retirados da proposta o regime de capitalização, o BCP, a aposentadoria rural e mudança da regra de transição via maioria simples.
Com isso, o Ibovespa está gradualmente voltando ao topo histórico dos 100 mil pontos - mas hoje é dia de vencimento de índice futuro, ao passo que o dólar já voltou ao patamar de R$ 3,85 e pode testar novas mínimas se algo de mais concreto for aprovado no Congresso antes do recesso parlamentar, no mês que vem. Só resta saber se o Banco Central vai resistir à pressão (ou não) e reduzir a taxa básica de juros (Selic) em breve.
Lava Toga
Já no Judiciário, avolumam-se diferentes pedidos de habeas corpus que podem resultar na liberdade do ex-presidente Lula. Ontem, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deixou para o dia 25 o pedido da defesa do ex-presidente relacionado à suspeição do então juiz Sergio Moro no caso do triplex do Guarujá.
Depois, o colegiado decidiu discutir a execução automática da pena após condenação em segunda instância, o que beneficiaria não apenas Lula. A sessão, porém, foi encerrada e o tema deve ir a plenário. Nos bastidores, fala-se em uma estratégia do STF para aguardar fatos novos sobre as conversas vazadas entre Moro e a força-tarefa da Lava Jato.
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A operação colocou centenas de políticos e empresários na cadeia, mas a prisão do ex-presidente foi a mais polêmica, por acontecer às vésperas das eleições de 2018, quando ele liderava as pesquisas de intenção de voto. A prática inconstitucional entre acusador e julgador revelada pelas conversas vazadas sustentam a tese de que a condenação de Lula foi motivada politicamente, mas também tenta deslegitimar a investigação anticorrupção.
Protestos pesam no exterior
O mercado internacional deixa de lado o ambiente tranquilo, o que pode atrapalhar a tentativa dos negócios locais de alçar voos mais altos. Protestos em Hong Kong contra a lei que autoriza extradições para Taiwan e para a China continental bloquearam as principais avenidas do centro da cidade, atingindo em cheio o índice Hang Seng, que caiu 1,85%.
Xangai acompanhou o clima mais tenso e recuou 0,6%. Milhares de manifestantes cercaram os prédios do governo no centro e bloquearam o trânsito, exigindo a retirada do polêmico projeto de lei, apoiado por Pequim e que seria votado no Parlamento nesta quarta-feira. O debate foi adiado e não tem dada para ser analisado pelo Legislativo.
Enquanto o governo de Hong Kong diz que a ilha não deve ser um santuário para os criminosos chineses que esperam escapar da justiça no continente, os manifestantes insistem que Hong Kong não irá proteger os direitos dos cidadãos quando o governo chinês pressionar. Já no Ocidente, o sinal negativo prevalece diante das preocupações comerciais.
Os investidores avaliam se a retomada do apetite por risco não teria ido longe de mais, o que abre espaço para avanço de ativos tidos como mais seguros, como as Treasuries, o iene e o ouro. Nas bolsas, as principais bolsas europeias abriram em queda pela primeira vez em quatro sessões, após Wall Street interromper ontem uma sequência de seis ganhos.
Já o dólar está de lado, enquanto o petróleo cai 2,5%. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que não irá concluir um acordo com a China, a menos que Pequim volte aos termos da negociação no início do ano. Sem garantia de que haverá um encontro entre Trump e o líder chinês, XI Jinping, na reunião do G20 no fim deste mês, as tensões comerciais continuam a alimentar incerteza nos mercados. No entanto, a crescente chance de corte na taxa de juros norte-americana pelo Federal Reserve serve de contraponto.
Enquanto digerem o discurso do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, os investidores também reagem aos dados de inflação na China, que foram pressionados pelo choque de oferta de alimentos, que pode ser temporário. O índice de preços ao consumidor chinês (CPI) subiu 2,7% em maio, em base anual, enquanto os preços ao produtor aceleraram 0,6%. Ambos vieram dentro do previsto
Varejo no Brasil e inflação nos EUA em destaque
Já a agenda econômica desta quarta-feira traz como destaque os dados da vendas do varejo brasileiro em abril (9h). A expectativa é de ligeiro crescimento em relação a março, de 0,3%, em meio às compras de alimentos para a comemoração da Páscoa, apesar do desemprego elevado no país e da renda mais baixa.
O efeito calendário também deve favorecer um resultado positivo no confronto anual, +3,00%, já que a data foi celebrada no ano passado em março. Ainda no calendário doméstico, às 12h30, o Banco Central divulga os dados sobre a entrada e saída de dólares no país no início de junho.
Já no exterior, merece atenção o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI) em maio (9h30). A previsão é de leve avanço de 0,2%, em base mensal, com o núcleo do indicador, que exclui alimentos voláteis, acelerando a 0,2%, após oscilar em alta 0,1% por três meses consecutivos.
Ainda assim, os números tendem a mostrar que a economia dos EUA começa a se ressentir da piora das condições de consumo por causa da guerra comercial. Um menor dinamismo da atividade combinado com baixa pressão inflacionária estimulam apostas de corte de juros pelo Federal Reserve ainda este ano, já a partir do segundo semestre.
Também na agenda norte-americana, saem os estoques semanais de petróleo bruto e derivados nos EUA (11h30), além do orçamento do Tesouro (15h).
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